Douglas conta que Alex era amigo e uma pessoa querida. Ele era conhecido como "Sangue". O paraquedista profissional era considerado pelos colegas um dos melhores do Clube de Paraquedismo. “Ele era o sangue bom. Era o cara mais legal da área”, diz o piloto.
O piloto afirma que percebeu a gravidade do acidente antes mesmo de pousar. “Eu já sabia que era fatal”, lamenta.
O piloto ainda muito abalado está no Paraná, onde mora com a mulher e com a filha. Ele diz não entender como atingiu o amigo. “Parece um pesadelo, parece que não é verdade que ele morreu. Ele era um paraquedista muito experiente, muito bom no que fazia. Era um cara com quem eu tinha muita confiança em trabalhar”, declara Douglas.
O paraquedista Alex Adelmann foi atingido pela asa do
avião quando ainda estava em queda livre.
(Foto: Reprodução Rede Globo)
Alex tinha 34 anos. Saltava desde 94. Ele era tetracampeão brasileiro de paraquedismo e também ganhava dinheiro fazendo saltos duplos - profissional que salta junto com alguém que queira viver a experiência.
Dois dias antes de morrer, Alex gravou um vídeo para o Fantástico. Alex saltou com Antonio, que tinha prometido pular de paraquedas, caso o Corinthians fosse campeão da Libertadores. Antes do salto, o instrutor tenta acalmar o paraquedista novato. “Chegou a hora Tony, vamos lá doutor”, disse.
Na segunda-feira do acidente, Alex foi convidado pelo diretor da Confederação Brasileira de Paraquedismo para outro trabalho. Ele iria gravar, com uma câmera no capacete, um salto duplo. Mas a tragédia acabou com a missão.
Segundo o piloto, depois de decolar, o avião subiu em círculos, por cerca de doze minutos, até uma altura de 3,6 mil metros. Quando o último paraquedista salta, o avião embica para baixo, numa manobra conhecida como mergulho. O avião fica inclinado, quase que em queda livre. O piloto faz uma curva para a esquerda e desce em círculos.
A equipe do Fantástico acompanhou uma dessas manobras de dentro de um avião parecido com o do acidente. A equipe registra o tempo de descida da aeronave com as manobras. O pouso leva apenas quatro minutos. Um terço do tempo da subida.
No dia do acidente, o piloto Douglas Leonardo já havia feito outros dez voos levando paraquedistas. O voo com o Alex foi o décimo primeiro. Douglas explica que depois de lançar os paraquedistas, adotou os procedimentos recomendados como padrão. “Foi feito como todo dia. A gente lança o paraquedista e livra o nível e inicia a descida em círculo para pousar. Eu iniciei uma curva para esquerda, cinco a dez segundos depois senti o impacto”, explica Douglas.
Logo depois do salto, Douglas começa a descida. Vira e volta em direção aos paraquedistas. A asa esquerda acerta Alex. Com o choque, ele foi jogado contra os outros dois homens que faziam o salto de instrução. Wanderson de Andrade e Conrado Álvares tiveram as pernas quebradas e pousaram em segurança. Um dispositivo de segurança abriu o paraquedas de Alex que caiu no chão desacordado.
Mesmo com o estrago na asa e com problemas no comando do avião, Douglas conseguiu pousar.
Quando questionado sobre o que pode ter acontecido, Douglas afirma: “Aconteceu o improvável. Se eu tivesse tentado atingir ele muito provavelmente eu não teria conseguido. A chance é mínima de atingir alguma coisa com o avião em voo”, diz Douglas.
Em depoimento à polícia, o piloto revelou dois fatos que podem ajudar a entender as causas do acidente. Primeiro: Douglas não sabia que o salto começaria sem um equipamento que diminui a velocidade da queda dos paraquedistas, porque não conversou com eles antes do voo. “A gente subiu e a gente por acaso não tinha se falado nesse voo. Mas a gente se falava em todas as decolagens”, conta. Douglas disse ainda que na forma como desceu não pôde ver os colegas. Ele perdeu a referência de distância que tinha dos paraquedistas.
Para o presidente da Associação de Pilotos de Aeronaves, George Sucupira, isso é um erro. “Eu jamais iria lançar alguém sem saber o que estava acontecendo”, diz.
Mesmo sem saber os motivos da tragédia, os donos dos aviões de paraquedismo de Boituva resolveram mudar as regras para o pouso. “Ninguém mais desce em curva, eles mergulham agora em linha reta, porque eles têm que descer rápido e têm que buscar o outro grupo que está esperando” afirma Fabio Alvim Brandt, dono do avião.
Mas, para o presidente da Associação Brasileira de Paraquedistas, em Manaus, Jorge Derviche Filho, o mergulho não deveria ser realizado. “Aqui é um local que não ocorre essa prática. A posição da Confederação Brasileira de Paraquedismo em relação a essa prática do mergulho é contrária. Ela não recomenda. Porém, não proíbe porque não tem instrumentos para isso”, diz Jorge Derviche Filho.
Sucupira, da Associação de Pilotos, discorda. “É uma manobra radical, mas não é perigosa”, comenta.
A permissão de Douglas para lançar paraquedistas e o certificado médico do aeronauta estavam vencidos. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ele não poderia estar pilotando. A Anac pode agora puni-lo com multa, suspensão ou até mesmo cassação da carteira de piloto.
Quando questionado sobre o futuro da carreira, Douglas afirma: "Eu não sei fazer outra coisa da vida. Eu nunca pensei em fazer outra coisa desde que eu era criança, eu só quis isso. Então eu não sei se eu consigo fazer outra coisa”, declara Douglas.
A mulher de Alex espera uma resposta sobre o que aconteceu. Ela também é paraquedista e conheceu o marido durante um salto. Ela conta qual era a sensação de saltar com o marido. “Não dá nem para explicar. É a sensação melhor na minha vida. O Alex mudou a minha vida”, diz Solange Majoros.
A asa do avião ficou danificada após atingir o paraquedista. (Foto: Reprodução TV Tem)
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