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Opinião
Sexta - 10 de Setembro de 2010 às 20:16
Por: Tomás de Aquino Silveira Boaventura

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Quando chegou à Presidência em 2003, o PT, seus filiados e militância, Lula junto, sem ter o poder nas mãos, todos enfraquecidos por alianças e compromissos da Carta aos Brasileiros, então inusitados casuísmos eleitoreiros, havia uma equação a ser resolvida: como melhorar a vida dos trabalhadores, pelo menos isso, há tantos anos prometido, até ali uma inalienável bandeira de luta.

Muita coisa já havia sido pensada, existiam experiências localizadas em administrações petistas anteriores e menores. E uma grande e inacabada discussão dentro do Partido:  o PT e o seu papel histórico de formador da classe trabalhadora era, na verdade, um novo caminho de fazer política no Brasil, ou o poder lhe bastava ?

Agora na Presidência foi então inventado o Fome Zero e todas as demais políticas compensatórias daí advindas, ‘as bolsas’ de todo tipo, implementadas no seu curso:  eureka!!!, equação resolvida.

A vida material de uma Sociedade que se quer Nação, País, quando melhora tem que melhorar também no aumento concreto dos salários de sua classe trabalhadora e a valorização correspondente do trabalho realizado, assim dignificado, elemento único da criação da sua riqueza coletiva, e por conseqüência, compartida por todos. Isto, em diversas outras palavras e discursos, está no programa do Partido dos Trabalhadores, e escrito na testa e nos sonhos de todos nós, então petistas.

Apenas para resumir e apressar as despedidas, elas são sempre chorosas quando não lamentáveis, queríamos levantar somente duas questões após estes oitos anos de governo Lula : uma nova e outra velha, antiga;  interligadas.

 

É sintomático, até estatístico, que foram vendidos, nestes anos todos, ‘como nunca na história deste País’, tantas geladeiras, fogões, micro-ondas, até carros, etc... O mercado interno expandiu-se, e uma camada significativa da população, mais pobre, teve acesso a bens antes inalcançáveis. Tudo muito positivo, mas não apenas, o endividamento das famílias aumentou, assustadoramente, um problema sócio-econômico hoje.

Por outro lado, os ricos nunca ficaram tão mais ricos; os bancos nunca auferiram tantos ganhos recordes emprestando tanto, inclusive, aqueles sem risco algum, consignados, para aposentados e servidores públicos; os salários relativos nunca ficaram tão baixos ou congelados ou o capital externo, e o interno também, nunca encontraram novo e tão propício paraíso para retornos milionários de suas especulações, via ciranda financeira dos papéis públicos, etc... etc...etc... Poderia até se dizer que, em termos relativos, a situação ficou como estava, ou senão, os pobres ficaram mais pobres ainda.  É uma bela discussão!

Isto propiciou uma popularidade incontestável do presidente da República, como atestam as pesquisas agora e periodicamente feitas. Mas elas não são inocentes, e nem porque Lula é a mais bela das criaturas.

Aí vem a segunda questão, atrelada, necessariamente, à primeira: o caciquismo, com outra cara, permaneceu na política brasileira, agora eletrônico,forçadamente estatístico-popular, de um trabalhador guindado à presidência da República, com uma demagogia sempre bem encaixada e toda própria, de tendência filosófica nordestina-pré-socrática.

 Ilusionado – neologismo que mistura iludido e alienado (louco... pelo poder) -, o Grande Lula foi convencido, sem muita dificuldade, de que era maior do que seu Partido, e acabou sendo. Uma laboriosa e inteligente construção da mídia, das elites aliadas ao governo e dos áulicos e arrivistas incrustados na direção do PT e seu projeto de eternização do mando, de resultados nefastos, como foi sentido.

Com um Presidente que pode fazer até chover,  apesar da atual estiagem, carrasco de lideranças e propostas gestadas para o País, com o suor coletivo quando não sangrentas,  uma classe trabalhadora desestruturada, levada ao feitiço de que só encher o estômago é suficiente, as desigualdades sócio-econômicas crônicas resistindo em níveis históricos, apesar da propaganda oficial, tudo paira como ameaças reais para uma democracia que se debate em seu próprio naufrágio, e que teima em conceituar-se como tal.

Foram muitos os anos que antecederam a tudo isto, muitos que lutaram e ficaram no caminho, na sua beira, e não por desistência, foram obrigados, pela coerência do muito dito e sofrido, a largar um bonde, um barco..., como queiram,  de outros rumos. E estavam certos. Tivemos tudo nas mãos, a história não se repete, ela é evolutiva sempre e dentro dos bem vindos ditames contraditórios da dialética.

Como necessitávamos !!!, e necessitamos, de políticas públicas massivas, plenas e atuantes nas áreas da saúde e da educação !, numa outra direção para o desenvolvimento e cuidado com o meio ambiente, com os jovens e crianças ! , transporte coletivo e segurança nas cidades !, e por aí vai...

Circunstâncias outras de um novo presente se apresentam agora, criaturas novas são criadas por outros criadores, caciques e chefetes em profusão e de todas as origens, até desconhecidas, e tamanhos. E os sonhos de um mundo diferente, efetivamente de consciente felicidade, governado por aqueles  e para aqueles protagonistas, verdadeiros e históricos, em uma democracia concreta e de fato, ficam para depois.

É hora do adeus, de dizer adeus a Lula.


Tomás de Aquino Silveira Boaventura
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