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Nacional
Quinta - 18 de Junho de 2015 às 13:47

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O primeiro depoimento dado à Justiça pelo pai e pela madrasta do menino Bernardo, assassinado aos 11 anos em abril de 2014, ocorreu no dia 27 de maio deste ano. A RBS TV teve acesso a imagens inéditas feitas pela Justiça na sala de audiência do Fórum de Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço (veja o vídeo).

Durante o depoimento, Graciele Ugulini quase nem falou e preferiu o silêncio. Já Leandro Boldrini, o pai, chegou a admitir que errou, mas negou qualquer participação na morte do filho.

"Amo meu filho, vou amar meu filho para sempre. Amo Bernardo. É isso. O Bernaro está vivo para mim. Eu amo ele. Vou amar eternamente", disse o médico Leandro Boldrini.

O vídeo do depoimento dado ao juiz Marcos Agostini está no processo que já tem mais de seis mil paginas. Bernardo desapareceu no dia 4 de abril de 2014, data em que foi morto. Seu corpo só foi encontrado no dia 14 de abril em uma cova na área rural de Frederico Westphalens, a 80 km de Três Passos, onde a vítima morava. Segundo as investigações da Polícia Civil, o menino morreu em razão de uma superdosagem do sedativo midazolan.

Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. Leandro é apontado pela polícia como mentor do crime. Os quatro estão presos desde o ano passado e são acusados de homicídio qualificado.

Na audiência, o médico usou um colete a prova de balas. Falou por pouco mais de duas horas e se declarou inocente.

"Para que todo mundo ouça. A minha inocência é cristalina. Sou inocente. Estou preso injustamente. Agora estou preso por integridade física e não sei o quê. Estou aqui para buscar a verdade. Vou falar todas as vezes que se fazem necessárias. Vou falar todas as vezes, falar a verdade, olhando nos seus olhos e com amor no coração pelo Bernardo. Me destruíram. Estou na lona. Mas pelo Bernardo, cadê o Bernardo? Fico me perguntando o amor do meu filho. Sou inocente, doutor", declarou.

Leandro Boldrini admitiu ter cometido erros como pai. "Eu reconheço. Foram erros que não justificavam o que foi feito. Todo mundo erra como pai, erra como mãe, erra como família. Sempre tentei buscar o melhor. Sou uma pessoa esclarecida e jamais compactuaria com crueldade dessas", disse.

Durante o depoimento, o pai de Bernardo ainda apelou por justica, disse que não fez nada que tenha que pagar e rebateu uma das principais provas apresentadas pela polícia do envolvimento do crime. Ele negou que tenha assinado a receita do medicamento midazolan, usado para matar a criança.

"Fiquei sabendo da morte do Bernardo quando eu já estava preso. Eu perguntei para a Graciele: 'Você tem participação nisso?'. Ela disse que sim. Ela me confessa isso na delegacia depois de estar presos", declarou. "Aí , quando eu cai na real mesmo de ficar sabendo do que realmente tinha acontecido. Algemado. Eu sou muito sincero eu entrei em desespero. Bah, eu chorei. Quando soube que ela tinha participação, fiquei indignado com ela".

O advogado da avó de Bernardo perguntou se Leandro não notou nada de anormal no comportamento da madrasta enquanto o menino estava desaparecido. "Quando você confia em uma pessoa, determinada atitude não é superior à confiança nessa pessoa. A não ser que você tenha o oitavo sentido, o sexto sentido. Se você tem relação de confiança, você acredita nela", respondeu.

Ao ser perguntado se foi traído por Graciele, disse que sim. Entretanto, em outros momentos, defendeu a madrasta da criança.

"A Graciele chegou a agredir ele fisicamente?", indagou ou juiz. "Não, não, nunca. Nem fisicamente, nem moralmente", respondeu Boldrini. "Jamais me passou pela cabeça que ela iria fazer um negócio desses", completou.

Leandro também falou sobre os outros dois acusados: os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Ele disse não conhecer Evandro. Sobre a irmã dele, apenas lembrou um depoimento à polícia divulgado em rede nacional em que ela admite o crime (assista ao vídeo do Fantástico).

