Com 11 condenados e 82 réus, Lava Jato completa um ano Empreiteiras são alvo de ações civis, e 48 políticos são investigados. PF apura esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras.
A Operação Lava Jato completa nesta terça-feira (17) um ano desde que a Polícia Federal (PF) fez as primeiras prisões em um posto de gasolina no Distrito Federal. Os primeiros 81 mandados de busca e apreensão de então resultariam na maior operação contra corrupção já deflagrada no país, que investiga um esquema de desvio de recursos da Petrobras, movimentando R$ 10 bilhões.
Em suas 10 fases até o momento, a PF já cumpriu mais de 350 mandados de prisões preventivas, temporárias, busca e apreensão e condução coercitiva (quando o investigado é levado a depor).
Ao todo, 22 pessoas estão presas – a maioria está na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
As prisões mais recentes ocorreram na segunda-feira (16), quando a PF cumpriu18 mandados judiciais. Entre os detidos está Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Ele e o tesoureiro do PT João Vaccari Neto foram denunciados por corrupção e lavagem de dinheiro.
A atuação da polícia culminou na abertura de 19 ações penais que tramitam contra 82 réus na Justiça Federal do Paraná, além de cinco ações civis públicas contra as empreiteiras acusadas de cobrar propina da estatal. São alvo as empreiteiras Camargo Corrêa, Sanko-Sider, Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia e Engevix. Onze réus já foram condenados e recorreram.
O Paraná é o coração da operação porque foi lá que as investigações sobre lavagem de dinheiro começaram e onde foram cometidos alguns dos crimes mais graves. A tese foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve os processos que não envolvessem políticos a cargo da Justiça Federal no estado.
O juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal, é o responsável pela Operação Lava Jato (Foto: J.F. Diorio/Estadão Conteúdo)
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, já ouviu quase uma centena de testemunhas de acusação e defesa nos processos, que têm como um dos principais fundamentos um instituto polêmico entre operadores do direito: a delação premiada. Foram fechados 12 acordos de delação.
O doleiro Alberto Youssef, preso da Operação Lava Jato (Foto: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Foi principalmente baseado em depoimentos do doleiro Alberto Youssef, suspeito de operar o esquema de desvios da Petrobras, e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que Moro encaminhou ao STF vasta documentação que culminou na abertura de inquéritos para investigar 48 políticos.
O ministro Teori Zavascki, do STF (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
A autorização para a abertura das investigações foi dada pelo ministro Teori Zavascki em 6 de março deste ano. Foram citados 22 deputados federais, 13 senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora de cinco partidos: PT, PSDB, PMDB, PP e PTB.
O empresário Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano (Foto: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo)
Também são investigados o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Soares, o "Fernando Baiano", apontados como operadores do esquema. Youssef também apontou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso condenado pelo mensalão, recebia dinheiro do "caixa 2" para o PT provindo da corrupção na estatal.
Veja todos os nomes, os indícios contra cada um e o que diz a defesa
O ministro Dias Toffoli (Foto: Roberto Jayme/TSE)
Mas Teori pode nem chegar a julgar possíveis ações penais, já que seu mandato termina em maio. O ministro Antonio Dias Toffoli é quem deverá presidir a Segunda Turma do STF, para onde pediu transferência.
Dilma e Aécio não foram incluídos na investigação (Foto: Ricardo Moraes/Reuters e Alexandre Durão/G1)
A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, foram citados em depoimentos de delatores, mas tanto a Procuradoria Geral da República quanto o ministro Zavascki, do STF, entenderam que a investigação em relação a ambos não se justificava.
O governador do Acre, Tião Viana e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (Foto: G1)
Em 12 de março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu ainda inquéritos para investigar os governadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre, Tião Viana(PT). O ministro também decidiu derrubar o segredo de Justiça das duas investigações.
Os dois foram citados por delatores da Operação Lava Jato como beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Eles negam as acusações. No inquérito de Pezão, também serão investigados o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o ex-chefe da Casa Civil Regis Fichtner.
