Jovem teve contrações e foi à maternidade pública de Mauá para dar à luz. Após cesariana, médicos disseram que não encontraram bebê algum e que suagravidez havia sido psicológica
Jovem diz que filho sumiu após parto; hospital fala em gravidez psicológica
No dia 26 de dezembro de 2012, a ajudante de cozinha Layane Cardozo Santos, 19 anos, disse que sentiu fortes dores abdominais e apresentou sangramentos em plena 39ª semana de gestação, segundo ela. Na ocasião, foi até a Santa Casa de Mauá, na Grande São Paulo, onde foi levada à sala de cirurgia para dar à luz. Ao acordar da cesariana, porém, recebeu uma notícia inacreditável: os médicos disseram que não encontraram bebê algum e que sua gravidez havia sido psicológica.
Naquele dia, ela acordou com cólicas e foi à maternidade por volta das 8h. Após fazer exame de toque, foi instruída a voltar mais tarde. O retorno aconteceu às 13h, quando estava com sangramentos. Depois de novos exames, foi orientada mais uma vez a voltar em outra hora. “Eles diziam que eu não tinha dilatação e que as salas [de parto] estavam todas lotadas”, disse Layane à CRESCER.
De volta ao hospital, às 14h30 do mesmo dia, ela foi encaminhada ao exame de cardiotoco, que mede a frequência cardíaca do bebê. Segundo ela, os batimentos estavam a 140 por minuto. O médico disse, então, para que fosse para casa preparar sua mala e voltasse ao local para o procedimento.
Às 18h, Layane retornou acompanhada da mãe, da sogra, do sogro e do marido, o serralheiro Lourival Alves Junior, 28 anos. O turno dos profissionais havia mudado e o médico que a atendeu neste momento foi outro. Na sala de pré-parto, Layane pediu para que chamassem seu marido para assistir ao nascimento do filho.
“Quando me deitei, o médico disse que ia aplicar uma anestesia. Achei normal. Mas, a partir daí, não me lembro de nada. Apaguei completamente, perdi todos os sentidos”, contou.
Quando a jovem acordou, Lourival deu a notícia: não havia bebê na barriga dela. Desesperada, ela pediu para falar com o médico, que disse que a encaminharia a um psicólogo, pois sua gravidez havia sido psicológica.
Após a recuperação, Layane, ainda em estado de choque, foi à recepção para retirar o exame de cardiotoco feito horas antes da cirurgia, mas o hospital se recusou a entregá-lo. A família toda, então, foi à delegacia para registrar um boletim de ocorrência, mas a pessoa que os atendeu afirmou que não poderia fazê-lo, pois não havia evidência de nenhum crime no caso.
Nos dias seguintes, Layane começou a procurar um advogado. Ela contratou Leila Salomão, com quem fez o B.O. no 1º DP de Mauá no dia 9 de janeiro.
A jovem contou ter realizado o acompanhamento dos nove meses de gestação (incluindo todos os exames do pré-natal) em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) local, sendo que no último ultrassom, feito na 37ª semana, seu bebê estava sentado em posição pélvica, pesava 3,4 quilos e media 42 centímetros. Era uma menina e se chamaria Sofia. Para que pudessem receber bem a criança, ela e o marido tinham mudado de casa, de Ribeirão Pires para Mauá, onde conseguiram alugar um espaço maior.
“Não consigo entender o que aconteceu. Não quero acusar o hospital, mas não acho possível que essa gravidez tenha sido psicológica, tenho todos os ultrassons que comprovam a existência de um bebê. Algum erro muito grave aconteceu, ou da parte deles ou da parte dos médicos que fizeram meu pré-natal, e é isso que preciso descobrir”, disse. “Um dos médicos da maternidade disse que não reconhece a assinatura dele nos exames, mas não teria por que eu falsificar documentos e inventar uma história dessas. Jamais levaria isso adiante se não fosse verdade”, completou.
Em nota, representantes da Santa Casa de Mauá disseram que o útero da paciente era “de tamanho normal e compatível com o de uma mulher não grávida” e que fizeram “ultrassom, beta HCG e radiografia abdominal para comprovar a inexistência da gestação”. Por fim, afirmam que “no intuito de preservar a paciente, se reservam o direito de somente apresentar tais exames e resultados no momento oportuno”.
A prefeitura da cidade abriu uma sindicância para apurar o caso. Publicada no Diário Oficial do dia 6 de fevereiro, a Portaria criou uma comissão, composta por sete funcionários internos, para “apurar possíveis responsabilidades e irregularidades no atendimento da paciente”. O prazo estabelecido para conclusão da sindicância, que pode ser prorrogado, é de 30 dias. Enquanto isso, Layane segue a sua vida esperando por respostas...
Muitas pessoas ainda não acreditam, mas a gravidez psicológica existe, sim. De acordo com o Eduardo Zlotnik, obstetra do Hospital Albert Einstein (SP), a mulher pode estar tão ansiosa para engravidar que se convence disso, fazendo seu corpo passar por dois fenômenos diferentes: a interrupção da menstruação e o crescimento da barriga – acontecimentos que são bastante difíceis para a medicina explicar.
Segundo ele, porém, o quadro é diagnosticado assim que a paciente inicia o acompanhamento pré-natal, em que os médicos têm que escutar o coração do bebê. “Pode acontecer de eles confundirem os batimentos da mulher com o de um bebê e se equivocarem, mas isso é muito raro. E, mesmo que aconteça, o erro não vai se repetir nos meses seguintes”, disse.
O especialista explicou também que o ultrassom positivo é outra prova definitiva de que a mulher está grávida. “Se a paciente faz o ultrassom quando solicitada e nele se verifica a presença de um bebê, então ele de fato existe. Não tem como errar aqui”. Em entrevista à CRESCER, Layane disse ter todos os ultrassons comprovando o crescimento de sua filha.
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