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Cidades
Domingo - 19 de Maio de 2013 às 22:15

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Adorar e servir a Deus, contudo, preservando as convicções sexuais homossexuais. O que pode parecer uma contradição, e até inaceitável para a maioria cristã, seja católica ou evangélica, é a realidade para os membros da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM).

A denominação, nascida nos Estados Unidos com a ideia de ser inclusiva aos gays e lésbicas foi idealizada pelo reverendo Troy Perry, no final da década de 60, está presente em mais de 30 países e há cerca de seis anos no Brasil. Em Cuiabá, a igreja passou a funcionar em fevereiro.

Apesar de a ICM não ser restrita aos homossexuais, a igreja é conhecida por ser inclusiva e, até mesmo o símbolo tem as cores do arco-íris, representando a diversidade sexual e do próprio ser humano e o fogo do Espírito Santo, que une a todos.

Nos Estados Unidos, estima-se que 80% dos membros sejam heterossexuais.

No Brasil, a ICM está presente em 13 estados, e um deles é Mato Grosso.

O estudante de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), César Loyola, era frequentador ativo da igreja em São Paulo. Quando mudou-se para Cuiabá, sentiu falta de congregar e resolveu abrir uma unidade na capital de Mato Grosso.

Ele conseguiu uma sala na Avenida Cuiabá, 96, no bairro Cohab Nova, e, desde fevereiro, se reúne com outros 13 membros, a maioria colegas da faculdade e gays.

César, apesar de não ter sido ordenado um diácono, é uma liderança espiritual para os membros e chamado de pastor por alguns deles. Assim como nas demais igrejas protestantes, para se tornar um reverendo, é necessário o estudo de Teologia.

A ICM segue a linha das igrejas protestantes históricas como, a Presbiteriana tradicional, Metodista, Anglicana, Luterana e há um pouco da Igreja Católica na liturgia, com exceção do uso de imagens e da veneração a Maria.

Arquivo pessoal

ICM em São Paulo realiza casamentos no religioso



Jesus, Bíblia e homoafetivos

Muitos homossexuais sentem a necessidade de buscar a Deus, mas não suportam viver sob os olhares enviesados e condenáveis dos irmãos de congregação das demais igrejas evangélicas, diz César.

Estas só aceitam, segundo ele, quando a pessoa está disposta a ser um ex-homossexual, um hétero convertido.

“A pessoa não pode falar que é gay ou assumir que namora, sob o risco de ser expulsa ou hostilizada. Na nossa igreja ninguém é excluído. Jesus é amor. Na época dele, ia contra as lideranças preocupadas com a aparência, mandando em quem esta certo ou errado”, criticou.

Em relação às passagens bíblicas que condenam a prática homossexual no Antigo e Novo Testamento, César Loyola tem seus argumentos.

No caso de Sodoma e Gomorra, ele sustenta a tese de que não foram os pecados sexuais dos seus habitantes que causaram a queda das duas cidades, conforme narra o livro de Gênesis.

Na ICM, o problema era de que a cidade era muito rica, mas seus habitantes hostilizavam os de fora e não eram hospitaleiros.

“Eles usavam o sexo para humilhar por meio da relação anal, não era de forma afetiva. Os homoafetivos apareceram de tempos para cá. Tem que se analisar para quem e que período a Bíblia foi escrita. Não podemos usa-la para justificar a escravidão de negros e as Cruzadas, como já aconteceu”, disse.

O líder espiritual observou que Deus é amor e a relação que ele mantém com os seres humanos é a com afeto de um pai. “Ele se preocupa muito mais com pai de família desempregado, com quem passa necessidades do que pessoas do mesmo sexo que se amam”.

Doutrinas

A ICM utiliza as duas formas de batismo para a entrada de novos membros – aspersão e imersão –, contudo, é algo facultativo. Não se obriga ninguém a ser batizado para participar das celebrações ou dos ritos.

“Mesmo os que não são batizados podem participar da Santa Ceia e podem cantar. Ainda não temos nenhum batizado da nossa igreja aqui em Cuiabá, mas se tiver interessados vamos batizar por aspersão como na Igreja Católica”, explicou.

Eles também celebram a descida do Espírito Santo no Pentecostes, fazem campanhas de donativos, realizam Natal e a Semana Santa.

Em relação ao dízimo, não se estabelece o percentual de 10%, mas cada contribui da forma que lhe aprouver. “O dízimo é para a comunidade, não é nada obrigatório, a pessoa ajuda se quiser. Deus não precisa de dinheiro, mas a igreja precisa para crescer”, comentou.

O culto é realizado uma vez por semana, aos sábados, às 18h30. Ainda não há previsão de aumentar novas datas para a reunião.

Arquivo pessoal

Homossexuais buscam conciliar amor a Deus e ao companheiro do mesmo sexo



Ovelha desgarrada

Católico, o estudante Paulo Roberto Fabiani Cardoso, 22 anos, não frequentava a igreja há cerca de dois anos.

O fato de não se sentir aceito o afastou do desejo de cultuar a Deus. Quando o amigo César Loyola trouxe a ICM, ele sentiu vontade de participar da igreja.

“Vejo Deus de outra forma, independente do que você é. Ele nunca vai te abandonar”, disse o jovem. Ele ainda está se habituando a ler a Bíblia, mas gosta da carta de Coríntios, capitulo 13. É uma das passagens mais conhecidas quando Paulo descreve no primeiro versículo: "Ainda que eu falasse a linguagem dos homens e dos anjos, sem amor eu nada seria"”, disse.

Amor ao pecador, e não ao pecado

O bispo da Igreja Missão em Cristo e presidente do Conselho dos Ministros Evangélicos de Mato Grosso (Comec), Aroldo Leite, entidade que reúne mais de 200 igrejas das mais diversas denominações, afirma que a IMC é uma aberração.

“É um clube onde eles podem se reunir, mas Deus, infelizmente, não estará presente. Para mim é uma brincadeira em nome de Deus. Deus, por meio da Bíblia, estabeleceu padrões para nós, não é o Senhor quem tem que se adaptar a gente, mas nós que precisamos nos adaptar a Ele”, argumentou.

Leite explicou que a homossexualidade, assim como adultério, prostituição e outras formas de pecado, são vistas da mesma forma, sem gradações de um pior do que outro. Mas Deus, assim como os que se professam ser cristãos, deve amar o pecador, ao ser humano, mas não o pecado dele, as suas práticas.

O pastor disse que, pela experiência vivenciada por algumas igrejas, há formas de transformar as pessoas que desejam alguém do mesmo sexo, para a inclinação tida como natural, ou seja, mulher pelo homem e o homem pela mulher.

“Não foi comparado como doença, não se trata de orientação e sim, de opção. Algum ponto da vida inclinou a pessoa a se tornar homossexual, seja por um abuso na infância. Essa é uma questão espiritual. Há homens que deixaram essa prática e hoje são pais de família, maridos e o mesmo ocorre com mulheres, algumas eram lésbicas e hoje são mães. Tenho certeza que essas pessoas não são felizes assim”, completou.

O bispo disse ainda que a igreja, de forma geral, não é contra as conquistas sociais que os homossexuais conseguiram, mas não se aceita é a prática homossexual. Novamente, ele enfatiza que há diferença entre aceitar o ser humano e aceitar os atos que ele pratica.

“A Bíblia fala que é pecado. Nós somos atalaias de Deus, sinalizando o caminho do céu, eles podem até morrer no pecado, mas não podemos deixar o nosso dever de alertar”, completou.





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