Enquanto isso, dezenas de alunos não têm meio de transporte para ir à escola na maioria dos municípios de MT
238 microonibus para o interior estão guardados
Duzentos e trinta e oito microonibus estão desde o meio do ano parados em um terreno público com mais de 4 mil metros quadrados, na região do bairro Planalto, em Cuiabá. Os veículos foram adquiridos pelo Estado para atender alunos da zona rural de municípios do interior. Entretanto, estão expostos a ação do tempo e dos vândalos que por vezes tentam quebrar os vidros dos carros ou roubar peças, como baterias.
Maria Martins, 41, e sua filha Fabiana, 17, têm uma barraca de salgados em frente ao terreno onde estão os veículos. Como cidadãs, sentem-se lesadas ao ver tantos veículos subutilizados, sendo corroídos pela chuva e pelo sol. Elas estão naquele ponto há mais de um mês e dizem que nunca viram um veículo sair do pátio. "Enquanto isso, canso de ver cadeirantes no ponto de ônibus aqui do lado esperando mais de meia hora por um ônibus, pois os coletivos nunca param. No interior deve ter esse tipo de problema também. É um absurdo!".
Outra que não se conforma com a situação é Maria do Rosário da Penha, 46. Para elas esses veículos deveriam estar na rua, no interior, ajudando quem realmente precisa, quem sai cedo das chácaras e fazendas para estudar e não em um pátio juntando poeira e estragando.
Os microonibus que estão parados poderiam aliviar o déficit de transporte escolar enfrentado pelo município de Poconé (104 Km ao sul da Capital), por exemplo. A Gazeta esteve lá em maio deste ano conferindo a situação de alunos que moram na área rural do município e estão matriculados na Escola Estadual Antônio Garcia, localizada no Km 120 da BR-070. Muitos sofriam com a ausência de transporte escolar e precisavam "dar um jeito" para ir a escola ou simplesmente não iam.
O Ministério Público Estadual (MPE) notificou a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para que regularizasse o transporte escolar na cidade. Em gestão conjunta com o Estado, o município contratou uma empresa de transporte para levar os alunos à escola, mas tal situação poderia ser evitada caso os novos ônibus tivessem sido repassados há mais tempo.
Entenda o caso - Os veículos para transporte de alunos foram adquiridos em fevereiro de 2010 pelo governo do Estado em adesão a um processo licitatório da União. Cada carro foi comprado por R$ 146.900 e tem lugar para um cadeirante. A princípio foram adquiridos 34 micros, já distribuídos por sorteio aos municípios. Depois chegaram os 238, que segundo coordenador de transporte escolar da Secretaria de Estado de Educação, Fábio Nassarden, aguardam o fim do processo eleitoral para serem entregues.
O coordenador explica que os microonibus precisam ficar naquele pátio pois a empresa fabricante não tinha espaço suficiente para armazená-los até que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberasse o investimento. "Gostaríamos de ter entregue os carros antes do período eleitoral, mas há toda uma questão burocrática, emplacamento, transferência para os municípios. Não temos outro lugar para colocá-los. Mas não há problemas, pois lá tem segurança", garante.
A entrega desses veículos deve ocorrer até o fim do ano, para que o mesmo pátio seja utilizado novamente com outros 268 veículos, adquiridos em convênio com o Governo Federal. Os próximos carros também devem ficar no pátio aberto até que a burocracia, emplacamento e sorteio sejam concluídos.
Quanto ao caso de Poconé, Fábio afirma que a cidade vai receber microonibus, mas a administração municipal é que deve decidir qual linha o carro fará e se vai substituir algum veículo terceirizado.
Transporte inacessível -Estudantes de Santo Antônio de Leverger (34 Km ao sul de Cuiabá) que estudam em escolas especiais de Cuiabá não têm veículo minimamente adaptado. A prefeitura disponibiliza um microonibus comum e um profissional auxiliar para transportar os alunos com deficiência. As crianças pequenas também não têm a disposição cadeirinhas adequadas para o transporte.
Mas o problema também atinge a Capital. Mães de crianças que estudam em escolas especiais da Capital reclamam que os microonibus destinados ao transporte dos alunos com deficiência não atendem às necessidades dos jovens. Nos veículos "parcialmente adaptados" falta espaço para as cadeiras de roda, corredor acessível e cintos de segurança capazes de manter as crianças sentadas da maneira correta.
Uma das mães que prefere se identificar apenas como Tereza*, 30, garante que os ônibus não são totalmente adaptados. Segundo ela, os carros doados à Escola Raio de Sol, por exemplo, só possuem 2 espaços para crianças com cadeira de rodas, sendo que praticamente 100% dos alunos de lá dependem da cadeira para se locomover.
Tereza acompanha a filha de 8 anos todos os dias ao colégio, pois a garota tem paralisia cerebral e só consegue ir sentada no colo da mãe. "Se os veículos fossem realmente adaptados eu poderia arrumar um emprego e ajudar na renda de casa enquanto minha filha iria à escola".
Vilma Leite, 27, é mãe de Cauã, 4, que tem um tipo deficiência ainda não identificada pelos médicos e estuda há 6 meses na Raio de Sol. Eles moram na região do Coxipó e Vilma vai todos os dias à escola, acompanhando o filho no microonibus. Ela concorda plenamente com a outra mãe e diz que se os carros fossem melhores se sentiria segura de deixá-lo ir à escola somente na companhia dos outros colegas, do motorista e do auxiliar. Dessa forma, também poderia arrumar um emprego.
O coordenador de Transporte Escolar da Seduc afirma que antes dos 7 carros serem adquiridos para o transporte de alunos com algum tipo de deficiência em Cuiabá, a secretaria realizou uma reunião com pais e diretores dessas instituições para levantar quais as adequações que deveriam ser feitas. "Levantamos a possibilidade de um veículo exclusivo para alunos de cadeira de roda, mas eles não acharam necessidade". Assim ficou acordado que os ônibus teriam espaço para 2 cadeiras de rodas.
Quanto aos alunos que vêm de Santo Antônio de Leverger, Nassarden confirmou que não há veículo adaptado para transportar os alunos com deficiência física para a rede estadual da Capital. O coordenador se comprometeu em dialogar com o município e com o setor de educação especial da Seduc para firmar uma parceria e estudar o melhor meio de adaptar esse transporte, o que deve ocorrer somente no ano letivo de 2011.
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