Jogos violentos podem influenciar conduta de crianças e adolescentes, diz psicóloga Especialista vê risco de normalização da violência por crianças e adolescentes que têm acesso a games sem supervisão
O acesso a jogos com conteúdos de assassinatos e desafios de matança podem influenciar crianças e adolescentes a reproduzirem atitudes violentas, defende a psicóloga Eliane Fernandes. De acordo com a especialista em atendimento infantil, a onda de casos de ameaças de massacres contra escolas é preocupante e evidencia a necessidade de que pais e responsáveis fiscalizem quais conteúdos os menores estão consumindo.
“Tem que observar os filhos e isso não é violar a privacidade deles. Hoje o ambiente social das crianças é nas telas. Precisa ver o que estão postando, o que estão curtindo, quais são os interesses dessa criança ou adolescente, quais são os jogos que estão jogando”, ressalta Eliane.
Imagem Ilustrativa
Recentemente todo o país vive sob a tensão de ameaças contra escolas. Após o repercusão do ataque a uma creche em Blumenau (SC), crianças, adolescentes e, em alguns casos, adultos começaram a compartilhar mensagens de ameaças a escolas ou invadem as unidades anunciando massacres e de posse de algum tipo de arma. Nas situações identificadas pela polícia, os autores sempre argumentam que agiram por "brincadeira".
A especialista aponta que muitos pais não se atentam sobre quais os jogos os filhos estão jogando. Segundo ela, crianças tem acesso a conteúdo para maiores de 18 anos e, às vezes, passam horam em contato com temas como violência, assassinato, drogas, roubos e insinuação sexual.
“Muitos ataques podem ser consequência de um jogo que pontua quanto mais pessoas o participante matar”
Elaine Fernandes, psicóloga“Muitos ataques podem ser consequência de um jogo que pontua quanto mais pessoas o participante matar. Os pais precisam saber que as crianças têm acesso a isso na internet”, destaca a psicóloga.
Ameaças em MT
Somente nos primeiros 13 dias de abril, a Polícia Civil de Mato Grosso registrou 400 denúncias de mensagens falsas relacionadas a massacres ou presença de armas em escolas no estado. Foram identificadas autorias de mensagens em 20 cidades de Mato Grosso.
As investigações resultaram em 44 pessoas identificadas e conduzidas para delegacias. Entre os conduzidos estão dois adultos e adolescentes na faixa de 12 a 17 anos, além de duas crianças que foram identificadas com armas, duas delas de airsoft que teriam recebido de presente do pai.
Eliane aponta que, diante do contato constante com violência, as crianças e adolescentes passam a normalizar os assassinatos e mortes em geral, “porque tudo que acontece no jogo é tido pela mente como real". Ela argumenta que as crianças não têm esse filtro porque o processo cognitivo delas ainda não está completo e por isso não têm o discernimento real do que é certo e o que é errado.
“Então o prazer da conquista, de você ter conquistado uma missão, ele emocionalmente é vivenciado, libera dopamina, serotonina, endorfina, um monte de substâncias, quando ela joga e ganha o jogo, faz a tarefa que tinha que fazer. A criança tem dificuldade para lidar com a seriedade das consequências do que ela faz”, explica.
Assessoria
Pais próximos da escola
Eliane pontua que é necessário que os pais busquem saber sobre como é o ambiente escolar que seus filhos vivem, a fim de terem conhecimento se eles são isolados ou sofrem bullying, por exemplo. Quanto ao temor crescente de ataques, ela ressalta que os pais precisam ter uma conversa tranquila e esclarecedora com seus filhos sobre medidas de segurança e até mesmo de como agir caso algo ocorra.
“É preciso alertar às crianças e adolescentes que eles não devem reagir, mantendo o cuidado para não gerar pânico ou histeria coletiva. Quanto às crianças menores, o melhor é protegê-las do sensacionalismo que ocorre sobre os massacres”, orienta a psicóloga.
A especialista ainda indica que, em ambiente escolar, as unidades promovam rodas de conversa com temáticas variadas, na busca de trazer o diálogo como maneira de reduzir o sofrimento psicológico e aumentar o vínculo afetivo entre crianças e adolescentes e estimular a confiança.
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