Sem a correta compreensão do que é agricultura sustentável, essa prática pode até agravar os impactos ambientais das atividades no modelo na tradicional em vez de reduzi-los, afirma o cientista britânico Tim Benton, coordenador do Programa de Segurança Alimentar Global da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
A agricultura sustentável precisa ser pensada e implementada com uma abordagem sistêmica e o gerenciamento deve ser na escala correta, diz Benton. Para o cientista, o conceito de agricultura sustentável frequentemente é mal construído, mal compreendido e mal aplicado.
"É preciso atingir um equilíbrio entre o uso da terra para produção e o uso para a conservação da biodiversidade. Paisagens diferentes têm vocações para diferentes esquemas agroambientais. A agricultura sustentável precisa ser gerenciada de forma sistêmica, na escala da paisagem, não apenas com foco isolado nas fazendas, nem só em escala nacional", diz.
"Há muitos impactos e, para diminuí-los, é preciso abrir-mão de algum ganho. A atividade agrícola de baixo carbono, para produzir o mesmo rendimento da agricultura tradicional, tipicamente vai demandar mais terra, para compensar as perdas", diz em reportagem da Agência Fapesp.
"Ao usar mais terra, a atividade agrícola tem mais efeito na biodiversidade. A agricultura de baixo carbono pode, no fim da cadeia, causar um grande impacto na biodiversidade. A partir de uma perspectiva mais ampla, não é trivial calcular qual tipo de agricultura é mais sustentável", afirma Benton.
Outro ponto abordado pelo cientista diz respeito à escala da gestão. "Quando se gerencia uma fazenda, os impactos dessa atividade extrapolam o território em questão", afirma. Esse quadro fica ainda mais complexo quando se avalia a influência nos mercados. "Pode-se reduzir o rendimento agrícola em um país por achar que isso é mais sustentável. Mas a demanda continuará a mesma, ou até aumentará ainda mais. Assim, se você reduz o rendimento, alguém, em algum lugar, vai precisar aumentar o rendimento. E isso vem com impactos ambientais negativos", diz Benton.
Ele lembra que, em uma escala local, parcela da produção pode ser gerenciada de forma insustentável, enquanto outras partes podem fazer a compensação, com gerenciamento altamente sustentável. Mas o que é verdade para uma parcela de terra isolada nem sempre é verdade na escala de paisagem, de país, de continente e na escala global.
Apesar da complexidade, a sustentabilidade agrícola não é inviável, segundo Benton. Para isso, é fundamental pensar em gerenciamento de terra de forma sistêmica, a partir da pequena escala até a escala global, com foco especial na escala da paisagem. "No nível da paisagem, podemos gerenciar não apenas a terra agriculturável, mas também gerenciar as terras não agrícolas que são fundamentais para o funcionamento da atividade agrícola, porque mantêm os polinizadores, os inimigos naturais, os microclimas e assim por diante", diz.
Em termos de País, é preciso manter áreas preservadas para garantir serviços não agrícolas. Cada área tem sua vocação e uma deve equilibrar a outra. Mas, em escala continental, as especificidades também mudam. Algumas áreas são muito boas produzindo frutas, outras áreas muito boas para armazenar carbono, por exemplo.
Determinar os critérios de gerenciamento agrícola é o grande desafio. Segundo Benton, é preciso ter governos fortes. Na base local, quando se tem sucesso em uma atividade em uma parcela de terra, há uma tentação de expansão. "Quando uma parcela cultivada rende dinheiro, o fazendeiro tende a querer dobrar essa parcela. Conseguindo sucesso, multiplica a área por quatro e, quando nos damos conta, temos uma grande área convertida em uso da terra uniforme", explica.
"Isso pode ser bom no início, mas no longo prazo, se todo mundo faz a mesma coisa, todos vão sofrer as consequências. É bom pensar no crescimento agrícola, mas em algum momento alguém tem de dizer: já houve crescimento suficiente", destaca.
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