CPI da Petrobras ouve Pedro Barusco (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Até agora, o MPF conseguiu a repatriação de R$ 139.666.471,17, que foram desviados porPedro Barusco, ex-gerente da Petrobras. O dinheiro estava em contas na Suíça. Mas a Procuradoria quer a devolução de R$ 1,5 bilhão dos acusados.
O que se sabe sobre o esquema
As investigações da Lava Jato começaram por ações do doleiro Alberto Youssef, depois do escândalo de desvios do Banestado. A PF monitorava Youssef e um grupo de doleiros suspostamente envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro, que vinha de várias fontes, como tráfico de drogas e uso de empresas de fachada.
A PF e o MPF chegaram então a uma suposta ligação entre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o esquema comandado por Youssef. Costa foi preso após receber um carro de luxo avaliado em R$ 250 mil do doleiro. O ex-diretor foi detido em 20 de março de 2014 enquanto destruía documentos que podem servir como provas no inquérito. Hoje, cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro.
À esq., o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Foto: Vagner Rosario/Futura Press)
Em agosto de 2014, Costa decidiu aderir à delação premiada, auxiliando a Justiça em troca de diminuição da pena, e revelou o esquema de pagamento de propina na Petrobras que, segundo ele, era cobrada de fornecedores da estatal e direcionada para atender a PT, PMDB e PP. Os recursos teriam sido usados na campanha eleitoral de 2010. Os partidos negam. Segundo Costa, as diretorias comandadas pelos três partidos recolhiam propinas de 3% de todos os contratos.
De acordo com o ex-diretor, a operação teve início em 2006, quando se formou um cartel entre grandes empreiteiras para prestação de serviços à Petrobras e para obras de infraestrutura, como a construção de hidrelétricas e aeroportos. Segundo a PF, 11 investigados seriam os operadores do esquema.
O ex-gerente Pedro Barusco disse que Renato Duque comandava o esquema na diretoria de Serviços da Petrobras. Segundo o delator, o dinheiro das propinas era repassado ao PT. Duque já havia sido preso em dezembro, na sétima fase. Desde esta segunda (16), ele está em prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, preso na Polícia Federal, no centro do Rio (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
As investigações citam o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, como um dos operadores do esquema de corrupção. De acordo com o MPF, ele era uma das pessoas que pedia propinas às empresas. Em nota, a defesa do petista afirma que ele não participou de qualquer esquema. De acordo com o texto, "o sr. Vaccari não ocupava o cargo de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores".
Cassação
A apuração da PF também trouxe à tona indícios de ligação entre Alberto Youssef e o deputado federal cassado André Vargas (sem partido-PR). Os dois teriam atuado para fechar um contrato milionário entre uma empresa de fachada e o Ministério da Saúde. Além disso, o parlamentar do Paraná reconheceu que, em janeiro, viajou para João Pessoa (PB) em um jatinho emprestado pelo doleiro.
O deputado André Vargas (sem partido-PR) (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Vargas alegou que não há irregularidades na sua relação com o doleiro preso pela operação Lava Jato. Pressionado pelo próprio partido em razão das denúncias, Vargas renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e se desfiliou do PT. Ele também se tornou alvo de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara, que aprovou parecer que pede sua cassação. Em dezembro de 2014, o plenário votou pela cassação.
O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) também se tornou alvo das investigações da PF devido à relação com Alberto Youssef. Em relatório, a PF disse que"os indícios apontam que o deputado tratava-se de um cliente dos serviços prestados por Youssef, por vezes repassando dinheiro de origem aparentemente ilícita, intermediando contatos em empresas, recebendo pagamentos, inclusive tendo suas atividades operacionais financiadas pelo doleiro". Argôlo nega as acusações.
O deputado Luiz Argôlo (Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)
Em outubro do ano passado, o Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer pedindo a cassação do mandato de Argôlo por considerar ter havido “tráfico de influência, prática de negócios e pagamentos ilícitos”. Mas ele conseguiu terminar o mandato sem que o relatório fosse votado.
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