Instrutor de voo conta que ouviu confissão dias antes da morte. Defesa tentou colocar em xeque amizade entre testemunha e vítima.
Pai disse que Rugai era perigoso e relatou roubo, diz testemunha
Ao chegar ao fórum, Gil Rugai se disse inocente.
(Foto: Adriano Lima/Brazil Photo Press/Estadão
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O instrutor de voo Alberto Bazaia Neto foi ouvido por cerca de uma hora e quarenta minutos nesta terça-feira (19), segundo dia do julgamento do ex-seminarista Gil Rugai, acusado de matar o pai e a madrasta em 2004 em São Paulo.
Ele declarou que Luis Carlos Rugai, pai do réu, lhe falou dias antes de ser morto que o filho o havia "roubado" e era "perigoso".
A testemunha foi a quarta da acusação a ser ouvida desde que o júri começou, na segunda-feira (18). Defesa e acusação chegaram a bater boca e os advogados do réu tentavam desqualificar o piloto, ao citar aos jurados processos nos quais a família de Bazaia Neto foi indagada sobre tráfico de drogas.
"Quando pousamos em Sorocaba, esperando o abastecimento da aeronave, Luis falou que o filho o havia roubado. "Meu filho me roubou", foi o que ele me disse", declarou o instrutor Bazaia Neto, de 29 anos.
Para a Promotoria, Gil Rugai matou Luis e Alessandra Troitino a tiros porque seu pai descobriu que o filho havia desviado dinheiro da produtora de filmes do qual era dono. "Ele falou que o filho lhe confessou que roubou a empresa. Então decidiu que Gil deveria deixar a casa onde morava com o pai, que dissesse se mais alguém estava envolvido e quais providências para repor o dinheiro desviado. Algo em torno de R$ 20 mil. Caso não fizesse isso, colocaria Gil Rugai na cadeia", relatou a testemunha.
Segundo a acusação do Ministério Público, Gil desviou mais de R$ 100 mil da produtora do pai.
A testemunha também confirmou a informação do Ministério Público que ouviu do empresário que Gil Rugai era perigoso. "Ele [Luis] falou que Gil era uma pessoa muito inteligente, bom de conversa e conseguiria facilmente convencer as pessoas na conversa. Ele disse: "ele é um menino perigoso"."
As conversas entre o piloto e o pai do acusado ocorreram por três vezes, na quarta-feira, no sábado e no domingo, dia 28 de março, quando ocorreu o crime que vitimou Luis e sua mulher, Alessandra Troitino. Segundo Bazaia Neto, Luis lhe disse à época que o filho não sabia explicar direito porque havia fraudado a produtora.
"Luis disse que Gil falou assim ao ser questionado: "pai, eu não sei o que está acontecendo. Só sei que eu tenho a vontade de te f.", disse a testemunha. "Filho é f. Filho é complicado", teria dito Luís, segundo Bazaia Neto ao falar de problemas com os filhos. "Até com problemas de drogas".
A testemunha de acusação afirmou que Luis lhe confidenciou que Gil assumiu que havia pego dinheiro e que havia feito tudo sozinho. Disse ainda que os filhos não se davam com a mulher.
A defesa de Gil tentou colocar em xeque a proximidade entre Alberto e o pai de Gil Rugai e destacou que o instrutor de voo se contradisse sobre o tempo de amizade com Luís. Num depoimento pouco após o assassinato, disse cerca de um mês, e nesta terça, cerca de três meses. Em seguida, mostraram uma reportagem sobre apreensão de drogas no aeroclube em Itú, onde a família Bazaia dá aulas de voo.
Durante os questionamentos da defesa, o promotor Rogério Leão Zagallo protestou, dizendo que a defesa estava insinuando que a família de Bazaia estava envolvida com o tráfico de drogas das Farc . Houve discussão entre advogados de defesa e de acusação. "Nojento, Nojento", bradou o advogado Ubirajara Mangini, assistente da acusação, para Thiago Anastácio, defensor de Gil Rugai. "Nojento é o senhor", respondeu Anastácio.
Questionado após o júri, o advogado Marcelo Feller, chegou a dizer à imprensa, após o depoimento de Bazaia, que iria anunciar dois nomes de suspeitos de terem matado o casal. Sem dizer nomes, afirmou que Luis chegou a fazer filmagens do avião que pilotou dias antes de ser morto.
Gil alega inocência
Ao chegar ao fórum para este segundo dia de julgamento, o réu reafirmou que é inocente. "Eu não matei. Sou inocente", disse.
Neste segundo dia, também será ouvido o delegado Rodolfo Chiarelli, que presidiu o inquérito que investigou o caso, como testemunha de acusação. Em seguida, estão previstas o depoimento de ao menos nove testemunhas da defesa e, por último, mais uma do juízo.
O advogado de Gil, Marcelo Feller, considerou o primeiro dia de julgamento uma batalha ganha. Ainda tem toda uma guerra pela frente para ser enfrentada". Feller afirmou que a defesa deverá apresentar nesta terça-feira um dos dois suspeitos que para ele cometeu o crime. A defesa pretende nomear o suspeito durante o depoimento do delegado Chiarelli. "Ele [o delegado] será questionado sobre linhas de investigação que não seguiu".
