"Abri a porta, botei a cabeça para dentro e respirei aquele ar", conta Ingrid. Ela teve intoxicação e queimaduras nas vias áreas e ficou 9 dias internada.
Funcionária da boate Kiss escapa da tragédia ao respirar ar do freezer
Nesta semana, 47 pacientes tiveram alta. Um deles foi a estudante Ingrid, que trabalhava no bar da boate. Ela se salvou com um gesto desesperado: para respirar, abriu o freezer em busca de ar puro.
Quarta feira, 6 de fevereiro. Depois de nove dias internada, Ingrid finalmente sai do hospital em Porto Alegre. O primeiro encontro é com o pai. Depois, descanso na casa da tia, onde ela recebe forças para retomar a rotina.
Ingrid estava na boate Kiss, em Santa Maria (RS), na madrugada de 27 de janeiro, durante o incêndio. Ela teve intoxicação e queimaduras nas vias aéreas. Por isso, é uma alegria poder voltar a um velho hábito: tomar chimarrão.
O Fantástico acompanhou as últimas horas da Ingrid em Porto Alegre. Ela já está com as malas prontas para voltar para Santa Maria, onde estuda enfermagem. Para pagar as próprias despesas, Ingrid trabalhava no bar da boate Kiss. Só se salvou porque teve uma reação muito rápida, uma idéia surpreendente que deu certo.
Ela atendia clientes em um dos bares da área vip, em frente ao palco onde acontecia o show. Ao perceber o incêndio, se apressou para avisar as colegas que estavam no caixa. Quando tentou sair, foi engolida pela fumaça.
“Eu meio que tonteei. No que eu tonteei, eu meio que caí para trás e bati com a mão no freezer. Eu sei que me deu um estalo e eu pensei - o freezer. É o único lugar que tem ar. Eu abri a porta do freezer, botei a minha cabeça pra dentro e respirei aquele ar que tava completamente gelado”, conta.
A jovem tomou fôlego, cobriu o nariz e a boca com a roupa e procurou a saída. Na fuga, algumas pessoas tropeçaram. Quem vinha atrás caiu sobre os que estavam no chão. “Caí e caíram por cima de mim. Aí que veio meu anjo. Ele tentou me puxar uma vez, duas, ele não conseguiu. Eu olhei pro rosto dele e ele olhou para mim, agarrou minhas duas mãos com tanta força que me deu forças. Ele me agarrou, e eu segurei a mão dele, ele deu dois, três puxões e me arrancou daquilo. No momento que ele me tirou, eu virei de frente para o que eu tinha acabado de sair. E foi a pior cena que eu já vi na minha vida até hoje”, lembra Ingrid.
O médico intensivista José Augusto Santos Pellegrini explica que, junto com a fumaça, partículas incandescentes entram nas vias aéreas durante um incêndio. Por isso, quando respirou o ar de dentro do freezer, Ingrid evitou queimaduras internas mais graves.
“Acredito que ela deve ter ventilado, respirado algumas vezes dentro daquele freezer, porque ali havia ar um pouco mais puro, digamos assim”, aponta o médico.
Na volta para Santa Maria, muita emoção no reencontro com os amigos. No meio da festa, um mistério continua. Quem terá sido o anjo, o rapaz que resgatou Ingrid da boate? “Eu quero encontrar ele, eu quero agradecer, eu preciso abraçar, eu preciso dizer para ele, porque sem ele, nada do que fiz lá dentro teria valido”, diz a estudante
Esse anjo deu a Ingrid a chance de continuar, de concluir o curso de enfermagem e seguir a vocação para ajudar pessoas que enfrentam momentos tão difíceis quanto os que ela mesma viveu.
“Eu sei que eu preciso estar forte pra ajudar muita gente. Então é isso que está me fazendo erguer a cabeça, lutar e dizer assim: ‘não, peraí, se Deus me manteve aqui é porque ele tem um plano pra mim e que eu vou ajudar muita gente’”, aponta Ingrid.
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