Novo ministro: inflação pode subir ‘Se as despesas crescerem e a gente se endividar, ou ficar aumentando imposto, vai ser mais difícil a economia melhorar’, disse Joaquim Levy, em bate-papo com internautas
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, comentou em bate-papo com internautas nesta sexta-feira o resultado do IPCA, que fechou 2014 em 6,41%, pouco abaixo do teto da meta de inflação, que é de 6,5% ao ano. O ministro ressaltou que o número ficou dentro do intervalo prometido pelo governo. Ele admitiu que os preços devem subir em 2015 devido a algumas “arrumações” que o governo precisa fazer para a economia voltar a crescer, mas ressaltou que o Banco Central continuará trabalhando para baixar a inflação e fazer com que ela vá para o centro da meta, de 4,5%, em 2016.
— O mais importante é que o Banco Central, que é o guardião do valor do teu dinheiro, está atento e vai continuar cuidando para que a inflação esteja no caminho de não só ficar abaixo do teto até o final de 2015, mas também para ela voltar para o objetivo de não passar de 4,5% em 2016 — disse o ministro à internauta Letícia Stéfane.
Levy também alertou para o fato de que a inflação de janeiro será mais alta devido a uma sazonalidade, como reajustes nas mensalidades escolares, de tarifas de transporte e IPTU, e também aos ajustes que o governo precisa fazer na economia:
— Em janeiro, realmente a inflação deve ser um pouco mais alta do que em alguns meses do ano passado. Em parte, é porque, janeiro e fevereiro são meses em que, todo ano, tem mais reajustes, como de escola, IPTU, ônibus, etc. Além disso, para a economia voltar a crescer, temos que fazer algumas arrumações e isso pode mexer em alguns preços. Os economistas chamam isso de mudança nos preços relativos e ela é importante para acomodar a economia em um novo caminho de crescimento.
O ministro Levy recebeu pouco mais de 400 perguntas de internautas em seu primeiro bate-papo virtual pelo Facebook. Ele optou por responder a oito delas. A conversa durou cerca de uma hora e vinte minutos.
CONTAS ARRUMADAS
O ministro disse que para que o Brasil seja mais competitivo daqui a quatro anos, as medidas começam com a arrumação das contas do governo. Além disso, escreveu, o governo tem que estimular a concorrência. As afirmações foram feitas em resposta ao internauta Alessandro Araújo, que disse ter 17 anos.
— O que esperar para daqui 4 anos, quando você talvez esteja completando a faculdade? Um Brasil mais competitivo, que vai conseguir ter uma presença maior no mundo, com empregos melhores. E como alcançar isso? Tem vários ingredientes. Começando com as contas do governo estarem arrumadas. Além disso, a gente tem que estimular a concorrência. A concorrência é importante porque quanto mais firmas estão disputando um mercado, você tem mais opções na hora de comprar e as firmas tem que ser mais eficientes, mais capazes. Aí, você vai poder comprar mais barato. Daí que toda a economia fica mais eficiente, mais competitiva e dá para, inclusive, conquistar mercados lá fora. Esse Brasil batalhador é o que a gente pode esperar para crescer e ter mais emprego de qualidade — escreveu na primeira resposta do bate-papo no Portal Brasil.
O ministro escreveu ainda que o Brasil vai passar por um período em que "tem que acertar algumas coisas, para retomar o crescimento e mesmo o aumento do emprego".
AJUDA DA POPULAÇÃO
Sobre o papel da população no ajuste fiscal, Levy escreveu que cada cidadão pode contribuir para o país trabalhando, fazendo tudo com o máximo de qualidade e, com isso, melhorando a produtividade. Segundo o ministro, se as despesas do governo crescerem e o governo se endividar, ou aumentar imposto, será "difícil a economia melhorar". Essa foi uma resposta ao internauta Reinaldo Demetrio Silva, que perguntou o que o cidadão comum pode fazer para ajudar nesse momento de ajuste.
— Cada cidadão ajuda o país trabalhando, fazendo tudo com o máximo de qualidade. Quando a gente atende ao cliente bem, estamos valorizando o nosso trabalho e melhorando a economia. Quando fazemos algo bem, melhoramos aquilo que os economistas chamam de produtividade. É como diz o ditado: “Só o trabalho pode criar riqueza”. Além disso, é muito importante que a gente fortaleça a convicção de que o governo não pode gastar mais do que arrecada. Que, se as despesas crescerem e a gente se endividar, ou ficar aumentando imposto, vai ser mais difícil a economia melhorar. Se você conversar isso com seu colega de trabalho, em alguma hora, também com seus amigos, isso vai ajudar a gente a fazer as mudanças juntos — escreveu Levy.
ALTA DE IMPOSTOS
Questionado sobre uma possível alta nos impostos, o ministro disse que, se houver alguma mudança, ela será realizada depois de o governo "esgotar outras possibilidades". Segundo Levy, o governo, provavelmente, terá de pensar em rebalancear alguns impostos.
