Transcrição de diálogo entre a médica e um funcionário da UTI, incluída no inquérito, substituiu erroneamente a palavra "raciocinar" por "assassinar"
Advogado acusa polícia de induzir Justiça ao erro para prender médica
O advogado Elias Mattar Assad, que defende a médica Virgínia Soares de Souza, diretora da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba (PR), acusa a Polícia Civil de induzir a Justiça ao erro para decretar a prisão de sua cliente, suspeita de provocar a morte de pacientes. Segundo Assad, escutas telefônicas da médica foram transcritas com expressões errôneas que contribuíram para "demonizar" sua cliente, presa desde o dia 19 deste mês.
Um dos erros de transcrições foi o uso equivocado da palavra "assassinar", quando a investigada falou "raciocinar". O trecho foi corrigido apenas no último sábado - depois, portanto, da prisão da médica. No documento original, constava a seguinte frase de Virgínia: "Nós estamos com a cabeça bem tranquila para assassinar, pra tudo, né!". No último sábado, porém, a polícia alterou a frase para: "Nós estamos com a cabeça bem tranquila para raciocinar, pra tudo, né!".
O advogado afirmou que pretende entrar amanhã na Justiça com uma petição para retirar esta "degravação falsa" do inquérito. Segundo Assad, será pedida a realização de uma nova transcrição oficial das escutas, feita por "um perito isento". Ele também deseja que "sejam apuradas as responsabilidades" pelo que considera "um falso testemunho ou falsa perícia".
Assad acredita que a troca das palavras tenha sido deliberada. "A polícia agiu de maneira ardilosa. Da maneira como foi colocado no papel, lógico que o juiz decidiria pela prisão", argumentou.
Na quarta-feira, o advogado entrou com um pedido de habeas-corpus de Virgínia, que está presa na Penitenciária Feminina do Estado. Segundo Assad, a médica sentiu a transferência do Centro de Triagem I para o presídio. "Ela contou que com essa mudança ela está um pouco assustada. Eu disse para ela: "teu dever é sobreviver"", relatou o advogado. Segundo ele, sua cliente negou que tenha falado expressões atribuídas a ela no inquérito.
Em nota, o Departamento da Polícia Civil informou que" a delegada Paula Brisola, titular do Nucrisa, não pode comentar nada sobre as interceptações telefônicas", já que estão sob sigilo legal. "Todos os mandados de prisão expedidos pela Justiça neste caso, até o momento, foram concedidos devido à análise de um inquérito com cerca de mil páginas e não por um verbo, como tenta provar o advogado de defesa de uma das suspeitas", conclui o texto.
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