Violinista baiana ganha a vida se apresentando nas ruas de Cuiabá Roquelina afirma que, apesar do grande talento, artistas de rua ainda sofrem preconceito

A baiana Roquelina Araújo, de 51 anos, deixou sua cidade natal, Feira de Santana, para se tornar artista nas ruas de Cuiabá. A violinista autodidata diz que a receptividade cuiabana a conquistou e que pretende, por um bom tempo, embelezar musicalmente as vias da Capital.

A artista costuma se apresentar na região central da cidade, nas proximidades de estabelecimenos comerciais - acesse sua conta no Instagram AQUI.

A história musical de Roquelina começou na Bahia há vinte anos ao entrar para a Cultura Racional que, nas palavras dela, é um grupo de estudos que busca descobrir a origem da humanidade.

Nesse grupo havia uma banda com diversos instrumentistas. Ao se juntar a eles, Roquelina começou tocando tarol, mas sempre observava os ensaios de violino. Ela acreditava que, por ser um instrumento erudito, estava muito longe de seu alcance e que não conseguiria aprender.

Posteriormente, a maestra da banda a presenteou com um violino e a conexão foi imediata. Sem condições para pagar por aulas instrumentais, Roquelina decidiu estudar por conta própria e aprender com amigas violinistas.

Encantada pelo instrumento, decidiu levá-lo às ruas e tocar como forma de celebrar a própria superação e de aproximar o violino da comunidade. A “invisibilidade” do artista de rua foi um grande obstáculo, pois as pessoas não prestigiavam o trabalho dela, mas Roquelina persistiu e gradualmente conquistou reconhecimento.

Procurando novas oportunidades, a baiana decidiu se mudar para Cuiabá em 2022 portando apenas uma mochila e o violino.

“O artista em si tem essa coisa de descobrir novos horizontes. Cuiabá é uma cidade que me identifico muito, gostei muito logo na primeira vez que estive aqui. O cuiabano sempre tem um lado solidário. Fui muito bem recebida, mais do que esperava”, lembra.

Precisando de dinheiro imediato, aceitou diversas oportunidades de trabalho como fazer faxina e cuidar de idosos. Mesmo com a agenda lotada, ela conciliava os trabalhos com a arte de rua, pois tinha como objetivo principal conseguir viver de música.

“Me joguei em tudo para não desistir do meu sonho. Eu poderia ter migrado para outras áreas, mas não. O violino falou muito mais alto, então deixei algumas coisas e vim para a rua. Continuo fazendo alguns bicos, mas dando prioridade ao violino”, revela resiliente.

Agora, Roquelina batalha pelo reconhecimento do artista de rua. Ela afirma que, embora haja muitos talentos nas ruas, eles não são valorizados como merecem.

Enzo Tres/MidiaNews

Um dos objetivos de Roquelina é batalhar pelo reconhecimento dos artistas de rua e encorajá-los a correr atrás dos sonhos

“Tem muito talento que está escondido e precisando ser visto. Atrás do artista tem um ser humano, que é igual a todos. Geralmente os artistas são mal interpretados, acham que estamos passando fome, mas nós estamos correndo atrás do sonho”, revela.

Roquelina é categórica ao dizer que as autoridades de Mato Grosso deveriam fornecer mais oportunidades aos artistas de rua para que eles mostrem seu trabalho, dando mais atenção aos potenciais artísticos inexplorados. Um dos objetivos da violinista é ajudar músicos como ela a se destacarem. “O brasileiro tem um coração gigante, a gente pode fazer muito mais, chegar muito longe”, afirma.

Ela acrescenta que, apesar de receber convites para outros trabalhos, não pretende deixar de tocar nas ruas cuiabanas, pois as vias são grandes oportunidades para aprender e evoluir.

Além disso, a artista encara o próprio trabalho como uma forma de tornar o mundo mais acolhedor e fraterno com as propriedades transformadoras da música. "A música é paz, amor e fraternidade. Se você está estressado e ouve ou toca uma música, se acalma. Muita coisa pode mudar através da música", conclui.

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