Pode parecer estranho, mas a mistura de pagode com música clássica faz bem para os ouvidos. Principalmente para os santistas. E com Neymar no pandeiro e Ganso na batuta, a equipe da Vila Belmiro deu um enorme passo para a conquista do Paulistão neste domingo. Com gols de seus craques, venceu o Guarani por 3 a 0.
Resultado suficiente para que os mais de 40 mil santistas presentes no estádio do Morumbi cantassem com otimismo “Vamos ser tri, Santos”. Campeão estadual em 2010, contra o Santo André, e no ano passado, diante do Corinthians, o Santos de Neymar e Ganso está bem perto de levar o caneco pela terceira vez seguida.
Para evitar a conquista do Peixe, o Guarani precisa vencer por quatro gols de diferença no próximo domingo, às 16h, novamente no estádio do Morumbi. Ou então, na pior das hipóteses, ganhar por três gols e levar a decisão para os pênaltis. De qualquer maneira, a missão é muito complicada.
No jogo deste domingo, o espírito da ousadia e da alegria de Neymar contagiaram também o mais pacato Ganso. Mas vale lembrar também da coragem do Bugre, representada na entrega do zagueiro Domingos, revelado pelo Santos e que teve uma tarefa muito ingrata nesta primeira decisão.
- Eu agradeço ao Santos por tudo que conquistei na vida. Mas hoje eu tenho que marcar o melhor jogador do mundo, o Neymar – brincou Domingos antes do jogo.
Tarefa praticamente impossível. Há algum tempo já. Neste domingo, com os dois gols marcados, Neymar chegou a 104 com a camisa do Santos e igualou Serginho Chulapa. Na comemoração, aliás, ele imitou o eterno artilheiro do Peixe ao sair correndo de maneira meio atrapalhada e se jogando no chão na sequência.
- Espero que venha mais. Estou trabalhando muito todos os dias para melhorar os números e os titulos - resumiu o camisa 11.
Com o título paulista bem encaminhado, o Santos volta a campo pela Taça Libertadores da América na próxima quinta-feira, às 19h30m, no estádio do Pacaembu, para encarar o Bolívar, pelas oitavas de final. No primeiro jogo, os bolivianos venceram por 2 a 1. Assim, vitória por 1 a 0 classifica o Peixe.
Neymar escapa de Domingos e parte para cima do Guarani (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Do pagode para orquestra
Assim que o ônibus da delegação santista estacionou no Morumbi, a expectativa no saguão do estádio era, claro, pela descida de Neymar. Só que a demora do craque do Peixe para sair do veículo aumentou esse clima, fazendo parecer que por aquela porta apareceria um pop star, pronto para dar espetáculo. Era mais ou menos isso.
Bastou Neymar aparecer para que um batalhão de microfones tentasse alcançar a sua boca. Mas a pergunta que ele ouviu (e respondeu) foi uma que já se tornou rotina: “o que você está escutando?”. Com o fone nos ouvidos e o boné meio de lado, bem ao seu estilo, ele respondeu: “Ousadia e Alegria, do Thiaguinho”.
Amigo do pagodeiro, Neymar conhece bem a música. A trata como um lema. E o Guarani percebeu isso logo no primeiro minuto. Como se ainda estivesse ouvindo o trecho “se der espaço, eu pedalo e vou para cima”, o camisa 11 fez fila na zaga do Bugre e só foi parado com falta. Na cobrança, Elano acertou o travessão.
Tivesse aquela bola balançado as redes, o Guarani poderia estar entregue logo de cara. Mas o travessão salvou o time de Campinas e encorajou os comandados do técnico Vadão. Com forte marcação e rápido contra-ataque, o Bugre, em termos gerais, fez um primeiro tempo melhor do que o Santos.