Ao chegar ao fórum, o advogado Ubirajara Mangini K. Pereira, assistente de acusação do promotor Rogério Leão Zagallo no julgamento, questionou a estratégia da defesa de apresentar suspeitos para o crime durante o julgamento. "Nunca apareceram outros suspeitos no processo. Já deveria ter aparecido. Chegar agora e falar que tais pessoas são acusadas, acho que isso é um blefe".
Casa onde ocorreu crime em Perdizes,
na Zona Oeste (Foto: Arquivo/Kleber Tomaz/G1)
O julgamento
Desde segunda até a tarde desta terça-feira (19), foram ouvidas as cinco testemunhas de acusação. A previsão do juiz Adilson Paukoski Simoni é que o julgamento termine até sexta-feira (22).
A primeira testemunha foi o homem que trabalhava como vigia na rua onde o crime ocorreu. Ele confirmou ter visto o réu saindo da casa junto com outra pessoa na noite de 28 de março de 2004.
Na sequência, o perito Daniel Romero Munhoz, professor de medicina legal, confirmou que o réu tinha uma lesão no pé após o assassinato de seu pai e de sua madrasta. A testemunha, porém, evitou apontar o que causou tal machucado.
O terceiro a depor foi o perito criminal Adriano Iassmu Yonamine. Ele disse que a perícia apontou “a presença inequívoca de Gil Rugai” no local do crime. O réu, segundo o perito, teria desferido um chute que arrombou a porta de uma sala de TV, na qual Luiz Carlos Rugai teria se refugiado para evitar ser morto. “Não resta dúvida que o chute foi desferido pelo réu.”
O instrutor de voo Alberto Bazaia Neto foi ouvido por cerca de uma hora e quarenta minutos nesta terça-feira (19). Ele declarou que Luis Carlos Rugai, pai do réu, lhe falou dias antes de ser morto que o filho o havia "roubado" e era "perigoso".
Nesta tarde é ouvido o delegado Rodolfo Chiarelli, que presidiu o inquérito que investigou o caso. Em seguida, estão previstas o depoimento de ao menos nove testemunhas da defesa e, por último, mais uma do juízo.
Caberá a sete jurados – cinco homens e duas mulheres, escolhidos por sorteio - decidirem, a partir das provas da acusação e da defesa, se Gil Rugai matou ou não pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta Alessandra de Fátima Troitino. Além do homicídio, o réu também é acusado de estelionato. O processo tem 19 volumes, com 200 folhas cada um. Recentemente, a defesa acrescentou 1,8 mil folhas com provas que atestariam que o estudante não cometeu o crime.
O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, responde ao processo em liberdade, mas já chegou a ficar preso por dois anos.
O que alegam defesa e acusação no caso Gil Rugai | ||
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Defesa | Acusação | |
Horário do crime | Disparos foram entre 21h54 e 22h13, quando ele estava no escritório dele, longe da cena do crime. Ligações telefônicas comprovam álibi | Tiros ocorreram entre 21h15 e 21h30, quando Gil Rugai não comprovou onde estava e não apresentou álibi |
Motivo do crime | Relacionamento de Gil Rugai com pai e madrasta era bom e não houve desfalques financeiros na empresa | Desviou mais de R$ 100 mil da produtora do pai, que o expulsou de casa |
Pegada na porta | Borrão não é do estudante, que não teria força suficiente para arrombá-la | Polícia Técnico-Científica concluiu que borrão na porta arrombada da residência das vítimas era do estudante. Praticante de artes marciais, teria força para derrubar a porta, segundo um de seus professores de jiu-jitsu. Radiografia no pé do réu mostrou que ele teve fissura na região compatível com golpe aplicado na porta |
Arma do crime | Polícia Civil ‘plantou’ a pistola, ameaçou testemunhas e ‘mexeu’ na cena do assassinato para incriminar Gil Rugai | Pistola PT 380 foi encontrada na caixa de retenção de água pluvial do prédio onde o acusado mantinha escritório da sua produtora |
Crime
O casal foi morto com 11 tiros na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil Rugai responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, em valores da época, à empresa do pai. Razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ‘Referência Filmes’.
O julgamento de Gil Rugai já foi adiado por duas vezes, em 2011 e 2012, por causa de pedidos da defesa, que solicitou à Justiça a realização de um novo exame de DNA do sangue recolhido na cena do crime e do acusado. Além disso, pediu esclarecimentos de um perito.
Apesar de o vigia relatar ter visto Gil Rugai e uma outra pessoa não identificada saírem juntos da casa das vítimas na noite do crime, a Polícia Civil, só conseguiu apontar o estudante como o principal e único suspeito pelos assassinatos. A única pessoa investigada como suposta comparsa de Gil Rugai foi Maristela Greco, mãe do estudante. Mas como ela apresentou um álibi que convenceu os investigadores e foi descartada a participação dela no crime.
Em entrevista ao Fantástico em 2004, Gil Rugai negou ter matado as vítimas. "Nunca conseguiria fazer isso. Nunca conseguiria matar uma pessoa, imagina, é absurdo", disse o estudante naquela ocasião.
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