O juiz também quis saber sobre os vídeos recuperados pela perícia no celular de Leandro. Em um deles, o médico filmou o filho com um facão. Negou ter instigado violência no filho.

"Não era instigar o lado violento. Mas assim de dizer 'você' é capaz de fazer isso. Contra eu mesmo, contra mim. Calma, cara, calma, Bernardo", afirmou.

O pai, entretanto, se negou a assistir aos vídeos novamente, e houve bate boca. "Esses vídeos vão ser mostrados para a imprensa. Vai ser mais para me denegrir, doutor".

Em um outras imagens divulgadas anteriormente, Bernardo grita na janela da casa e pede socorro. Leandro disse que o filho estava revoltado porque queria ir à casa de um amigo. Entretanto, já era tarde e ele não teria deixado.

"Esses vídeos foram feitos em um intuito de registrar a agressividade. São vídeos que mostram que há um conflito na família para procurar ajuda psicológica, de psiquiatra. Foram feitos em meados de 2013", defendeu.

Já quando respondeu às perguntas feitas pelo advogado da avó de Bernardo, Leandro Boldrini foi irônico. "O senhor e subjetivo na sua pergunta, desculpa lhe dizer", declarou. Depois, por várias vezes tentou desqualificar as perguntas de Marlon Taborda, com gestos.

O advogado quis saber então se ele não notou nada de anormal no comportamento da madrasta, na época a mulher dele, Gracieli Ugulini. Leandro falou então que estava dormindo. "Ela saiu com o Bernardo. Se eu estava na sesta, como que ia saber que ela saiu com o Bernardo. Está respondido, doutor?", indagou, batendo boca com o advogado em seguida.

"Por que o senhor impediu a avó de visitar Bernardo?", perguntou Marlon Taborda. "Não esqueça que o senhor retirou o processo de Santa Maria. Nós estamos lá", respondeu Leandro. "Não manipule os fatos", retrucou o advogado.

"Tchê, estou com a minha vida destruída. Perdi meu filho. Cadê o Bernardo, cadê o Bernardo? Você está fazendo apologia contra mim. Está tentando cravar facas em mim. Minha vida está destruída. Cadê meu luto? Você precisa ver o meu corpo. Perdi meu filho, meu filho. Como que você acha que estou me sentindo. Uma pessoa respeitada, com credibilidade, com uma família, se encontrar em uma situação dessas", desabafou Leandro.

O vídeo da Justiça também registra os depoimentos dos demais acusados. A madrasta Graciele Ugolini preferiu o silêncio. Ainda há as versões de Edelvânia Wirganovicz, que confessou envolvimento no crime e depois mudou a versão, e do irmão dela, Evandro Wirganovicz, que, segundo o Ministério Público ajudou a abrir uma cova, disse que é inocente.

A audiência foi conduzida pelo juiz Marcos Luís Agostini, titular do processo da 1ª Vara Judicial da Comarca. Na véspera, os defensores de Graciele e Edelvânia chegaram a pedir dispensa do comparecimento delas na audiência. Porém, a Justiça negou e mandou que elas fossem levadas ao Fórum de Três Passos.

O processo está agora na fase das alegações finais. Os advogados de defesa e a acusação apresentam seus últimos argumentos.

Ao final, o juiz terá quatro opções: sentença de pronúncia (os réus vão ser julgados em júri popular), sentença de impronúncia (o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria e o processo é arquivado), absolvição sumária (réus inocentados) e desclassificação (em discordância do juiz com a acusação, o caso acaba sendo julgado em vara criminal). Caso o juiz decida que os réus devam ser levados ao Tribunal do Júri, sete cidadãos de Três Passos serão escolhidos para julgar os acusados e decidir o futuro de cada um.

O que dizem os advogados sobre os interrogatórios
O advogado de Evandro, Hélio Francisco Sauer, diz que o réu não teme ir a julgamento. "Temos uma denúncia sem qualquer elemento probatório. O meu cliente não teme júri popular e não vai recorrer se pronunciado for para júri".