Chegou pelo meio, pelas laterais, com toque de bola... enfim, aproveitou seus momentos com certa ousadia. O problema é que faltou pontaria, como aos 16 minutos, quando Medina recebeu cruzamento livre na grande área e bateu para fora. É difícil criar chances contra esse Santos. Portanto, não dá para desperdiçar.
Aos poucos, o destino foi traçando um melhor caminho para o Santos, muito embora Adriano tivesse levado cartão amarelo e ficado fora da grande final. Aos 21 minutos, Neto, machucado, deu lugar a André Leone, no Guarani. A forte marcação foi ficando mais frouxa e os contra-ataques sumindo.
Voltou a campo, então, o lado musical do Santos. Mas o pagode deu lugar à orquestra. Neymar chamou o jogo, arrancou pela esquerda e rolou para área. Arouca dividiu com um zagueiro e a bola sobrou para Ganso bater colocado: 1 a 0. Na comemoração, o maestro regeu a torcida.
Do lado do Guarani, o regente era mais “punk”. Domingos, no melhor estilo zagueirão, deu um abraço apertado em Neymar antes de começar o jogo. Sério em todos os lances, o defensor cometeu pênalti em Alan Kardec, mas o juiz não deu nada. O bugrino, então, reclamou com o atacante: “levanta, levanta!”.
Título encaminhado
Obviamente, a diferença técnica do Santos para o Guarani é grande. Mas o time de Campinas não chegou à decisão do Paulistão à toa. Caminhou muito na base da coragem e do entrosamento. Suficientes para deixar o Peixe atento e preocupado com uma reação por parte do time do interior.
E para deixar claro isso, Bruno Recife avançou pela esquerda logo com um minuto e bateu forte de perna esquerda. A bola acertou a trave esquerda de Aranha. Só que o exército de talentos do Peixe parece ser à prova de sustos. O time tem o espírito de Neymar, que costuma dizer que quanto mais apanha mais quer jogar.
Assim, com Ganso inspirado por um golaço no primeiro tempo, o Santos partiu para o ataque sob a batuta do seu maestro. Teve uma ótima chance, aliás, em cobrança de falta de Elano, aos seis minutos. O meia, acompanhado do camisa 10 na bola parada, bateu colocado e viu Emerson executar linda defesa.
Muito seguro em campo, o Peixe evitou acelerar demais a partida. Talvez por ter na quinta-feira um jogo decisivo com o Bolívar, pela Libertadores da América. No banco de reservas, porém, os treinadores não se pouparam. Eufórico, Muricy gritava com a equipe. Preocupado, Vadão tentava recuperar o contra-ataque.
Só que quem teve a jogada foi o Santos. Letal! Aos 20 minutos, Juan acertou um belo passe para Ganso. O camisa 10 tentou driblar o goleiro, mas Emerson conseguiu bater com a mão esquerda na bola. Seria heróico não tivesse ali tão perto o craque Neymar, que completou para o fundo do gol: 2 a 0.
O craque santista voltou a brilhar aos 46 minutos, quando ele recebeu na área, matou no peito, tirou dois marcadores e chutou para o gol. Na comemoração do seu gol de número 104 com a camisa do Santos, ele imitou Serginho Chulapa, comemorando com os braços soltos e depois caindo no chão. Ele igualou o artilheiro do Peixe.
Um placar desse em uma primeira partida de decisão de Paulistão pode dar a falsa impressão de que o Guarani foi presa fácil ao Santos. É verdade que o Bugre não foi dos adversários mais complicados neste domingo, mas foi corajoso. Só que coragem é muito pouco para tentar parar o Peixe de Neymar, Ganso e cia.
Quando um dos dois resolvem jogar bem já é um pesadelo para os rivais. Imagine então no dia em que ambos decidem se inspirar? Foi o caso deste domingo. Aí resta ao santista comemorar a mistura do pagode com a música clássica. E a torcedor bugrino, o consolo de dormir ao som desse ótimo “barulho” do futebol brasileiro.
Elano (dir) teve boa atuação e ainda acertou bola na trave (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
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