Déficit no Estado será observado a partir do dia 30 de julho em quatro das sete regiões produtoras de grãos
Caos tem data para chegar
Não bastassem os problemas enfrentados recentemente para escoar a soja mato-grossense até o porto de Santos (SP), mais transtornos, no quesito logística de infraestrutura, deverão tirar o sono e mexer no bolso do produtor. Dados oficiais mostram que somente em soja e milho o Estado deverá somar mais de 40,1 milhões de toneladas (t), volume que ultrapassa em 28,4% a capacidade estática de armazenamento. A sobreoferta ficará evidente a partir 30 de julho, quando o encontro dos estoques dos grãos, com a chegada da nova supersafra de milho será inevitável pelos silos Estado afora.
Como nunca, o déficit vai jogar contra uma safra de menor rentabilidade e contribuir para caos. Das sete regiões produtoras do Estado, em quatro delas as toneladas vão superar a capacidade, sendo o caso mais crítico a região nordeste, cuja produção das duas culturas será 43% superior à disponibilidade local.
Projeção elaborada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Iria) mostra que daqui a pouco mais de 60 dias - em 30 de julho - a capacidade de armazenagem de várias regiões produtoras do Estado, como médio norte, noroeste, nordeste e centro sul, terá limites de estocagem ultrapassados, ou seja, as toneladas a serem depositadas vão exceder aos 100% da capacidade.
Ao contrário do ano passado, quando a produção estadual de soja bateu recorde sobre a safra anterior – de 20,56 milhões t para 21,36 milhões – mas em julho não haviam mais estoques devido à forte demanda interna e externa pelo grão, houve espaço para estocar a maior safra, até então, de milho segunda safra no Estado, que passou de 6,99 milhões t para 15,58 milhões t e por isso, de maneira inédita no ano passado, não houve necessidade de deixar o cereal a céu aberto. Até o momento, a comercialização de soja, por exemplo, segue em ritmo inferior ao registrado no ano passado, 83%, ante 94%, ou seja, 11 pontos percentuais (p. p.) a menos em relação ao mesmo período. A venda do milho, no mesmo período de comparação, está 21 p.p. menor.
Conforme o levantamento, em 30 de julho, considerando as exportações, consumo interno, ritmo histórico de comercialização no Estado e a perspectiva de preços – que pode acelerar ou frear as negociações – o nordeste mato-grossense terá de estocar ao mesmo tempo, 18 milhões t, 43% da atual capacidade estática, em pouco mais de 12,5 milhões t. “Dentro desta previsão de utilização da capacidade dos armazéns em julho deste ano e os estoques de soja e milho simultâneos, a região estará ofertando 43% mais grãos que a disponibilidade de armazéns”, aponta a analista de Mercado, Elisa Gomes. Como reforça, a região é a mais carente em infraestrutura por ser tida como a nova fronteira agrícola do Estado.
Em 30 de julho – salvo algum fator mercadológico que fomente a demanda pelos grãos – o médio norte terá volume de 14 milhões de toneladas a ser acondicionado, o que leva a um excesso de 13% sobre o real espaço físico disponível (113%).
“As regiões norte, oeste e sudeste serão as únicas capazes de suprir a demanda local por armazéns nesta safra. As regiões noroeste, nordeste, médio norte e centro sul apresentam volume de milho e soja acima da capacidade de armazenagem em 13%, 43%, 13% e 3%, respectivamente”.
REALIDADE - Mato Grosso possui uma capacidade de armazenagem de 28,7 milhões de toneladas, das quais 8,2 milhões t estão nas mãos de armazéns particulares, 19,4 milhões t em armazéns comerciais e 100 mil t em armazéns de cooperativas. “Nesta safra, Mato Grosso vai produzir apenas de soja e milho, 40,1 milhões de toneladas. Considerando que o recomendado pela FAO é de que haja uma capacidade 20% superior à produção, há para esta safra, uma demanda de construção para estocagem de 19,1 milhões t”, acrescenta Elisa.
Com a expectativa de se obter a segunda maior produtividade e a maior produção de milho do Estado neste ano – segundo recorde consecutivo - a preocupação em onde armazenar esta safra tem se tornado uma constante.
Uma alternativa, que vai ampliar o custo total de produção ao produtor, para armazenar o milho no pico da colheita seria o silo-bolsa, que pode proteger o grão no campo por até seis meses. Embora o investimento neste tipo de armazenagem não seja tão baixo, ele ainda é uma saída emergencial. Considerando apenas o valor do silo-bolsa, sem maquinário, o custo por saca de milho com esse tipo de alternativa fica em torno de R$ 0,40 a R$ 0,50.
O DÉFICT – Para cobrir a necessidade do Estado que é o maior produtor de grãos do país há dois anos seguidos, devem ser investidos na construção de armazéns, cerca de R$ 6,2 bilhões, para ofertar novas 2.918 unidades armazenadoras.
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