Amadurecimento precoce de frutas por indução é motivo de controvérsias
O projeto de lei apresentado na Câmara de Cuiabá que pretende proibir o uso de carbureto de cálcio e similares na aceleração do amadurecimento de frutas está se tornando motivo de embate entre o vereador Adevair Cabral (PDT), Sociedade Mato Grossense de Fruticultura e até do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A substância é injetada normalmente no cultivo de frutas como a banana, manga e na floração dos abacaxizeiros. “Em contato com a água o carbureto é metabolizado, libera o calor e o acetileno que sendo absorvido se transforma em etileno que, por consequência, dá o sinal para maturação”, segundo explica o doutor em fruticultura da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), João Pedro Valente.
Ponderando este processo, o projeto do vereador aponta que o uso da substância pode permanecer na casca das frutas causando sérios prejuízos à saúde, inclusive, podendo levar ao câncer. “Com esses produtos, a polpa da fruta amolece de forma rápida, de um dia para o outro e ainda perde seu sabor natural”, afirma.
“O objetivo deste projeto é coibir esses abusos, que visam inicialmente os interesses do mercado em detrimento da saúde do consumidor”, defendeu o vereador que considera isso uma “agressão ao fruto ainda precoce”.
No entanto, o doutor Valente rebate assegurando que a “planta não absorve o carbureto, mas, sim, o etileno que é metabolizado”. Isso significa que o fruto, além de produzir o etileno por própria necessidade, absorve a substância de forma exógena, o que induz a maturação.
“Fico surpreso de um vereador apresentar um projeto desse tipo que somente tem vertente política e não técnica. Já fiz várias pesquisas com a substância há muitos anos e não encontrei dados técnicos que apontam prejuízo à saúde”, garante.
O professor lembra, ainda que a substância é usada também em outros produtos bem como outras produções e cultivos, e que até hoje não apresentou indícios de danos a saúde, especialmente relacionadas ao câncer. “Retirar um produto, ou mesmo proibir, não compete à Câmara. Além do que, se a substância fizesse mal à saúde, muitos outros produtos deveriam ser proibidos”, finaliza.
O projeto de lei recebeu pareceres favoráveis das Comissões do Parlamento e agora seguirá para as votações em plenário.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
O HiperNoticias entrou em contato com o Ministério da Agricultura para descobrir qual a possibilidade do carbureto de cálcio ter seu uso proibido no município com a aprovação do projeto. A assessoria explicou que essa decisão não se trata de uma atribuição da Câmara.
Segundo informações, se houver alguma objeção sobre produtos usados no plantio de qualquer espécie, é necessário apresentação de solicitação ao Ministério que irá analisar a procedência do pedido pelo Comitê de Avaliação de Agrotóxicos que é formado pelo Mapa, Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Caso seja verificada a necessidade, será colocado outro produto como substituto, no entanto, a análise demora em média, cinco anos, segundo assessoria, que aponta que 14 produtos estão em reavaliação hoje, mas isso não inclui o carbureto de cálcio.
Isso significa que mesmo que o projeto seja aprovado na Câmara, ele não terá valia se não for encaminhado ao Mapa e se for constatado procedência.
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