Rodolfo Chiarelli presidiu o inquérito que investigou o crime em 2004. Defensores disseram que há envolvimento de traficantes nos assassinatos.
Polícia: "Todas as provas incriminam Gil"
O delegado Rodolfo Chiarelli, que investigou Gil Rugai em 2004 pela morte do seu pai e da sua madrasta , voltou a acusar na tarde desta terça-feira (19) o estudante de ter assassinado a tiros Luis Carlos Rugai e Alessandra Troitino. “Todas as provas incriminam o Gil Rugai”, afirmou a testemunha, a quinta e última arrolada pela acusação.
O julgamento do réu começou na segunda-feira (18) com o depoimento de três testemunhas: um vigilante, um médico e um perito. “Não tenho nenhuma dúvida [de que Gil Rugai matou o casal]”, disse Chiarelli. Segundo o delegado, todos os familiares do acusado jamais disseram o nome de outro suspeito pela morte do casal. As afirmações foram ditas ao promotor Rogério Leão Zagallo, durante uma hora e meia.
Questionado pelo promotor, Chiarelli negou que tenha forçado o vigia da rua a apontar Gil Rugai como o homem que viu saindo da casa onde moravam Luis e Alessandra. O promotor questionou ainda o delegado sobre a qualidade do seu trabalho. "Fizemos inúmeras diligências. Muitas pessoas foram ouvidas. Apuramos dezenas de denúncias anônimas", disse o delegado.
No fim da tarde, um jurado se sentiu mal e pediu para sair do plenário por alguns instantes. O júri foi interrompido por cerca de meia hora e retomado depois do retorno do jurado.
Tráfico
Pela manhã, após o depoimento do instrutor de voo, os advogados de defesa de Gil Rugai reclamaram do fato de a polícia não ter apurado com afinco uma possível ligação do tráfico de drogas com o crime. O advogado Thiago Anastácio afirmou que Luis Rugai fazia aulas de voo em um aeródromo em Itu, no interior paulista, e que o local é ponto de entradas de drogas no Brasil. Luis fazia filmagens da aula e, consequentemente, do local onde ocorreria o tráfico de drogas.
O promotor Rogério Leão Zagallo aproveitou o tema levantado pela defesa para questionar o policial sobre outras hipóteses na época do crime. Chiarelli respondeu que ninguém, entre os familiares de Gil ouvidos, apontou à época outra pessoa ou causa que indicassem outra linha de investigação para o crime.
Chiarelli contou que durante a investigação, a arma usada no crime foi encontrada numa caixa coletora de águas pluviais do prédio onde Gil tinha escritório, na Rua José Maria Lisboa. Dez cápsulas encontradas na casa onde houve o crime bateram com a arma, segundo perícia.
O delegado afirmou que nos depoimentos Gil sempre afirmava que tudo era "mentira", como por exemplo a questão do estelionato (por ter falsificado assinaturas do pai em cheques) e também o fato apontado por seu sócio de que havia visto uma arma no escritório e que depois do crime a arma havia desaparecido. "Ele negou a autoria."
O crime ocorreu em março de 2004. Durante as investigações, a polícia apontou apenas Gil Rugai como suspeito. Antes dos dois dias do julgamento, o réu negou ter sido o autor do duplo homicídio.
O advogado de defesa Macelo Feller também reforçou a hipótese de envolvimento de traficantes no crime e pediu investigações. "Acredito que existem coisas importantes que aconteceram na época, como o próprio fato de ter tido aulas de voos em lugar bastante suspeito, um lugar que é citado pela CPI do Narcotráfico como um ponto de chegada e saída de drogas do Cartel de Cáli, o que causou espantos. Membros do Gaerco há anos tem essa informação", disse.
"A questão é que encontraram quase 400 gramas de drogas, mais especificamente maconha, dentro do forro do quarto de Luiz Rugai e Alessandra. Eles eram traficantes?. Muito provavelmente não. São vitimas, eles eram usuários e essa informação existe no processo desde sempre. Luis Rugai estava filmando suas aulas, ou seja, ele angariou imagens do que acontecia no aeródromo. Quando que souberam de suas imagens? Um dia antes de sua morte", afirmou Feller.
O julgamento
Desde segunda até a tarde desta terça-feira (19), foram ouvidas as cinco testemunhas de acusação. A previsão do juiz Adilson Paukoski Simoni é que o julgamento termine até sexta-feira (22).
A primeira testemunha foi o homem que trabalhava como vigia na rua onde o crime ocorreu. Ele confirmou ter visto o réu saindo da casa junto com outra pessoa na noite de 28 de março de 2004.
Na sequência, o perito Daniel Romero Munhoz, professor de medicina legal, confirmou que o réu tinha uma lesão no pé após o assassinato de seu pai e de sua madrasta. A testemunha, porém, evitou apontar o que causou tal machucado.
O terceiro a depor foi o perito criminal Adriano Iassmu Yonamine. Ele disse que a perícia apontou “a presença inequívoca de Gil Rugai” no local do crime. O réu, segundo o perito, teria desferido um chute que arrombou a porta de uma sala de TV, na qual Luiz Carlos Rugai teria se refugiado para evitar ser morto. “Não resta dúvida que o chute foi desferido pelo réu.”
O instrutor de voo Alberto Bazaia Neto foi ouvido por cerca de uma hora e quarenta minutos nesta terça-feira (19). Ele declarou que Luis Carlos Rugai, pai do réu, lhe falou dias antes de ser morto que o filho o havia "roubado" e era "perigoso".
Nesta tarde é ouvido o delegado Rodolfo Chiarelli, que presidiu o inquérito que investigou o caso. Em seguida, estão previstas o depoimento de ao menos nove testemunhas da defesa e, por último, mais uma do juízo.
Caberá a sete jurados – cinco homens e duas mulheres, escolhidos por sorteio - decidirem, a partir das provas da acusação e da defesa, se Gil Rugai matou ou não pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta Alessandra de Fátima Troitino. Além do homicídio, o réu também é acusado de estelionato. O processo tem 19 volumes, com 200 folhas cada um. Recentemente, a defesa acrescentou 1,8 mil folhas com provas que atestariam que o estudante não cometeu o crime.
O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, responde ao processo em liberdade, mas já chegou a ficar preso por dois anos.
Ao chegar ao fórum, Gil Rugai voltou a negar o
crime. (Foto: Adriano Lima/Brazil Photo
Press/Estadão Conteúdo)
Crime
O casal foi morto com 11 tiros na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil Rugai responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, em valores da época, à empresa do pai. Razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ‘Referência Filmes’.
Contra o réu, a Promotoria diz ter como provas: a arma do crime, achada no prédio onde Gil Rugai mantinha um escritório e uma pegada na porta da casa das vítimas que foi arrombada pelo assassino. Quem acusa é o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo.
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