Ausência da União engessa Mato Grosso União trava logística de transporte, se esquiva da segurança, é omissa na regularização fundiária e saúde
Índice de continentalidade é a referência da lavoura ao porto. Por esse indicador Mato Grosso perde competitividade para os demais polos estaduais agrícolas. Para amenizar esse calo geográfico seria preciso uma boa rede de transporte, mas a criação dessa infraestrutura esbarra na ausência da União, que em alguns casos tem cheiro de quebra de princípio federativo. Mas, além do prejudicado vaivém do modal rodoferroviário e das barcas, a Terra de Rondon - que celebra 275 anos de emancipação nesta terça-feira, 9 de maio - ainda enfrenta a insensibilidade de Brasília no tocante à Segurança Pública, regularização fundiária e saúde.
Escoamento de produção é um gargalo antigo. Em 1891 o tenente Antônio Peixoto de Azevedo liderou uma expedição denominada Navegação Paranista, pelos rios Arinos, Teles Pires e do Sangue, em busca de uma rota para Santarém. O capitão Antônio Lourenço Teles Pires mapeou o rio São Manoel – que ganhou seu nome - também em busca de saída pelo Pará. Euclides da Cunha gritou por uma ferrovia ligando Mato Grosso a São Paulo, e esse grito ecoou junto ao engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques. Pelo escoamento do látex boliviano pelo rio Madeira, o Brasil ganhou a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que ligava Guajará-Mirim, no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, a Santo Antônio do Rio Madeira, hoje Porto Velho, no Amazonas, na área que mais tarde seria Rondônia. Nos anos 1990 a Hermasa Navegação do Amazonas, do Grupo Ammagi, balizou o rio Madeira e iniciou o transporte de commodities em Porto Velho para Itacoatiara (AM).
O transporte ferroviário conquistou a ligação de Rondonópolis com Santos, pela Ferrovia Sanador Vicente Vuolo, da Rumo, inaugurada em setembro de 2013 pela presidente Dilma Rousseff, após avançar lentamente até aquela cidade. A Rumo explora a ferrovia por concessão, que estabelece sua ligação com Cuiabá, mas diante de sua omissão, o governador Mauro Mendes lançou o projeto de uma ferrovia estadual com 630 quilômetros entre Rondonópolis e Cuiabá, e de Rondonópolis a Nova Mutum e Lucas do Rio Verde – a obra está em curso.
A construção do Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá foi demorada. Sua conclusão teve aporte do governo federal, o que contrasta com a ausência da União na Saúde Pública em Mato Grosso. Ao término de seu mandato, o presidente Michel Temer disse ao ministro Blairo Maggi que queria destinar um recurso para que o mesmo o enviasse ao seu estado. Temer liberou R$ 100 milhões e Blairo o canalizou ao hospital em obra.
Uma máxima de bastidores cita que o Incra cria dificuldades para vender facilidades. Em Mato Grosso, há mais de 600 assentamentos do programa de reforma agrária, mas até mesmo quantificá-los é complicado, pois alguns são subdivididos em título I, I, III e IV.
Denúncias de desvio de função da reforma agrária não faltam. Em 2014, a Operação Terra Prometida, da Polícia Federal, desbaratou um esquema de venda e ocupação irregular de parcelas do Incra em um assentamento em Itanhangá, e prendeu os ex-prefeitos Marino Franz (de Lucas do Rio Verde) e Milton Geller (Tapurah), o vereador Silvestre Caminski (por Itanhangá) e o empresário Odair Geller, irmão de Milton e do ex-deputado federal e à época da operação, ministro da Agricultura, Neri Geller. Todos os presos alegaram inocência e o caso hiberna.
A balbúrdia agrária nos assentamentos cria insegurança jurídica, mas o Incra não consegue ordenar a ocupação da terra nem promove recadastramento para se saber a realidade sobre a reforma agrária.
Sem investimento federal em transporte e na Saúde Pública e sem segurança jurídica no campo. É assim em Mato Grosso, que chega aos 275 anos vendo o governo federal na contramão.
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