“Eu tinha dito para ela: ‘Você está dormindo com o inimigo’”, afirmou a comerciante Rosana Teixeira Marcos, de 49 anos. Ainda abalada pela perda da única filha, a mulher lembra com tristeza do relacionamento conturbado da jovem com o suspeito. “Ele não era ciumento, era possessivo”, disse.
O namoro começou há quatro anos e desde o início os pais de Babila não gostaram do genro. A jovem, que desejava ser atriz, largou o sonho e a carreira de modelo, se afastou dos amigos e do trabalho pelo novo amor.
Contrariando a vontade dos pais, saiu da casa onde vivia, em São Bernardo do Campo, no ABC, para morar na capital com o marido. O clima entre genro e sogros, que já não era bom, piorou cada vez mais. Rosana e o marido, o também comerciante Alexandre Marcos, de 52 anos, não frequentavam o lar da filha e o marido dela não os visitava.
Quando a filha se encontrava com os pais, o celular dela não parava de tocar. “De cinco em cinco minutos ele ligava, querendo saber onde e com quem estava”, disse a mãe. Os atritos passaram a se tornar mais constantes e, há pouco mais de dois anos, Babila foi ameaçada de morte. Segundo Rosana, na ocasião sua filha ligou desesperada, dizendo que estava trancada num banheiro porque o marido dizia que iria matá-la com um revólver.
Os ânimos se esfriaram e mãe, filha, genro e parentes dele foram parar no 35º Distrito Policial, no Jabaquara. Nenhuma queixa foi dada, mas o relacionamento entre o casal acabou. Temporariamente.
Retorno
Jovem foi esfaqueada em 5 de julho (Foto:
Arquivo Pessoal/Divulgação)
A jovem voltou à casa dos pais, prestou vestibular e entrou em uma faculdade de publicidade. Também conseguiu emprego como vendedora. Meses depois, porém, o ex descobriu onde ela trabalhava e foi procurá-la e Babila resolveu dar uma segunda chance. “Ela era muito boa. Não enxergava o lado podre das pessoas.”
Os pais não gostaram da atitude da filha e deixaram de conversar com ela. Pouco tempo depois, porém, a ex-modelo procurou Rosana e Alexandre para contar que estava grávida. Eles decidiram, a contragosto, mas em nome da criança, deixar as diferenças de lado.
O genro, segundo Rosana,aparentemente também mudara bastante. “Ele estava bonzinho. Mas sempre controlador.” Além de afastá-la de amigos, ele controlava até as roupas que a jovem usava. “Ele a tratava como um troféu”, acrescentou Alexandre.
Apesar da beleza, Babila havia abandonado de vez as passarelas e passou a dedicar a vida à família. Comovidos, os pais dela venderam a casa em que moravam, passando a viver de aluguel, e com parte do dinheiro abriram uma empresa de distribuição de água para a filha. Os galões eram estocados nos fundos do comércio de pipas de propriedade do pai dela e onde Rosana também trabalha.
O convívio diário aproximou as duas mulheres. E uma semana antes de ser assassinada, a jovem procurou a mãe para desabafar. “Ela contou que não sentia mais nada pelo marido e que iria se separar assim que o filho fosse batizado. Mas não teve tempo para isso.”
Morte
Na tarde de 4 de julho, dia em que o Corinthians enfrentou o Boca Juniors na final da Copa Libertadores no estádio do Pacaembu, Rosana e Alexandre insistiram para que a filha ficasse com eles no ABC. A filha, porém, insistiu que tinha combinado ir a um churrasco com o marido na casa de amigos deles. “Quando ela chegou, me passou um rádio. Dei recomendações de mãe, coisa normal. Ela brincou e disse: ‘Ok, patroa’. Foram as últimas palavras que ouvi dela.”
Amigos do casal disseram a Rosana que o suspeito e sua mulher não brigaram durante o churrasco. A discussão que terminou no assassinato ocorreu já na madrugada do dia seguinte, no apartamento deles, na Rua Barrânia, no Jabaquara.
Segundo a polícia, o homem esfaqueou a ex-modelo e, em seguida, tentou se matar. De acordo com a delegada Lisandreia Colabuono, da 2ª Delegacia da Mulher, o irmão do autor do crime encontrou os dois. A modelo já estava morta e o marido, inconsciente. Ele havia perdido muito sangue. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o suspeito permanecia no sábado (14) internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, também na Zona Sul.
Foi descartada a possibilidade de participação do irmão do suspeito no crime, segundo Lisandreia. Após ser liberado do hospital, o homem deverá ser encaminhado para a carceragem do 26° Distrito Policial, no Sacomã, e responderá por homicídio qualificado.
O filho do casal agora vive com os avós maternos. Eles disseram já ter entrado na Justiça com o pedido de guarda do garoto. Por enquanto, ele pergunta pouco pelos pais. No sábado, quando o menino viu o carro de Babila sendo manobrado e disse “mamãe”, seu avô, com pesar, respondeu: “É a vovó que está no carro. A mamãe está no céu”.
Agora, Rosana se esforça para realizar um sonho de sua filha: a festa de aniversário de 2 anos do neto em um bufê infantil. “Mexendo nas coisas dela, meu esposo encontrou, grudado na certidão de nascimento do menino, algumas notas de dinheiro com um bilhete escrito: ‘Para o bufê do meu filho’”, contou Rosana. “Minha filha era apenas uma comerciante e dona de casa. Ela queria só ter uma pequena família feliz.”
Pais mostram foto da filha; agora, a atenção do casal está para o neto órfão (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
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