Vídeos que expõem meninas na internet podem motivar CPI Integrantes de movimentos sociais afirmam que sites se negam a tirar conteúdo do ar
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlos Bezerra Jr., sugeriu a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar a divulgação de vídeos em que meninas são expostas em uma lista conhecida como "Top 10", montada por adolescentes que classificam dez meninas como "vadias".
O assunto foi discutido em audiência pública na última quarta-feira (10). Integrantes de movimentos sociais que prestam atendimento às vítimas participaram da reunião e denunciaram que empresas como Facebook e Google não retiram do ar o conteúdo após a reclamação das vítimas e dos movimentos.
A lista “Top 10” circula há mais de um ano e tem tido efeito drástico na vida das adolescentes. Muitas garotas abandonaram os estudos, tiveram que mudar de bairro ou cidade e pelo menos 12 vítimas já tentaram suicídio desde o ano passado no Grajaú, Parelheiros e Embu das Artes. Além dos vídeos na internet, listas são coladas em escolas e muros foram pichados com xingamentos.
O Facebook e o Google foram convidados a participar da audiência pública, mas informaram que mantêm os vídeos porque atuam de acordo com as diretrizes das sedes das empresas, nos Estados Unidos, e que só compareceriam por ordem judicial.
A deputada Beth Sahão exibiu durante o encontro parte dos vídeos e relatou que há até notícias de suicídios de adolescentes. O presidente da comissão sugeriu a CPI para investigar a conduta das empresas no caso por se tratar de um crime cibernético. A proposta foi apoiada por outros parlamentares e sugerido a Beth Sahão que recolha assinaturas.
Os deputados propuseram ainda que o Ministério Público e a Defensoria Pública criem um grupo de trabalho para cobrar a retirada dos vídeos da internet, com notificação extra-judicial, tanto do Facebook quanto do Google, pedindo agilidade. Os parlamentares aprovaram o envio de um ofício para as secretarias da Educação e da Saúde, pedindo capacitação de profissionais para lidar com essa nova realidade nas escolas, além da produção de cartilhas.
Depoimentos
O R7 já havia denunciado a lista. Algumas vítimas conversaram com a reportagem, mas preferiram não se identificar. T. P., de 15 anos, é uma das garotas que tiveram o nome divulgado em uma lista no Grajaú. Ela afirma que estava em casa, no Jardim Varginha, quando uma amiga a avisou do "TOP 10".
— De um dia para o outro, todo o bairro me conhecia e me apontava como piranha. Eu estava em 6º lugar no "TOP 10" com o argumento de que eu me achava e pagava de gostosa na escola. Depois, minhas amigas saíram no "TOP 10 Dá a b...... para o namorado e deixa o c... para os moleques na rua”. Pior foram as minhas amigas que eram lésbicas e os pais não sabiam e fizeram uma lista disso. Todo mundo ficou sabendo. Quem quer ir para a escola depois disso?
Ela afirma ainda que frequentava uma igreja evangélica e passou a sofrer preconceito no local depois que outros integrantes ficaram sabendo.
— Eu tive que parar de ir até na igreja, porque perguntaram como eu era evangélica e estava numa lista dessas. Só que eu não fiz nada para estar nela. Eu não tenho culpa.
Nem mesmo os pais sabiam o que se passava com as filhas. A dona de casa I.M., do bairro Barragem, em Parelheiros, conta que a filha, de 14 anos, ficou uns dois dias chorando trancada no quarto e não queria ir para a escola.
— Ficamos desesperados porque ninguém entendia nada. Depois soubemos que ela estava nesse "TOP 10" falando que ela era mais rodada que pneu de caminhão. Tivemos que conversar muito, dar muita atenção para animá-la e fazer com que retornasse para a escola. Ela ainda sofre porque anda na rua e tiram sarro dela.
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