Defesa diz que PM atirou para assustar surfista Segundo advogado, vítima teria se retirado do local e voltado com facão. Surfista Ricardo dos Santos foi atingido por três tiros e morreu no hospital.
O advogado do policial militar Luis Paulo Mota Brentano, de 25 anos, suspeito de ter assassinado o surfista Ricardo dos Santos, 24, alegou que o PM teria efetuado os disparos "simplesmente para assustar, e não para acertar [em Ricardo dos Santos]". O depoimento foi dado à reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV (veja no vídeo acima). Ricardinho, como era conhecido pelos amigos, foi atingido por três tiros na segunda-feira (19) e morreu no hospital na terça (20). Ele foi enterrado nesta quarta (21), em Paulo Lopes, cidade vizinha de Palhoça, onde ele nasceu e viveu na praia da Guarda do Embaú.
Ricardo dos Santos morreu aos 24 anos
(Foto: Instagram/Reprodução)
O atleta foi atingido na região entre o tórax e o abdômen, na manhã de segunda (19), após um desentendimento com um policial, que estava acompanhado do irmão, menor de idade. O crime ocorreu na frente da casa do esportista. O surfista morreu às 13h10 de terça no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis. Ele passou por quatro cirurgias, três delas na segunda, mas não resistiu aos ferimentos.
O advogado do policial, Gilmar Schelbauer, sustenta a tese de legítima defesa, já alegada pelo PM e o irmão dele, menor de idade, em depoimento à Polícia Civil, na segunda-feira (19). Segundo o advogado, após uma discussão, a vítima teria voltado com um facão para se defender. "Ele [o PM] já estava indo embora e a vítima [Ricardinho] teria investido contra ele. Os disparos foram efetuados simplesmente para assustar, e não para acertar", afirmou o Schelbauer.
Ricardo dos Santos era especialista em ondas
grandes (Foto: Reprodução/Instagram)
Segundo algumas testemunhas, o policial estaria consumindo drogas no momento da discussão. A tese é contestada pelo advogado, que alega que o cliente não usa drogas. "Desde o início ele se colocou em disposição da Justiça pra fazer o exame toxicológico. Ele fez o exame e deixou o veículo dele na delegacia. Foi feito uma perícia em todo o veículo para verificar se foi encontrado algum resquício de droga", alega. Quando sairem, os resultados do exame e perícia serão encaminhados para a Polícia Civil e, posteriormente, para a Corregedoria da PM, conforme a tenente-coronel Claudete Lemkuhl.
Outra versão indica que Ricardinho havia pedido para que o suspeito retirasse o automóvel de cima de um cano na frente da casa do surfista. Ele e o avô iriam consertar a tubulação, que leva água para as famílias daquela área. Segundo os moradores, o policial teria agido de forma agressiva ao responder o surfista, que retrucou, mas não houve uma discussão forte entre os dois. Quando todos achavam que o motorista estava saindo com o veículo, o policial sacou uma pistola e atirou duas vezes contra Ricardo. O atleta ainda tentou fugir, mas foi atingido por mais um tiro nas costas, conforme testemunhas. O delegado responsável pela investigação, Marcelo Arruda, informou que deve ser feita uma reconstituição dos fatos para confirmar o que realmente aconteceu.
Suspeito de matar Ricardinho, Luis Brentano é
da PM de Joinville (Foto: Reprodução/Facebook)
Brentano foi preso em flagrante e levado, primeiramente, ao Batalhão da Polícia Militar de Florianópolis. Na noite desta terça-feira (20), ele foi transferido para o 8º Batalhão de Joinville, no Norte do estado, onde está lotado desde 2008. Ele está detido por tempo indeterminado, em uma sala especial. O irmão dele, que estava junto no carro, foi liberado e é considerado testemunha do caso.
"Após o inquérito, a corporação [PM] pode aplicar uma advertência ou até mesmo a expulsão do soldado da Polícia Militar. Caso ele pegue uma pena acima de dois anos, seja na Justiça comum ou militar, automaticamente ele será desligado", explicou a tenente-coronel, Claudete Lemkuhl. A PM informou que o soldado estava de férias no dia em que cometeu o crime.
PM é o principal suspeito
O policial militar Brentano já respondeu a outros processos criminais – e foi absolvido em todos, segundo a PM. Arruda informou que solicitará a mudança da tipificação do crime de tentativa de homicídio para homicídio doloso qualificado – alteração que ainda deve ser analisada pela promotoria de Justiça.
Amigos se despediram de Ricardinho; Alejo Muniz,
à direita, se emocionou
(Foto: Renan Koerich/Globoesporte.com)
Em paralelo, o PM também responderá a um inquérito militar pelo mesmo crime. Segundo Arruda, foi feito o exame balístico no Instituto Médico Legal, para verificar se as balas perfuraram a vítima pelas costas, como algumas testemunhas informaram. Até a publicação desta reportagem, não havia informação sobre o resultado desta análise.
"A continuidade do inquérito depende do laudo cadavérico e da reconstituição dos fatos", afirmou o delegado, acrescentando que todos os depoimentos previstos já foram coletados.
Velório e enterro
O corpo do surfista Ricardo dos Santos foi enterrado pouco depois das 12h desta quarta-feira (21), no cemitério de Paulo Lopes, na Grande Florianópolis. O velório ocorreu desde 23h de terça (20), no salão da Paróquia Santa Terezinha da Guarda do Embaú, onde o atleta nasceu e morava.
Inicialmente, a família havia optado pela cremação e depois jogar as cinzas no mar da Guarda do Embaú, mas, devido à dificuldade nos trâmites para emissão da escritura de cremação, os familiares decidiram realizar o enterro. O corpo chegou ao local do velório sob aplausos, por volta das 23h de terça. Muitas estavam de branco e seguravam velas.
Na manhã desta quarta, mais amigos e familiares do surfista compareceram ao velório. No local, foram colocadas várias fotos do catarinense surfando e pranchas que ele usava para praticar o esporte. O clima foi de tristeza e indignação.
Jacqueline Silva, Mineirinho, Alejo Muniz, Renan Rocha e Luan Wood são alguns dos surfistas que estiveram presentes no adeus a Ricardinho. No local do seputalmento, parentes e amigos do atleta gritatam: "justiça, justiça, justiça".
Doação
O Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, informou que as córneas de Ricardinho foram retiradas na tarde de terça e serão doadas. A direção do hospital esclarece que, por não ter ocorrido morte encefálica, e sim parada cardíaca, demais tecidos e órgãos não puderam ser aproveitados para doação.
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