Ivo Meirelles nega ligação com morte
Depois de cinco horas de depoimento na Divisão de Homicídios (DH) na Barra da Tijuca, na tarde desta quinta-feira, o presidente da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, Ivo Meirelles, afirmou não ter nenhum envolvimento no assassinato do traficante Acir Ronaldo Monteiro da Silva, o 2K, ocorrido no último domingo no Recreio dos Bandeirantes:
- Esse rapaz era traficante, todo mundo sabia disso. Eu não sou traficante. E o fim de traficante é esse: ou é preso ou morto.
Ivo Meirelles, prestou esclarecimentos no iinquérito que apura três assassinatos que aconteceram nos últimos dias (dois deles na própria comunidade da Mangueira) que teriam relação com a sucessão na presidência na escola de samba, confirmou ainda que vários de seus colaboradores da direção da escola, uma das mais tradicionais do carnaval do Rio, tiveram que deixar o morro por terem sofrido ameaças de morte.
- Me parece que na Mangueira estão dizendo que eu tenho alguma participação na morte do 2K. E o que está havendo lá agora é uma caça às bruxas.
Segundo ele, pelo menos 20 pessoas ligadas à sua administração, como o GLOBO revelou nesta quinta-feira, tiveram que realmente deixar a comunidade temendo por suas vidas.
- O Alan (um dos mortos) não era nem segurança. Ele trabalhava como controlador de acesso aos camarotes. E o outro era ritmista. Nenhum deles tinha ligação com o tráfico.
Ivo Meirelles disse ainda que entre os ameaçados há de passistas até office-boy. Com relação à quebra dos sigilos bancário de suas contas e de contas da Mangueira, ele disse ter recebido a notícia com indignação. O presidente da Mangueira afirmou ainda que foi à DH espontaneamente após ser convidado por um policial da unidade.
De acordo com o delegado titular da DH, Rivaldo Barbosa, o presidente da Mangueira foi chamado a prestar esclarecimentos, pois em abril do ano passado 2K e outras quatro pessoas supostamente ligadas ao tráfico na comunidade teriam invadido a quadra da escola, dando ordens para que Ivo abandonasse a disputa eleitoral na agremiação. A 17ª DP (São Cristóvão) instaurou ainda outro inquérito para identificar os responsáveis pelo fechamento do comércio da Mangueira no início da semana em luto pela morte de traficantes. Segundo a polícia, comerciantes que fecharam as portas serão chamados para prestar esclarecimentos.
Pacificado há mais de um ano, o Morro da Mangueira, berço de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, ainda vive sob o medo do tráfico. Três assassinatos, o comércio fechado por ordem de bandidos e até um PM rendido por criminosos nos últimos dias são um cenário que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) deveria ter deixado no passado. O clima de tensão fez a PM reforçar o efetivo no morro.
A polícia investiga a ligação entre três execuções num intervalo de apenas quatro horas e a disputa pelo poder na escola. O assassinato, na noite de domingo, de Acir Ronaldo Monteiro da Silva, morto com oito tiros na porta do condomínio onde morava, no Recreio, deu início a uma onda de terror na Mangueira. Em resposta ao homicídio, bandidos mataram duas pessoas ligadas à agremiação. Alan Carlos da Silva Silvio, de 24 anos, controlador de acesso à quadra da Mangueira, foi executado a tiros no alto da comunidade no mesmo dia. O corpo dele foi encontrado na manhã de segunda-feira, carbonizado, num carro, em São Cristóvão. Jefferson Fernandes de Oliveira, de 21 anos, da bateria da escola, foi morto na segunda-feira, após ser baleado em frente a um contêiner da UPP no Morro do Tuiuti, vizinho à Mangueira. Os assassinos teriam usado a arma roubada de um policial da UPP momentos antes.
Na quarta-feira, o juiz Ricardo Coronha Pinheiro, titular da 39ª Vara Criminal, decretou a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de suspeitos de envolvimento com o tráfico na Mangueira. Entre eles, está o próprio Ivo Meirelles. A decisão foi tomada após um pedido feito pelo Ministério Público estadual, dentro de um inquérito policial de 2011, que apura uma suposta associação para o tráfico de pelo menos 20 pessoas. Procurado pelo GLOBO, o juiz não quis dar detalhes do caso, já que o inquérito está sob segredo de Justiça. O presidente da verde e rosa não foi localizado para comentar o assunto.
A quebra de sigilo visa principalmente a verificar se há vínculos de Meirelles com o tráfico. Ele é suspeito de ter repassado recursos da escola a traficantes da Mangueira. São investigadas possíveis irregularidades desde a posse de Meirelles, em abril de 2009, até dezembro de 2012. No pedido do MP, foi requerida a quebra do sigilo bancário de seis contas-correntes em nome do presidente da verde e rosa e outras 54 no da agremiação.
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