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Segunda - 26 de Agosto de 2013 às 08:38

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 Não é por maldade nem por falta de educação: algumas crianças simplesmente têm mais dificuldade do que as outras para compartilhar seus brinquedos, roupas e até a atenção dos pais. Perceber essa tendência comportamental é simples. Em uma reunião familiar ou em uma festa infantil, por exemplo, tudo vai bem até que se ouve o choro de um pequeno porque o amiguinho não empresta algo durante a brincadeira. A manha também pode vir da criança que não tem intenção de dividir e se sente invadida. Aí está alguém que não gosta que seus pertences sejam de domínio público.
 
“O adulto tem que respeitar que nem sempre se deve dividir, assim como ele próprio não empresta tudo o que tem aos amigos", afirma psicóloga
 
Via de regra, os pais da criança que não quer compartilhar sentem-se constrangidos diante da situação, principalmente por acharem que estão errando na educação do filho. Não deveriam, pois isso está além do controle inicial deles, como explica a psicóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Na primeira infância, a criança acha que tudo é apenas dela, inclusive a mãe e o pai, que as coisas acontecem por causa dela. Então, emprestar não é uma alternativa. Um pouco adiante, quando ela compreende seu espaço e que existem pessoas com quem precisará dividir o mundo, a situação muda e o compartilhar fica mais fácil, embora não deva ser forçado”.
 
A psicopedagoga Maria Carolina Oliveira, especializada em educação na cidade de Reggio Emilia (Itália) e na Universidade de Harvard (EUA), complementa: “No auge do egocentrismo, por volta dos dois anos de idade, a criança não verbaliza e reage com o corpo. Pode passar pelo amigo e arrancar seu brinquedo, porque, em sua fantasia, o mundo gira ao seu redor, o outro não existe e é seu desejo ter aquilo. Com a linguagem mais desenvolvida, cria argumentos - ‘Não quero emprestar porque não é meu amigo’. Todo esse movimento faz parte do desenvolvimento infantil. Não há nada de ruim, é a construção da personalidade”.
 
Filho único
 
Há quem acredite que filhos únicos são, obrigatoriamente, mais egoístas do que crianças que tenham irmãos. “Em tese, a criança que não precisa dividir seus pertences em casa terá mais dificuldade para fazê-lo em um contexto social”, diz Mara.
 
Mas isso não é regra, de acordo com Maria Carolina. “Há filhos únicos cujos pais são solidários, têm o costume de compartilhar. Convivendo com esse modelo, eles assimilam tranquilamente a partilha e percebem mais rapidamente o valor do brincar junto”, exemplifica.
 
O que fazer quando o filho não compartilha?
 
Um erro comum dos pais é interferir nos momentos de disputa por um brinquedo e tentar convencer a criança de que ela precisa, sim, emprestá-lo. “O adulto tem que respeitar que nem sempre se deve dividir, assim como ele próprio não empresta tudo o que tem aos amigos. É legal compartilhar, mas não é obrigatório”, afirma Mara. Ela defende, ainda, que “o egoísmo, em certa medida, faz bem à saúde emocional e ajuda a formar a identidade da pessoa”.
 
O caminho ideal para lidar com a situação é por meio do diálogo. Em vez de fazer o papel de mediador, ouça o que seu filho tem a dizer sobre a atitude. Pode ser um problema específico com aquele amigo, que nunca divide nada com seu pequeno (e ele se sente injustiçado). Pode ser que ele ache que vá perder o brinquedo. “Algumas crianças pequenas acreditam que, ao emprestarem algo, isso não será mais seu, não terá volta. Cabe aos adultos explicarem o que é o empréstimo”, ensina Maria Carolina.
 
A partir daí, entram em jogo as negociações. Sugira que seu filho faça uma troca temporária de brinquedos com o outro. Marque o tempo que cada um poderá usar o objeto alheio – e garanta o cumprimento dele. “A intervenção tem que ser imediata, como quase tudo ligado ao universo infantil. Se deixar passar muito tempo, perde o sentido”, aconselha a psicopedagoga.
 
É importante lembrar que esse comportamento é parte do amadurecimento da criança e não durará para sempre. Ao fim da primeira infância, por volta dos seis anos de idade, é comum o sentimento de posse diminuir consideravelmente. A entrada na escola facilita esse processo, pois lá são trabalhadas situações de conflito, ajudando no desenvolvimento social dos pequenos.
 
Enquanto essa fase não passa, confira – e coloque em prática – cinco dicas da psicóloga e da psicopedagoga para que seu filho consiga compartilhar com mais facilidade.
 
1. Leve a criança a feiras de troca de brinquedos e livros
 
Ao ver outras crianças abrindo mão de brinquedos e livros em troca de artigos inéditos para elas, seu filho se animará a fazer o mesmo. Além disso, não há sensação de perda, uma vez que ele sairá de lá com o mesmo número de itens com que entrou.
 
2. Selecione, com a criança, roupas e brinquedos que podem ser doados
 
Explique que aquele casaco que não serve mais ou o boneco com que não se brinca há quase um ano podem fazer a felicidade de crianças que passam necessidade. Além de facilitar o desapego, o conceito da solidariedade passa a ser compreendido. Mas atenção: nunca faça isso sem a participação do seu filho, pois você poderá escolher objetos aos quais ele tem apreço e ele poderá se sentir “roubado” ao notar a falta de alguns itens entre seus pertences.
 
3. Evite que seu filho leve brinquedos novos a situações sociais com outras crianças
 
O encantamento pelo brinquedo recém-ganho e as descobertas que ele ainda proporciona tornam muito mais difícil o compartilhamento com outras crianças. Para evitar um desgaste emocional desnecessário, deixe o objeto em casa enquanto sua fase de exploração estiver em andamento.
 
4. Faça uma sessão de filmes em casa para seu filho e os amiguinhos
 
Uma única tela diverte muitas crianças. Escolha um filme que agrade a todas e organize uma sessão em casa. Prepare bastante pipoca e a distribua pelos pacotes ou baldes diante de seu filho, para ele perceber que tudo nesse programa é baseado no compartilhamento.
 
5. Conte detalhes de situações em que você emprestou ou pegou algo emprestado
 
Para reforçar que itens emprestados têm volta, conte para seu filho que vai devolver a uma amiga a bolsa que ela lhe emprestou para ir a uma festa, por exemplo. Empreste uma revista a um vizinho perto da criança e combine quando ela será devolvida. Exemplos ensinam muito.





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