Umbandista usa as redes para combater a intolerância religiosa Influencer da religião, Cristian Siqueira busca levar a prosperidade espiritual a cuiabanos
Vivendo a Umbanda desde os 14 anos, o cuiabano Cristian Siqueira, hoje com 31, trabalha com a espiritualidade para equilibrar a vida das pessoas que o pedem ajuda. Ele, que já foi o pai de santo mais jovem de Cuiabá, também se qualifica como um umbandista lifestyle por compartilhar a religião nas redes sociais e usá-las como ferramenta para combater a intolerância religiosa.
A caminhada espiritual de Cristian teve muitas reviravoltas. Quando jovem, era seminarista e sonhava ser padre católico. Cheio de preconceitos com a Umbanda, visitou um terreiro pretendendo expulsar toda maldade do local, mas acabou se apaixonando pela mensagem das entidades.
“Quando eu conheci a Umbanda, tinha muito preconceito em relação à prática de terreiro. Cheguei lá (no terreiro) com uma garrafinha de água benta, porque fui preparado para expulsar todos os demônios", conta ele ao MidiaNews.
"Quando as entidades chegavam, elas falavam muito de Deus e de Jesus. Identifiquei que não havia nada de negativo e foi amor quase que a primeira vista”, lembra ele.
Quando eu conheci a Umbanda, tinha muito preconceito em relação à prática de terreiro. Cheguei lá (no terreiro) com uma garrafinha de água benta
A partir de então, Cristian dedicou-se aos estudos e às práticas umbandistas. Atualmente, seu sustento vem da escrita de livros, feitura de pesquisas, ministração de cursos e atendimentos oraculares.
Seu principal livro é a biografia “O fenômeno Seu Sete da Lira”, para o qual empreendeu três anos de pesquisas e um ano de escrita a fim de apresentar o trabalho espiritual da mãe de santo Cacilda de Assis, cujo guia espiritual se chamava Sete da Lira.
Para escrever a obra foram colhidos depoimentos dos familiares de Cacilda, de pessoas que frequentavam o terreiro dela e de espíritos que, através da mediunidade, se apresentavam a Cristian para ajudá-lo nas investigações da história.
Intolerância religiosa e estereótipos
Cristian, antes de viver da espiritualidade, teve uma vida corrida. Precisou dividir-se entre a faculdade de direito, trabalho e religião.
Pouco a pouco, a Umbanda assumiu a vida dele, pois muitas pessoas o procuravam para aprender sobre espiritualidade e para serem ajudados energeticamente. Por fim, ele acabou se entregando à vida espiritual profissionalmente.
Nessa vida agitada, um dos episódios que mais marcou a trajetória do pai de santo foi quando sofreu intolerância religiosa em um emprego.
“Eu trabalhava em um determinado lugar e o meu patrão, na época, falou em uma reunião da empresa que eu estava sendo usado pelo demônio, porque falava de Umbanda. Fiquei muito triste e acabei pedindo demissão", afirma.
"Naquela época, talvez, eu não tivesse a maturidade que tenho hoje para exigir meu direito de respeito”, revelou em tom de indignação.
Meu patrão, na época, falou em uma reunião da empresa que eu estava sendo usado pelo demônio
Ele explica que sobre a figura do umbandista recaem muitos estereótipos, dentre eles achar que o praticante é sempre velho e pobre.
O pai de santo explica que essas ideias preconcebidas são frutos do preconceito contra os negros ligado à religião, pois a Umbanda é uma religião de matriz africana que ainda é minoria no Brasil.
O uso das redes
Cristian compartilha nas redes sociais diversos conhecimentos sobre a Umbanda. Para ele, mostrar a religião é uma forma de facilitar o diálogo entre crenças distintas e de ajudar as pessoas a descobrirem a espiritualidade sem preconceitos.
“Para que tenhamos uma luta justa contra o preconceito, essa luta deve estar amparada pela distribuição de conhecimento. Muitas pessoas de outras religiões entram em contato com a gente para manifestar aceitação, porque não sabiam que a prática estava ligada ao que divulgo", explica.
Um dos principais serviços oferecidos por Cristian é a consulta oracular. Ele explica que com o oráculo de Ifá, popularmente chamado de “jogo de búzios” e que existe desde 5000 a.C, é possível analisar quais são as energias que influenciam a vida da pessoa e alcançam o campo profissional, os relacionamentos, a saúde, o mental e espiritual.
A partir dessa análise, são oferecidos tratamentos para alterar essas energias e prover a prosperidade. Cada consulta oracular leva no máximo duas horas e pode ser feita sempre que algo precisar ser compreendido ou quando uma decisão necessita ser tomada. De maneira mais padronizada, o tempo recomendado de intervalo entre cada consulta ao oráculo é de quatro meses.
Enzo Tres/MidiaNews
Cristian Siqueira no espaço de sua casa reservado aos atendimentos oraculares.
O pai de santo afirma que a Umbanda ajuda a todos que recorrem a ela, pois um dos principais aspectos da religião é implementar a igualdade na forma de tratar as pessoas, ignorando as diferenças entre crenças e religiões.
“A Umbanda ensina que tudo aquilo que tem vida merece nossa atenção, respeito e cuidado. É filosofia de vida. É uma oportunidade de contato com os ancestrais que do outro lado da vida se manifestam para ajudar as pessoas dentro das suas carências mentais, físicas e espirituais. A proposta é o equilíbrio e o bem-estar”, revela.
Ele ressalta que os umbandistas valorizam o equilíbrio geral sobre a vida, pois estar muito rico em um aspecto e muito pobre em outro é prejudicial.
Ele exemplifica ao dizer que “não adianta estar espiritualmente bem se a conta está vazia”.
“A Umbanda tem interesse em mostrar às pessoas o tanto que elas podem fazer. Liberdade espiritual começa na consciência da consequência das minhas ações. Precisamos ter para sermos felizes com responsabilidade”, esclarece.
Ir sem preconceitos
Ao concluir, Cristian afirma que muitas pessoas têm a ideia de que a Umbanda serve para fazer mal quando, quando na verdade, isso está longe de ser o objetivo da religião.
Ele orienta às pessoas que querem conhecer a prática umbandista a ignorarem os preconceitos e encontrar um terreiro guiado pela seriedade, longe de enganadores, e aceitar a proposta religiosa para desfrutar a prosperidade que ela pode trazer à vida.
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