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Nacional
Quinta - 28 de Fevereiro de 2013 às 20:30

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Ao transcrever as escutas telefônicas da médica Virgínia Soares de Souza, feitas na UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba, a Polícia Civil do Paraná trocou inicialmente a palavra "raciocinar" por "assassinar". A Polícia Civil do Paraná corrigiu o termo inicialmente transcrito como "assassinar" para "raciocinar", que foi o termo realmente usado pela médica e que passou agora a constar oficialmente do inquérito. Essas gravações, que foram captadas com ordem judicial em um ramal da UTI, serviram para embasar o inquérito de cerca de mil páginas que indicia a médica sob a suspeita de determinar a morte de pacientes no hospital.

A médica foi presa no dia 19 de fevereiro, após uma investigação que durou mais de um ano. No inquérito, a polícia usou trechos da intercepção telefônica, em que Virgínia aparece dizendo frases como “Quero desentulhar a UTI que está me dando coceira” e “Infelizmente é nossa missão intermediá-los do trampolim do além” (frases mantidas no inquérito) e "estamos com a cabeça bem tranquila pra assassinar" (frase alterada agora).

A correção da palavra "assassinar" por "raciocinar" foi assinada pela delegada Paula Christiane Brisola no sábado (23). Além da correção do verbo, outros ajustes e trocas de palavras foram feitas em mais cinco trechos das transcrições. Veja trechos do diálogo corrigido:

Funcionário: Bonito. Caprichou, né.
Virgínia: P... m..., Rodolfo.
Funcionário: Bem na hora em que nós estamos tranquilos.
Virgínia: Nós estamos com a cabeça bem tranquila pra raciocinar, pra tudo, né!

Alterações feitas pela Polícia Civil em transcrição de gravação (Foto: Reprodução)Alterações feitas pela Polícia Civil em transcrição de gravação (Foto: Reprodução)

A denúncia foi feita na Secretaria de Corregedoria e Ouvidoria Geral do Estado do Paraná e partiu de um ex-funcionário. O nome dele é mantido em sigilo. De acordo com a polícia, pacientes foram mortos – após determinação da médica – para que leitos fossem liberados. Além de Virgínia, Edison Anselmo, Anderson de Freitas e Maria Israela Boccato foram presos.

O advogado Daniel Montoya, que representa Anselmo e Freitas, preferiu não comentar a situação dos clientes. "Não tenho o hábito de abrir minha defesa para a imprensa", afirmou. Em depoimento ao programa Fantástico, Edison e Anderson negaram as acusações.

Na segunda-feira (25), a enfermeira Lais da Rosa Groff, suspeita de envolvimento no caso, se apresentou à polícia para prestar depoimento e continua presa. O advogado da enfermeira Lais Groff, Jeferson Reis, informou que deve entrar com um pedido de habeas corpus para a cliente, na sexta-feira (1º). Ele alega que não há nada no inquérito que ligue diretamente o nome da enfermeira ao caso. "No inquérito, são tratados os interlocutores como "Virgínia diz isso, interlocutor não identificado responde". A própria polícia não foi capaz de identificar a minha cliente", afirma o jurista. Segundo ele, não há sequer um exame de voz para comprovar que ela estava no hospital nos dias em que teriam sido gravadas as ligações.

O advogado de Maria Israela não foi encontrado.

O Departamento da Polícia Civil disse que a delegada Paula Brisola não pode comentar sobre o assunto e que “todos os mandados de prisão expedidos pela Justiça neste caso, até o momento, foram concedidos devido à análise de um inquérito com cerca de mil páginas e não por um verbo, como tenta provar o advogado de defesa de uma das suspeitas”. A polícia também não informou se o responsável pelas degravações erradas vai ser punido. Procurada pelo G1, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná disse que não vai se pronunciar.

Para Elias Mattar Assad, advogado de defesa de Virgínia Soares Souza, não houve erro da polícia na transcrição, mas sim uma manobra para conseguir a prisão temporária da cliente dele. “É uma das artimanhas da Polícia Civil - colocar na degravação um termo que não corresponde à realidade. Confundiram o verbo ‘raciocinar’ com o verbo ‘assassinar’ - com isto você pede uma prisão e qualquer juiz vai decretar. Depois sai uma corrigenda lá nas entrelinhas do processo, uma corrigenda dizendo que o verbo era raciocinar. Confundiram Bento XVI com BR-116 e a consequência disso foi catastrófica”, criticou Assad.

O advogado afirmou ainda que irá interpor um pedido para que todas as transcrições sejam consideradas como provas ilícitas. “Visando uma declaração de falsidade documental para que seja retirado do inquérito esse material que não corresponde à verdade”, completou.





Fonte: Do G1

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