— A gente provavelmente terá que pensar em rebalancear alguns impostos, até porque alguns foram reduzidos há algum tempo. E essa receita está fazendo falta. Mas, se houver alguma mudança, vai ser com cuidado e depois de a gente esgotar outras possibilidades. Estamos no caminho certo, e dessa vez a gente está tentando acertar as coisas bem antes de estar numa crise. Como diz um amigo meu, estamos podendo consertar o telhado em dia de sol — escreveu o ministro.
EMPRÉSTIMOS
O ministro afirmou que o governo tem tomado várias medidas para gastar menos e reequilibrar a economia. Questionado pelo internauta Igor Calado, que citou a mudança nas regras de acesso a benefícios previdenciários, perguntou qual a meta de economia para este ano e onde devem ser realizados outros cortes de gastos, Levy disse que "evitar algumas distorções, que acabam fazendo você pagar por despesas com alguém, por exemplo, que começa a receber pensão de viúvo ou viúva aos 25 anos de idade, e vai continuar recebendo esse dinheiro do governo, talvez por mais de 50 anos, é muito importante".
— Não faz sentido esse desperdício com o dinheiro do povo. Além disso, o governo diminuiu o volume de empréstimos com juros baratos para algumas empresas. Empréstimo barato também é pago pelo contribuinte e tem que ser dado só em situações muito especiais — escreveu.
O ministro lembrou que, ontem, o governo publicou decreto com um corte adicional nos gastos do governo. Segundo ele, as despesas consideradas de "custeio", para pagar principalmente a máquina do governo, serão cortadas.
— Usando tuas palavras, o corte nessas despesas, que foi de 1/3, é essencial nesse momento. O objetivo é limitar esse tipo de despesa para, com essa economia, ter dinheiro para pagar a Previdência Social e os benefícios certos, que o governo tem obrigação de pagar, e sempre em dia — explicou.
BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
O ministro garantiu que, com a mudança nas regras de de acesso a benefícios previdenciários, o direito de pessoas que já se aposentaram não será atingido. Em resposta ao internauta Pedro Mendes, que disse que o seu pai se aposentou no ano retrasado por invalidez, Levy afirmou:
— Pedro, é muito especial ter um pai que trabalhou a vida inteira. O meu pai também era assim, continuou atendendo no SUS até bem depois dos 70 anos, e tenho orgulho dele. E é muito justo e importante que as pessoas tenham esse seguro da aposentadoria de invalidez, se alguma doença acontece. Esse direito não vai ser mexido. O valor da aposentadoria continuará sendo corrigido pela inflação, de maneira que ela vai ficar protegida por todo o tempo que teu pai a receber. As medidas de contenção acontecerão em outras áreas, exatamente para que o trabalhador e a sua família tenham tranquilidade.
CÂMBIO
Um dos internautas perguntou ao ministro se as viagens internacionais ficarão mais caras por causa do câmbio, mas Levy desconversou:
— Estamos em período de férias, né? Pelo menos para alguns… Bom, o preço de viagens internacionais depende do câmbio. O valor das moedas estrangeiras, o câmbio, tem flutuado bastante. O dólar está mais forte em relação à maioria das moedas, inclusive o euro e moedas da Ásia. Então, o preço da viagem, inclusive em reais, depende para onde você vai. Boa viagem.
CHICAGO BOY
No bate-papo, o ministro foi perguntado por um internauta se se considera um “Chicago boy”, expressão usada para classificar economistas que estudaram na famosa Universidade de Chicago, que tem perfil liberal. Levy é PHD em Economia pela instituição.
O ministro disse que a pergunta era divertida e aproveitou para defender a linha de pensamento da universidade. Ele afirmou que todo governo tem que se preocupar com o fato de que qualquer benefício dado a um grupo determinado tem um custo que precisa ser dividido pela sociedade:
— Deixa eu dizer que, nem o pensamento dessa escola é tão único assim, nem tem algo de especial em algumas medidas darem mais certo ou não. E muita coisa mudou desde aquela época. Mas essa Universidade tinha um professor que dizia uma frase que ficou muito conhecida, e que a gente sabe que tem seu grão de verdade: “Ninguém come realmente de graça”. A gente sabe que quando alguém passeia ou faz alguma coisa sem pagar, outra pessoa está pagando. Então, essa frase é importante para quem está no governo. Tudo que o governo “dá” é pago pelo contribuinte. Então, a gente tem que ter muito cuidado em como usa o dinheiro, para garantir que as pessoas certas, às quais a lei dá o direito, serem as que receberão os benefícios que precisam. Enfim, boas ideias em economia vêm de vários lugares, e a gente tem que estar sempre atento para analisar e adotar as melhores
No perfil do Portal Brasil pelo Facebook, o ministro colocou um vídeo no qual se apresenta como Joaquim, explica qual a função do comandante da Fazenda e diz que está preparado para responder a perguntas da população.
— O ministro da Fazenda é aquela pessoa no governo que tem a responsabilidade de levantar dinheiro para a gente poder pagar tudo aquilo que o governo faz. A gente também escolhe como vai gastar o dinheiro para ter os melhores resultados (…) E o que a gente tem que fazer para o Brasil voltar a crescer e entrar na rota de geração de emprego cada vez mais forte — diz Levy no vídeo de apresentação.
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