'Não vim discutir costumes', diz Cunha após ato Presidente da Câmara foi alvo de protesto de grupo anti-homofobia. Em meio ao tumulto, manifestantes foram tirados do plenário por policiais.
Manifestantes de grupos anti-homofobia foram retirados pela polícia militar das galerias da Assembleia Legislativa de São Paulo após protesto contra o presidente da Câmara dos Deputados (Foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo)
Expulsão dos manifestantes
Diante dos gritos de ordem que ecoavam no plenário enquanto Eduardo Cunha tentava discursar, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fernando Capez (PSDB-SP), determinou a suspensão da sessão e o esvaziamento do plenário por policiais militares. A sessão foi retomada cerca de 10 minutos depois, sem a presença de manifestantes. Com as galerias vazias, Cunha retomou o discurso.
“O parlamento pressupõe o debate com aqueles que querem se manifestar livremente. Aqueles que não querem debater vão impedir que o debate seja feito”, declarou Cunha após o reinício da sessão.
"Nós viemos com toda a humildade, num programa muito importante da Câmara dos Deputados para debater com aqueles que querem debater, que podem livremente, dentro das audiências, se manifestar, trazer suas sugestões, criticar-nos por qualquer posição que venhamos a tomar, mas isso faz parte da democracia. A maioria quer debater", complementou o peemedebista, sendo aplaudido pelos deputados que ocupavam o plenário.
Com o fim do tumulto, o presidente da Assembleia Legislativa determinou que as galerias fossem reabertas para que o público pudesse acompanhar o evento. Ele ressalvou, porém, que a presença das pessoas só seria permitida desde que as pessoas respeitassem o regimento interno e não se manifestassem durante o discurso dos deputados.
A audiência pública desta sexta-feira é a segunda edição do programa "Câmara Itinerante", que pretende levar a Câmara dos Deputados até as assembleias legislativas de diferentes regiões do país. A justificativa para o deslocamento do Legislativo é de que os parlamentares precisam ouvir as necessidades locais. Na etapa de São Paulo, o presidente da Câmara propôs um debate sobre reforma política, pacto federativo e crise hídrica.
Crítica na Câmara
No momento em que a direção da Assembleia paulista suspendeu a sessão para retirar os manifestantes do plenário, o deputado federal Marcos Rogério (PDT-RO) – aliado de Eduardo Cunha – discursou no plenário da Câmara, em Brasília, para criticar o protesto contra o presidente da Casa. Segundo ele, a manifestação contra Cunha na capital paulista teria sido promovido por "grupos organizados".
"Me preocupa esse cenário político atual em que grupos organizados mobilizados para determinar intolerância a segmentos da política nacional. Ali [na Assembleia de São Paulo] me pareceu uma coisa muito bem engendrada para que a audiência pública não prosseguisse. [...] Presenciei do meu gabinete, pela TV Câmara, uma cena incompatível com o ambiente que estavam os parlamentares presentes naquele local", enfatizou.
Manifestantes estenderam uma faixa no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo na qual acusaram o presidente da Câmara de 'corrupto' e 'homofóbico' (Foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo)
Constituinte e reforma política
Após o evento na Assembleia paulista, o presidente da Câmara conversou com jornalistas. Ele comentou a reivindicação dos manifestantes por uma Constituinte e disse que a ideia é defendida por uma "minoria". " Sou frontalmente contrário", afirmou.
Ele disse ainda que as questões relativas à reforma política serão decididas pelo Congresso. "Eu acho que a maioria da Casa não quer o financiamento público e voto em lista, mas essa votação, o debate, pode permitir o convencimento ou não."
Crise política
Cunha também respondeu sobre a relação com o Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, apesar de ser de um partido que compõe a base aliada, tem dificultado aprovação de projetos de interesse do governo.
Questionado sobre o tema, ele disse que o governo deve aprender a fazer "política correta" com os aliados.
"Nós temos que ajudar o governo na sua governabilidade, nós temos que ajudar o governo no seu ajuste fiscal, nós temos que aprovar medidas que sejam importantes para a contenção dos gastos públicos", disse."Mas ao mesmo tempo temos que debater os pontos políticos. E o governo tem que aprender, através dos seus representantes na articulação política, a fazer a política correta com aqueles que querem ter como seus aliados."
Cunha voltou a criticar uma tentativa de recriação do Partido Liberal. Políticos contrários à ideia dizem que a iniciativa parte do ministro das Cidades, GIlberto Kassab (PSD), apoiado pelo Palácio do Planalto. Segundo esses políticos, o PL seria fundido ao PSD e criaria uma base de apoio ao governo que dependeria menos de aliados como o PMDB.
"Já critiquei publicamente essa situação do partido que está sendo criada tentando diminuir o papel de partidos existentes dentro da base aliada, tentando enfraquecer esses partidos. Isso agravou a crise política", afirmou Cunha.
Ele finalizou criticando a criação de "qualquer partido que seja criado debaixo de uma máquina pública, com interesse político". "Isso prejudica. Não vamos discutir reforma política criando partido fictício. O governo querer ter uma base aliada a ele não é ajudar com a máquina pública a criar partidos para tirar parlamentares de partidos aliados, e promover o dilaceramento dos partidos políticos gravitando em torno do apoiamento ao governo", complementou.
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