Vítimas de naufrágio relatam mortes a pauladas na Líbia Segundo um dos sobreviventes, um menino também foi morto a tabefes durante o transporte entre o litoral e o barco pesqueiro
Os sobreviventes do naufrágio no Canal da Sicília de 19 de abril, que pode ter matado 750 imigrantes, relataram aos promotores de Catânia como permaneceram até um mês na Líbia sofrendo torturas e que alguns foram assassinados por pauladas de bastão pelos traficantes. "Os imigrantes foram inicialmente concentrados em campos aos arredores de Trípoli, onde havia entre mil e 1,2 mil pessoas, e depois conduzidos em caminhonetes até o litoral e ali transferidos em lanchas até o pesqueiro que se encontrava já em mar aberto", explicaram os magistrados.
A promotoria explica que alguns sobreviventes declararam que pagaram entre mil e 1,5 mil dinares líbios (cerca de 600 e 1000 Euros) pela viagem, enquanto outros até US$ 7 mil, e especificam que desconhecem até o momento as razões de tanta diferença.
Os sobreviventes contaram como durante sua permanência nos campos líbios, alguns até de um mês, os traficantes "batiam com bastões nos que não obedeciam" e alguns morreram pelos golpes ou pelas terríveis condições nas quais se encontravam.
Um deles relatou que "um menino foi morto aos tabefes durante o transporte desde o litoral até pesqueiro só porque tinha levantado sem permissão e seu corpo foi lançado ao mar".
Outros asseguraram ter visto nos arredores dos campos onde foram concentradas "pessoas com uniforme e armas", assim como a entrega de dinheiro por parte dos traficantes a gente "indicada como policiais".
A promotoria de Catânia, na ilha italiana da Sicília, que segue o caso do naufrágio, divulgou uma lista com os nomes e nacionalidades declaradas pelos 28 sobreviventes e informou que isso servirá para esclarecer a dinâmica do naufrágio e a acusação dos dois traficantes detidos.
Os sobreviventes, assim como o resto dos imigrantes que viajavam no pesqueiro, procedem do Mali, Bangladesh, Eritréia, Somália, Senegal, Serra Leoa, Costa do Marfim e Gâmbia, e quatro deles seriam menores, segundo a lista divulgada pela Promotoria.
Com relação à reconstrução do naufrágio, os sobreviventes explicaram que sentiram três golpes provocados pelas manobras do traficante tunisiano que comandava a embarcação ao querer se aproximar da embarcação portuguesa que chegou perto para prestar socorro, "o que provocou fortes oscilações da embarcação".
A promotoria comunicou que a maior parte dos sobreviventes reconheceu os dois detidos, o tunisiano Muhammad Ali Malek e o sírio Bikhit Mahmoud, como os traficantes que estavam no barco. Estes, segundo os testemunhos, se comunicavam através de um telefone via satélite com a organização líbia de traficantes. Os sobreviventes confirmam como a tripulação da embarcação mercante português ajudou imediatamente a socorrer os que tinham caído no mar e que "passaram muitas horas" na busca dos náufragos ou dos possíveis corpos.
Ainda hoje, a juíza decidirá com base nos testemunhos se validará a detenção preventiva dos dois acusados.
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