A defesa de Edelvânia, Demetryus Grapiglia, afirma que a cliente está com dificuldade de falar devido a medicamentos. "Ela está tomando medicação de uso controlado à revelia da defesa. Nem sei o que estão dando a ela. Eu, mesmo, na condição de procurador dela, tentei conversar com ela, mas ela não conseguiu se comunicar. Eu disse a ela que, se ela não tem condições de falar, psicológica e psiquiatricamente, ela nao deveria falar. O juiz insistiu, a obrigou a vir, mesmo tendo em mãos um documento assinado por ela dizendo que ela não poderia falar".

Segundo o advogado, a mudança do presídio de Três Passos, onde recebia visitas da família, para o de Guaíba prejudicou sua cliente. "Ela não recebe visitas, porque a família é muito pobre e não tem condições de visitá-la. Ela está em uma cela isolada e sem TV, o que não seria privilegio algum. Hoje, ela é praticamente uma débil mental", conclui.

Marlon Taborda, advogado da avó de Bernardo, Jussara Uglione, acredita que que é possível haver julgamento ainda neste ano diz que o silêncio será usado contra quem ficou calado.

"O silencio vai ser usado contra eles. A Constituição garante o direito de ficar em silencio, mas quem é inocente vai se agarrar a qualquer chance de atestar sua inocência. Foi um dia bom para fechar esta fase do processo. Acredito que os réus serão pronunciados ao júri popular".

Taborda afirmou ainda que o depoimento de Leandro teve dissimulação. “Me chamou a atenção a lembrança exata de atos profissionais e a não lembrança, por exemplo, se passou o dia dos pais com o Bernardo”, conclui.

Os advogados de Graciele e Leandro não quiseram se manifestar.

Relembre o caso
- O menino de 11 anos Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde daquele dia, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

GNews - Menino Bernardo (Foto: globonews)Bernardo foi encontrado morto em abrilo do
ano passado (Foto: GloboNews)

- Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

- O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.

- Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público (MP) apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.

- O irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Ele seria o responsável por cavar a cova onde o menino foi enterrado.

- Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO

Menino Bernardo Boldrini com a avó, Jussara Uglione (Foto: Reprodução/Facebook)Menino Bernardo Boldrini com a avó, Jussara
Uglione (Foto: Reprodução/Facebook)

Como Bernardo morreu?
A Polícia Civil aponta que Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.

Com quem Bernardo morava?
Ele vivia com o pai, a madrasta e a bebê do casal, à época com cerca de um ano, em uma casa em Três Passos. A mãe de Bernardo, Odilaine, morreu em fevereiro de 2010. Recentemente, o Ministério Público solicitou novos documentos sobre o caso de Odilaine. Em até 30 dias, o MP deve se manifestar a favor ou contra a abertura das investigações. O inquérito policial concluiu que ela se matou, mas uma perícia particular contratada pela família aponta a hipótese de homicídio.

Quem está preso?
O médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e o irmão Evandro Wirganovicz.

Quando ocorre o julgamento?
Ainda não há data marcada. Após o interrogatório dos quatro réus nesta quarta, as defesas apresentam seus argumentos. A expectativa é que o julgamento aconteça até o fim de 2015.

Os réus respondem por quais crimes?
Leandro Boldrini vai responder por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Graciele e Edelvânia responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver.

Como o corpo foi encontrado?
Na noite do dia 14 de abril, o corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de onde o menino morava. Edelvânia mostrou aos policiais onde o corpo da criança estava enterrado.

Como era a relação de Bernardo com o pai?

No ano passado, vídeos gravados pelo próprio pai mostram discussões do menino com o casal. Em um deles, a criança está com uma faca na mão e é instigada por Leandro. "Vamos lá, machão", diz o médico. Há também relatos de vizinhos e amigos dão conta que o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso.

No início de 2014, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.

De acordo com o MP, desde novembro de 2013, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.

O médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.

O que ocorreu com a mãe de Bernardo?
Odilaine Uglione foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, em Três Passos. À época, a investigação da polícia concluiu que ela cometeu suicídio com um revólver. Em 29 de março, o Fantástico mostrou o resultado de uma perícia particular contratada pela família, que conclui que a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa (leia mais aqui).





Fonte: Do G1

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