“O que eles estão fazendo, nunca vai pagar o erro que eles fizeram. Eles podem dar o dinheiro que quiserem. A gente sofreu e as meninas sofreram, é difícil para a gente”, contou a mãe Ana Maria Lesovski Barbosa, de 42 anos.
Ela lembra que, quando a filha Francielle era pequena, muitas pessoas questionavam porque ela era morena e a caçula, por exemplo, que é três anos mais nova, era loira. "A família inteira sofria com as perguntas", contou Ana Maria. Agora, todos vivem bem. “Hoje é normal. A gente brinca e dá risada (...) e as pessoas nos parabenizam por não ter desfeito a troca”.
A família soube do equívoco quase sete anos após o nascimento da criança, quando foi procurada pelos pais biológicos da menina que já sabiam do erro. Segundo Maria Pereira da Silva, de 39 anos, a outra mãe que conseguiu provar a troca, ela desconfiava da situação desde que saiu da maternidade com a suposta filha no colo.
"Desde o dia do nascimento eu desconfiei que eles [os enfermeiros] tinham trocado a minha filha. Eu e meu marido somos morenos e a Danielle é loira e tem olhos azuis. Uma das enfermeiras ainda fez uma brincadeirinha e me questionou sobre o pai. Eu fiquei revoltada, mas acabei aceitando a situação, já que todos diziam que eu era louca e ninguém acreditava em mim".
Da esquerda para a direita estão a Danielle, Francielle e Maria Pereira da Silva. Hoje as famílias são amigas e as mães têm contato frequente com as filhas biológicas (Foto: Arquivo pessoal)
Maria disse também que mesmo sem apoio, lutou para conseguir realizar o exame de DNA. "Eu tive que trabalhar muito porque o exame é caro. Por isso, só consegui fazê-lo e provar para todos que eu estava certa em 2001, quando começamos a procurar a família que estava com minha filha biológica. Depois de tanto tentar, e procurar por vários estados, acabamos encontrando os pais aqui pertinho de nós mesmo, em Foz do Iguaçu. Na época, eu morava há cinco quilômetros deles. Hoje moro em Santa Terezinha, que fica há uns 15 quilômetros aproximadamente".
Ao entrar em contato com a família e identificar Francielle, Maria e o marido pediram para que o outro casal também realizasse o exame de DNA.
"A outra mãe ficou assustada com a situação e se recusou a fazer o exame. Ela só mudou de ideia depois que eu entrei em depressão, em 2003", explicou Maria.
Mesmo após descobrir o erro, as duas mães decidiram manter a troca, já que as crianças já tinham mais de sete anos e estavam adaptadas ao convívio das respectivas famílias. Atualmente, as duas jovens são tidas no registro de nascimento como adotivas. "Eu nunca deixei de dar carinho para a Danielle. Sempre a tratei como se fosse minha filha de verdade. Mas sempre tive em meu coração que precisava conhecer a Francielle. E no fim das contas tudo deu certo. Hoje nós moramos perto e somos duas famílias unidas", ressaltou a mãe indenizada.
Decisão
Segundo o TJ, o referido hospital realizou o atendimento na qualidade de prestador de serviços do SUS (Sistema Único de Saúde). Em razão desse fato, foi condenado a pagar ao casal a quantia de R$ 100 mil a título de indenização por dano moral, valor esse que deverá ser corrigido monetariamente pelo índice INPC do IBGE e acrescido de juros de 1% ao mês, a contar da data desta decisão.
Atualmente, a maternidade condenada está fechada e há um entendimento de que a prefeitura de Foz do Iguaçu deve assumir o pagamento. A prefeitura informou que ainda não decidiu se vai recorrer ou não da sentença e se vai responsabilizar os antigos donos da maternidade. Assim como a mãe adotiva de Francielle, Maria Pereira recorreu à Justiça para ser, de algum modo, um pouco reparada pelo equívoco. A decisão ainda não saiu.
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