Religioso requereu retirada de seu nome do prêmio promovido pelo governo. Pedido é crítica contra a permanência de Janete Riva no staff estadual.
Bispo Casaldáliga recusa homenagem de prêmio jornalístico em MT
Esposa do presidente da Assembleia Legislativa (AL), deputado José Riva, Janete consta desde julho do ano passado da “Lista Suja do Trabalho Escravo”, elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com o fim de apontar empregadores que submetem trabalhadores a condições análogas à de escravidão.
Bispo solicitou retirada de seu nome via e-mail
nesta segunda-feira (25) (Foto: Camila Nalevaiko)
O Prêmio Nacional de Jornalismo Dom Pedro Casaldáliga é uma das maiores premiações à imprensa e seu intuito é justamente o de combater a prática do trabalho escravo. Seu nome visa homenagear a biografia de Casaldáliga. Nascido em Balsareny (Espanha), o religioso tem sua história marcada pela defesa de causas sociais, das minorias e dos direitos humanos.
Quando do lançamento do prêmio, o governo assinalou que "em 1971, o bispo Dom Pedro Casaldáliga foi a primeira personalidade pública a denunciar a existência de trabalho escravo no Brasil. Graças a Dom Pedro Casaldáliga, o Brasil acabou reconhecendo a existência desse problema internamente e perante às organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, como a OIT e a ONU".
Recentemente, Casaldáliga teve de afastar da prelazia em São Félix do Araguaia devido a ameaças que teria recebido por apoiar os índios xavantes no processo de desintrusão da reserva de Marãiwatsédé, nas proximidades de Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá.
Em 2010, sete pessoas chegaram a ser libertadas de uma propriedade rural de Janete Riva, o que levou seu nome a figurar na lista do MTE. A nomeação dela como secretária já havia motivado manifestação do Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, que pediu sua exoneração do cargo. Quarenta e uma entidades chegaram a assinar nota de repúdio pedindo exoneração da secretaria.
Em nota, o governo do estado, por meio da Casa Civil, imediatamente anunciou que não retrocederia do ato de nomeação argumentando que não havia provas de trabalho em situação análoga à escravidão na propriedade da esposa do presidente da AL.
Incoerência
Para o bispo catalão de 85 anos (completados no último dia 16), o estado passa a ser incoerente ao promover o prêmio de Jornalismo enquanto mantém Janete Riva em seu staff.
“Considerando que a fazenda de propriedade da secretária de cultura do Estado de Mato Grosso, Janete Riva, consta da Lista Suja de Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho, eu peço que meu nome seja retirado do prêmio do concurso de jornalismo organizado pela Coetrae/MT”, sintetizou o sacerdote em nota oficial protocolada na Casa Civil, na própria Coetrae e até no gabinete do governador Silval Barbosa.
Segundo o secretário do bispo em São Félix do Araguaia, Paulo Santos, o pedido foi enviado via e-mail nesta segunda-feira (25) ao governo do estado. A reportagem do G1 tentou obter um pronunciamento do governo do estado a respeito do assunto ao longo de toda a tarde, mas não recebeu qualquer resposta.
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