Líder comunitário que negociou rendição seria ligado a traficantes
Dentro da cozinha do Hotel Intercontinental, em São Conrado, dez traficantes faziam 35 reféns, entre hóspedes e funcionários. Do lado de fora, policiais tentavam negociar a rendição do grupo. A mãe de um dos criminosos chegou e implorou que o filho, número 2 na hierarquia da quadrilha da Rocinha, se entregasse. Ítalo de Jesus Campos, o Perninha, estava irredutível. E avisou que não tomaria nenhuma decisão sem antes conversar com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Barcelos - uma das localidades da Rocinha -, Vanderlan Barros de Oliveira, o Feijão.
Este, então, chegou e, minutos depois, o terror acabou. Feijão saiu do hotel tranquilamente e caminhou até a comunidade praticamente despercebido. O que ninguém sabia, nem a Polícia Militar, é que o homem que desceu o morro para resolver a situação, segundo investigações da Polinter e denúncia do Ministério Público, faz parte do mesmo bando que mantinha os reféns sob a mira de pistolas, fuzis e granadas.
"Tudo tranquilo. Foi tudo negociado e resolvido sem problemas", disse Vanderlan, na saída do hotel cinco estrelas.
A segurança demonstrada em seu discurso não era bravata, como admitiram os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e um dos reféns, Manoel Severino: "A situação foi resolvida quando o presidente da associação dos moradores conversou com eles. Depois da conversa, os bandidos colocaram as armas no lixo e se entregaram", afirmou Severino, funcionário do hotel.
Feijão foi investigado durante meses, entre o fim de 2009 e o início deste ano, por formação de quadrilha, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Ao longo do trabalho, a Polinter descobriu que estavam registradas em seu nome duas empresas usadas pelo chefão da favela, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, para lavar dinheiro oriundo das bocas de fumo: a V. Barros de Oliveira Comércio de Acessórios para Veículos Ltda. e a W.C. Comércio de Gelo Ltda.
"As duas empresas possuem diversos depósitos, com altas quantias em dinheiro, cristalinamente incompatíveis com a atividade empresarial exercida por elas, em localidade extremamente pobre", afirmou a promotora Ana Lúcia Melo, da 25ª Promotoria de Investigação Penal, na denúncia aceita pela Justiça, que originou o processo na 40ª Vara Criminal.
Contas de Nem pagas por Feijão
Os altos valores citados pela promotora vão além da aquisição de uma máquina de gelo avaliada em R$ 150 mil. Incluem, por exemplo, objetos pessoais da família do traficante Nem, como o enxoval de sua filha recém-nascida e compras feitas por sua mulher, Danubia de Souza Range.
O líder comunitário e outros suspeitos chegaram a ficar presos. Foram soltos em abril. Em 18 de julho, Vanderlan ganhou a disputa pela presidência da associação de moradores do Bairro Barcelos. No dia seguinte, sua prisão foi revogada pela Justiça, mas ele continua respondendo ao processo em liberdade. Já seu irmão, Fábio Barros de Oliveira, que tem o mesmo apelido de Feijão, jamais foi encontrado pela polícia. Ele é uma espécie de office-boy de Nem.
11º integrante foi preso em ambulância na Penha
Além dos dez bandidos capturados no hotel, a PM conseguiu prender outro traficante do outro lado da cidade. Uma denúncia levou o Serviço Reservado (P2) do 16ºBPM (Olaria) à entrada do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde Jonathan Costa Soares, o Sapatinho, buscava socorro.
Ele chegou até à UPA da Rocinha e, de lá, os médicos pediram uma ambulância da empresa Rede Vida, que estava baseada na unidade para um campeonato esportivo na comunidade. Depois, eles levaram o bandido, gerente do tráfico da Cruzada São Sebastião, no Leblon, para a Penha, com ferimentos no rosto e nas pernas. Interceptada, a ambulância foi levada à 15ª DP, onde a farsa foi descoberta. Contra Jonathan, havia um mandado de prisão da 14ª DP (Leblon).
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