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Nacional
Terça - 11 de Junho de 2013 às 12:12

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Olhos pintados (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)Urea levou dois dias para tatuar os próprios olhos (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)

O fascínio pela prática da modificação corporal fez o jovem paraibano Gerson de Araújo, o popular Urea, natural da cidade de Patos, a cerca de 480 km da capital João Pessoa, tatuar seus próprios olhos. Urea mora em Rio Branco, capital do Acre, desde 2009 e realizou o procedimento, conhecido como "eyeball tatoo", sozinho nos dias 6 e 7 deste mês.

A técnica, de acordo com ele, já existe no mundo há quase oito anos e desde então a estudava para conseguir fazer em si próprio. Urea trabalha como tatuador e tem quase 80% do corpo marcado com desenhos e escritas, além de implantes no braço esquerdo, também colocados por ele mesmo. Ele acredita ser o primeiro da América Latina a pintar os próprios olhos sozinho.

"Tem uma pessoa em Londres que conseguiu pintar sozinho seus olhos há seis anos, existem relatos disso. Fora isso, desconheço alguém que fez o procedimento só. Minha meta, de todos os meus trabalhos, é fazer em mim mesmo. Depois de sete anos consegui", comenta.

Segundo Urea, a realização do procedimento, se feito normalmente por um profissional em outra pessoa, dura cerca de 15 minutos. Os efeitos sentidos, ele garante, não são nada de outro mundo.

Olhos pintados (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)Tatuador chama a atenção por onde passa (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)

"Quinze minutos é o tempo médio. Mas como fiz só, passei dois dias para poder pintar os dois olhos. Uma madrugada inteira para pintar a metade de um e no outro dia foi que consegui pintar a outra metade e o outro olho. Fiz sem anestesia, com técnica própria. A sensação é meio tensa por fazer em você mesmo. Os olhos ficam sensíveis à luz por uns três, quatro dias. Dá um pouco de dor de cabeça, como enxaqueca, e uma pressão ocular normal. Mas, nada de outro mundo", relata.

Quando o olho fechou foi uma das minhas maiores felicidades."
Gerson de Araújo

Para concretizar sua vontade, Urea utilizou uma tinta especial, trazida de Nova Iorque por um amigo. Destacando se tratar de um processo irreversível, ele diz que contou com a colaboração de amigos médicos que analisaram os riscos e somente depois disso liberaram para prosseguir com sua intenção.

"É uma tinta que foi mandada manipular, sem chumbo, sem metal, especial para esse tipo de atividade. Não há reversão do processo. Tem risco, mas é algo que daqui 30, 40, 50 anos, vamos saber. Se tiver de acontecer alguma coisa vai ser na hora de furar. A tinta é injetada em três, quatro pontos do olho. Como é colocada abaixo do vaso, é ele quem vai fazer ela correr pelo olho, então geralmente são de oito a dez dias para fechar totalmente. Tenho uma equipe de médicos que trabalha comigo, vários médicos amigos, então debatemos muito até chegar em um consenso, até que eu fizesse o procedimento", ressalta. 

Segundo maior êxtase da vida
Urea não pensa em arrependimento. Para ele, alcançar seu objetivo foi o segundo maior êxtase da vida, superado somente pelo momento em que fez os seus implantes no braço.

"Nunca me arrependi de nada. Quando o olho fechou foi uma das minhas maiores felicidades. Chega me arrepio de falar", diz apontando para o braço direito. "Era um sonho que sempre tive. São sete anos estudando e quando consegui foi o segundo maior êxtase na minha vida. O primeiro foi quando coloquei os implantes no meu braço", complementa.

Questionado sobre o risco de sofrer preconceito por conta da imagem que para muitos pode ser considerada assustadora, Urea garante não se importar com o que os outros vão pensar.

"Fiz uma coisa para que eu me sentisse bem, não para os outros. É a realização pessoal de cada um. Tem gente que sonha em passar no vestibular, meu sonho é me modificar, é conseguir fazer os procedimentos em mim mesmo. Isso é minha meta de vida", destaca, ressaltando existir outros procedimentos que pretende fazer, mas não agora, por enquanto.

"Existem outros implantes que quero fazer, mas no momento vou dar um tempo, estudar mais, desenvolver mais a técnica", afirma.

Como mora distante de seus familiares, Urea diz que a relação com seus pais hoje é tranquila quando se trata de suas decisões em modificar seu corpo. "O pessoal em casa não critica, respeita. Hoje em dia já existe o respeito. Antigamente não, era o preconceito. Por eu ser do interior do Paraíba, você já tira o preconceito que já existe em cada um. Meu pai me botou para fora de casa com 14 anos porque eu falei que queria trabalhar com tatuagens e piercings. Desde criança eu já sabia o que queria. É como você nascer para aquilo. Me sinto assim, que nasci para isso. Eu sou a modificação, vivo isso", enfatiza.

