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Polícia
Sexta - 31 de Maio de 2013 às 08:45

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Três em cada 10 homicídios registrados em Cuiabá e Várzea Grande são causados por motivos considerados fúteis, segundo dados de 2012 disponibilizados pela Polícia Civil.

São incluídos nessa categoria homicídios relacionados a casos de briga, ciúme, conflito entre vizinhos, desavença, discussão, violência doméstica e desentendimentos no trânsito.

Segundo o órgão, das 357 ocorrências de assassinatos registrados em 2012, 32,7% eram ligadas a rixas, vingança, abuso de álcool e ambição.

Os números deste ano apontam que o índice continua alto: até 30 de abril, 23 dos 108 homicídios já registrados foram de crimes motivados por rixa e vingança.

Para o delegado Silas Caldeira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os números de assassinatos revelam a falta de confiança da sociedade na Justiça.

Segundo ele, apesar de existir essa classificação dos crimes entre passionais, por envolvimento com drogas e fúteis, por exemplo, a maioria dos assassinatos são motivados por situações banais.

“Para mim, todo assassinato é por motivo fútil, porque qualquer que seja a explicação do cidadão para o crime, por mais que esteja desesperado, ele deveria, primeiramente, ter confiado na Justiça. A gente só mata alguém porque a gente deixa de confiar na Justiça. Se todo mundo agora deixar de confiar na Justiça e começar a praticar crimes, onde é que nós vamos parar?”, disse.

Ao MidiaNews, Caldeira afirmou que a falta de estrutura familiar também é uma dos componentes mais expressivos para a ocorrência de crimes de assassinato.

“Na realidade, todos esses casos de homicídios que ocorrem são motivados pela falta de estrutura familiar, que faz com que as pessoas não sejam tementes nem à Deus nem à Justiça. Em segundo lugar vem a falta de religião, que hoje também é muito grande. Sem contar outros fatores, como o uso indiscriminado de drogas ”, ressaltou.

O sociólogo Naldson Ramos, coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e da Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pontuou que os números apontados são impressionantes e revelam a fragilidade das relações sociais na atualidade.

“Crimes por motivos fúteis são desentendimentos decorrentes da sociabilidade em um determinado momento e espaço. Não deveria haver crimes desse tipo [por motivos fúteis]”, disse.

Thiago Bergamasco

"No lugar da vida, passam a ter mais valor os signos e as mercadorias"

Ramos explicou que a sociedade vem passando por inversões de valores. Tais transformações acabaram por corromper e relativizar tudo, inclusive o valor da própria vida.

“No lugar da vida, passam a ter mais valor os signos e as mercadorias. Consequentemente, mata-se por conta de um celular, de um tênis, de uma agressividade no trânsito, por discordância com um vizinho. As pessoas descarregam todas as suas frustrações e ansiedades em um momento de raiva, não consegue se controlar e, nesse momento, nem a vida do outro tem sentido e nem a dele”, disse.

Para o sociólogo, as pessoas passaram a dar mais importância a seus interesses particulares, não levando mais em consideração a moral, os costumes e a religião.

Soma-se isso à falta de atuação dos agentes considerados responsáveis por dar valor à vida, elencadas pelo estudioso como a família, a Igreja – que também está em crise - e os sistemas educacional e Judiciário.

“A vida desse individuo deixa de ser importante em detrimento aos seus interesses particulares que quase sempre são materiais ou subjetivos. Muita gente não tem mais medo da lei, da Justiça. Ele não está preocupado se ele vai ficar preso por 10 ou 30 anos, ele quer por em prática seus interesses acima de tudo, fazendo justiça pelas próprias mãos”, afirmou.





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