Escutas dão indícios de leite adulterado Oitava etapa da Operação Leite Compensado foi deflagrada nesta quarta. Ministério Público investiga fraude no leite em municípios da Região Norte.
Oitava fase de operação contra fraude no leite foi deflagrada na manhã desta quarta (Foto: Marjuliê Martini/MP)
Escutas telefônicas obtidas pelo Ministério Público dão indícios de como ocorriam adulterações no leite durante o transporte do produto na Região Norte do Rio Grande do Sul. Na manhã desta quarta-feira (13), a oitava fase da Operação Leite Compensado cumpriu seis mandados de prisão preventiva, três de prisão cautelar e oito de busca e apreensão nos municípios de Campinas do Sul, Jacutinga e Quatro Irmãos, na Região Norte.
Investigações verificaram alteração na densidade do leite, por adição de produtos como sal, açúcar ou amido de milho, acidez elevada, que indica a deterioração por micro-organismos, além de adição de soro de leite. Segundo o MP, houve fraude nos produtos crus refrigerados entregues pela empresa Transportes Odair Ltda. e recebidos pela Cooperativa de Pequenos Agropecuaristas deCampinas do Sul (Coopasul).
Na residência do dono da transportadora, Odair Melati, foi encontrada em um notebook uma gravação telefônica feita por ele próprio em que pergunta a um outro homem quanto de leite havia sobrado no dia. Ao ouvir a resposta de que sobraram 800 litros, ele responde: "1,6 mil então". Em seguida, ele ri (ouça no áudio ao lado).
Essa conversa, segundo o MP, é considerada um indício da adição de água ao leite para dobrar o volume entregue à Coopasul. Procurado pela RBS TV, Melati não quis se manifestar sobre a fraude.
"Hoje, por ocasião da busca na residência dele, Odair Melati, nós encontramos um pendrive com alguns diálogos gravados. Ele tinha o hábito de gravar conversas com seus funcionários motoristas, além do presidente da Coopasul", disse o promotor Mauro Rochemback.
O Ministério Público chegou à fraude por causa de escutas realizadas em outra fase anterior da operação, deflagrada em dezembro do ano passado. Na época, o leite era transportado pelo mesmo empresário preso nesta quarta.
O áudio (ouça ao lado) mostra um laboratorista da cooperativa Cotrel, investigada na ocasião, conversando com Ângelo Paraboni, um dos sócios.
"Chegou uma amostra aqui do Melati, está puro bicho dentro do leite, de podre que está o tanque. A gente tirou as mostras e veio os bichinhos brancos, de podre. Esse leite não era nem de analisar, era de condenar", diz o laboratorista.
Além de Odair e da mulher dele, também são investigados três motoristas da empresa, um responsável pelo laboratório da Coopasul, além do presidente da cooperativa, que, conforme o Ministério Público, recebia as cargas de leite adulterado e dava a destinação final, a partir da diluição do leite velho com o bom.
Escutas telefônicas também comprovam que os dois recebiam leite em desconformidade. Em uma situação, um motorista foi orientado para esperar a fiscalização do Mapa sair da Coopasul para, depois, entregar a carga normalmente. O presidente da cooperativa nega a existência de fraude.
Ainda segundo o MP, as investigações mostram que o transportador lançou na conta de uma produtora rural até o triplo do leite coletado, o que disfarçaria o aumento no volume do leite a partir da adição de água. Foi indicado, inclusive, um escritório de contabilidade para "ajeitar" o imposto de renda da produtora.
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A Operação Leite Compensado teve sua primeira fase desencadeada em 8 de maio de 2013, quando investigações apontaram para um esquema que adulterou cerca de 100 milhões de litros do produto no estado. Na ocasião, o MP revelou que transportadores estavam adicionando água e ureia (que contém formol) ao leite cru para aumentar o volume e disfarçar a perda nutricional no caminho entre a propriedade rural e a indústria. O esquema era realizado em postos de resfriamento.
As etapas da Operação Leite Compensado
Sétima etapa: foi deflagrada no começo de dezembro de 2014, quando o Ministério Público do Rio Grande do Sul descobriu que em diversos casos o produto já saía adulterado da propriedade rural. Ao todo, 16 pessoas foram presas e um posto de resfriamento interditado em Erechim.
Ainda foram apreendidos oito caminhões, usados para o transporte do leite adulterado com água e adição de sal para mascarar testes que apontam presença de água.
Sexta etapa: esta fase foi deflagrada em 10 municípios do Rio Grande do Sul e em Londrina, no Paraná. As investigações duraram seis meses e apontam que uma cooperativa paranaense comprava o produto já fraudado no estado gaúcho.
A Justiça autorizou a apreensão de 24 caminhões utilizados para transportar o leite adulterado. O produto era revendido, além do Paraná, para São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Quinta etapa: foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e três de prisão em 10 cidades do Vale do Taquari e Vale do Sinos por adulteração no leite.
Quarta etapa: foi desencadeada em 14 de março de 2014 nas cidades de Condor, Panambi, Tupanciretã, Bossoroca, Capão do Cipó, Vitória das Missões, Ijuí e Santo Augusto, com uma pessoa denunciada.
Terceira etapa: realizada em 7 de novembro de 2013 no município de Três de Maio. Quatro pessoas foram denunciadas e ninguém foi preso.
Segunda etapa: foi deflagrada em 22 de maio de 2013 nos municípios de Ronda Alta e Boa Vista do Buricá. Quatro pessoas foram presas e seis foram denunciadas pelo MP.
Primeira etapa: deflagrada em 8 de maio de 2013, quando investigações apontaram um esquema que adulterou cerca de 100 milhões de litros do produto no RS. Na ocasião, o MP revelou que transportadores estavam adicionando água e ureia (que contém formol) ao leite cru para aumentar o volume e disfarçar a perda nutricional no caminho entre a propriedade rural e a indústria.
O esquema era realizado em postos de resfriamento. Foram identificadas fraudes nos municípios de Guaporé, Horizontina e Ibirubá. Quinze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público e oito foram presas.
Segundo o MP, água era adicionada ao leite (Foto: Marjuliê Martini/MP
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