Ele orienta quem tiver interesse em fazer o procedimento a ter certeza do que deseja, conhecer o material que será utilizado e a técnica em si. "Saiba que é uma coisa irreversível, que vai fazer e terá que arcar com as consequências para o resto da vida, sejam elas quais forem", declara.

Interessados já procuram
Urea diz que o procedimento ainda não é realizado em qualquer pessoa, como uma tatuagem comum que se chega, paga e é feita em um estúdio.

"Não é um procedimento feito em clientes, em qualquer um. Não é algo que vão chegar na minha porta e dizer que querem fazer e eu vou pintar. É algo restrito para pessoas que trabalham com modificação corporal. Não é bem chegar, pagar e fazer", declara.

No entanto, ele ressalta que já recebeu propostas para realizar a "eyeball tattoo" em outras pessoas. "Se fosse para pintar em alguém, cobraria entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, dependendo da pessoa. É uma realização pessoal de cada um. Se eu ver que a pessoa tem realmente uma necessidade de fazer, as vezes nem cobro. Aqui em Rio Branco uma mulher me procurou para querer pintar o olho de azul, só que como falei, não é um procedimento feito em qualquer pessoa. Várias pessoas há anos vêm me procurando, mas não tinha o material adequado e não estava apto a fazer", afirma.

Rondoniense vem a Rio Branco para ter olho tatuado
O rondoniense de Porto Velho Victor Vieira, de 23 anos, que também é tatuador naquela cidade, é um dos que procurou Urea com a intenção de pintar seus olhos. Ele já havia entrado em contato com o tatuador paraibano há cerca de um ano, interessado na "eyeball tatoo", mas Urea o avisou que não possuía o material adequado e não estava apto a realizar o procedimento.

Olhos pintados (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)Victor Vieira veio de Porto Velho para fazer o procedimento (Foto: Dhárcules Pinheiro / Arquivo Pessoal)

No entanto, desta vez foi diferente. Ao ver a foto de Urea com os olhos pintados postada em uma rede social, Victor não pensou duas vezes e veio para Rio Branco no dia seguinte.

"É aquela coisa, choca. Quando vi a foto dele (referindo-se a Urea) na internet já cai para cá. Fiz por curtir o estilo do visual, que é tenebroso. Também sem anestesia, só com um colírio. Foram 15 minutos e já era. A gente é tatuador, vivemos disso. É algo muito pessoal. Eu gostei desde quando vi a primeira vez e decidi que faria assim que tivesse a oportunidade. A pessoa pensa que não vai acontecer, mas quando acontece é demais", declara.

Olham, fazem cara feia, fazem o sinal da cruz, xingam, mas não ligo não"
Victor Vieira

Victor diz que apenas um amigo seu, o companheiro de trabalho no estúdio em que atua, sabe qual foi a finalidade da sua viagem para a capital acreana. Ele, que mora com a mãe, afirma não imaginar o que ela irá dizer quando vir seu novo visual. E ressalta ainda que não liga para os possíveis atos de preconceito que possa sofrer.

"Quando ele (amigo) viu a foto e o olho fechado com a cor preta ficou interessado em pintar também. A minha mãe, acredito que vá se espantar. Ela já se acostumou com as tatuagens, fica mais bolada por causa dos alargadores (ele tem um em cada orelha). Agora, com o olho assim, acho que ela vai esperar tudo. Quando chegar lá não tenho nem ideia do que ela vai falar. Não ligo para o preconceito de ninguém. Olham, fazem cara feia, fazem o sinal da cruz, xingam, mas não ligo não", comenta.

Oftamologista alerta para riscos
Para o oftamologista Amsterdan Sandres, o procedimento é novidade e ele alerta para o risco de desenvolvimento de uma reação inflamatória crônica.

"É preciso ver se é uma substância que o organismo pode receber sem reagir contra ela. Está muito cedo para dizer que o organismo não vá reagir. Normalmente se recomenda muito cuidado com os tecidos oculares, porque são tecidos que têm uma forma de defesa que é muito própria e muito tênue. A vascularização é muito pobre e qualquer insulto provoca reações inflamatórias. Não tenho a menor ideia de quem bolou esse negócio de fazer isso no olho. É meio estranho, mas estamos vivos para ver coisas estranhas", diz.





Fonte: Do G1

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