Trabalhadores ficam alojados em prédio de antigo Hospital Psiquiátrico. Federação dos Trabalhadores foi até o local e constatou precariedade.
Funcionários de multinacional em MT denunciam até falta de sanitários
Um grupo de funcionários que trabalha na filial da multinacional Toshiba, responsável por obras em linhas de transmissão de energia no estado, localizada no Distrito Industrial, em Cuiabá, denunciou a precariedade do alojamento oferecido pela empresa. O local abriga cerca de 320 trabalhadores, sendo que alguns foram contratados por empresas terceirizadas que prestam serviço à multinacional e outros da própria empresa. As irregularidades foram constatadas por fiscais da Superintendência Regional de Trabalho e Emprego nesta terça-feira (14).
A assessoria da multinacional informou ao G1 que não irá se pronunciar sobre o assunto e que vai aguardar um posicionamento da gerência em Cuiabá para então se manifestar a respeito.
Por reclamar da falta de estrutura e da alimentação, vários deles foram demitidos. Dois deles, que são do Maranhão, contaram que foram dispensandos no dia 26 do mês passado, mas até hoje não receberam o montante referente ao acerto financeiro. Por isso, continuam no alojamento. Esse é o caso de José Antero da Silva, que trabalhava como montador de torres de transmissão de energia. Ele disse ainda que quando saiu do Maranhão havia recebido uma proposta, mas, ao chegar em Cuiabá, os benefícios não foram pagos de acordo com o combinado. "Fui mandado embora no dia 26 e até agora não entregaram a minha carteira de trabalho. Me disseram que o salário seria de R$ 2,1 mil registrado na carteira, além de comissão, mas depois assinaram a carteira só com R$ 1,6 mil. Não recebi nem o dinheiro da passagem", alegou.
Segundo ele, o local não possui banheiros suficientes para atender todos os trabalhadores que moram no local e a água de um poço artesiano, que é disponibilizada aos trabalhadores, é ruim. "Muitos tiveram coceira e dor de barriga por causa da água", disse. "Não imaginei que seria desse jeito, pois prometeram salário bom, comida bom, mas nada disso foi cumprido", reclamou.
Outro colega dele, que também é de outro estado, nesse caso de Alagoas, contou que a falta de higiene, principalmente nos banheiros e na cozinha é um dos maiores problemas do local. "Me decepcionei quando cheguei porque o alojamento fica em um antigo hospício que está desativado e temos que fazer as necessidades fisiológicas em um buraco, no chão", reclamou Josenildo Machado, que trabalhava como ajudante de montador e também foi demitido. Algumas camas, conforme os trabalhadores, não possuem lençóis e travesseiros.
Por supostamente permitirem a entrada de representantes da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Mato Grosso (Fetiemt) para a fiscalização, alguns seguranças foram demitidos nesta terça-feira (14). "O pessoal foi lá à noite e deixamos que entrasse no alojamento. Por causa disso, hoje nos chamaram e falaram que estávamos demitidos. Fui demitido porque não barrei o sindicato na portaria. Também disseram que se denunciássemos isso não iriam nos pagar", disse um segurança que preferiu não ter o nome divulgado se referindo aos responsáveis pela filial da empresa.
A empresa utiliza as instalações do antigo Hospital Neuropsiquiátrico de Cuiabá para alojar os funcionários há cerca de cinco meses. A unidade de saúde foi desativada em 2004. No local também funciona a cozinha, onde é feita a alimentação fornecida aos trabalhadores, e ainda o setor administrativo da multinacional.
De acordo com o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso, Thiago Gurjão Alves Ribeiro, o grande número de contratos terceirizados firmados pelas empresas traz prejuízos aos trabalhadores.
O presidente da Fetiemt, Ronei de Lima, disse que a situação do local é precária. "Fomos até lá após denúncia e verificamos que as condições não são adequadas para abrigar os funcionários", afirmou, ao exemplificar que os banheiros também estão sem portas e as paredes estão com infiltração. "Com o banheiro sem porta, a pessoa não tem privacidade. A estrutura do prédio em si é ruim", frisou. Ele denunciou o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Imagens feitas pela Federação mostram as más condições do local. O lixo fica acumulado em vários cantos, as paredes são sujas e mofadas. Além disso, o refeitório possui poucas cadeiras para acomodar todos os funcionários na hora da refeição.
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