Previsão do Tribunal de Justiça é que julgamento termine nesta quarta. Crime deixou um morto e outro morador de rua com 25% do corpo queimado.
Acusados de atear fogo a sem-teto são interrogados em júri
O primeiro acusado começou a ser ouvido às 18h. Às 19h50, o júri ouvia o depoimento do terceiro acusado. Depois que todos forem ouvidos, começam os debates de acusação e defesa e, após essa etapa do julgamento, os jurados se reúnem para decidir se os réus são culpados ou inocentes.
Enterro do morador de rua José Edson Miclos de Freitas,
que morreu queimado em fevereiro de 2012 em Santa
Maria, no Distrito Federal (Foto: TV Globo/Reprodução)
Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a previsão é que a sentença do caso seja dada nesta quarta-feira (27).
A defesa alega que os réus não tiveram a intenção de causar a morte do morador de rua. A promotoria pede a condenação dos acusados por homicídio qualificado. As penas, em caso de condenação dos acusados, variam conforme o entendimento da participação de cada um no crime.
Durante o julgamento, que começou por volta das 9h, nove testemunhas foram interrogadas pela defesa e pela acusação. Outras quatro foram dispensadas pelo juiz.
O crime
Segundo o Ministério Público, o crime aconteceu por determinação de um comerciante incomodado com a presença dos moradores de rua nas proximidades de seu estabelecimento. De acordo com o MP, ele teria oferecido R$ 100 “a quem o ajudasse a espantar os moradores de rua do local”.
As vítimas, Paulo César Maia e José Edson Miclos de Freitas, viviam nas ruas havia anos se abrigavam embaixo das árvores para dormir à noite. Foi debaixo de uma delas que foram atacados.
Moradores contaram na época que por volta das 22h do dia 25 sete jovens atearam fogo em um sofá onde os dois sem-teto dormiam. Eles conseguiram escapar do fogo, mas cerca de uma hora depois três jovens voltaram e, com gasolina, atearam fogo nos dois.
“O rapaz estava em chamas. Ele rasgou o short. Jogou no chão”, contou na época uma moradora vizinha ao local do crime.
José Edson morreu horas depois de chegar ao hospital. Ainda teve tempo de falar com os pais. “Quando eu olhei para ele, ele só falou para mim assim: ‘Mãe, não chora. Não chora que a senhora tem problema sério de coração’. Mataram ele assim, queimado. Jogaram gasolina, fogo nele. Ele estava dormindo. Eu acho que nem com um cachorro se faz isso’, lamentou na época Celimar Miclos, mãe de José Edson.
Celimar conta que, aos 14 anos, José Edson se envolveu com álcool e drogas. Ele passou por uma clínica de reabilitação, mas voltou às ruas.
O outro morador de rua atingido teve 25% do corpo queimado. Paulo César Maia ficou internado em um quarto na ala de queimados do Hospital Regional da Asa Norte e passou por um tratamento difícil e delicado, de acordo com os médicos. Ele precisou passar a maior parte do tempo sedado depois de entrar em crise de abstinência, por ser usuário de drogas.
Paulo César teve queimaduras profundas, que atingiram os músculos. Ficou queimado no rosto, no abdômen, nas pernas e em um dos braços.
Para o MP, o crime não possibilitou a defesa das vítimas e ocorreu mediante promessa de recompensa. Os réus responderão por homicídio qualificado. O julgamento estava agendado para o dia 24 de janeiro, mas foi adiado após o advogado de um dos réus pedir o desmembramento dos casos.
Outros casos
O crime fez lembrar um caso antigo que ganhou repercussão nacional. Há quase 15 anos, cinco jovens de classe média queimaram o índio Galdino de Jesus enquanto ele dormia em um ponto de ônibus, no centro de Brasília.
Um dos rapazes era adolescente e cumpriu medida socioeducativa. Os outros quatro foram presos e condenados.
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