Transferido às pressas no último dia 7 de Tangará da Serra, a 242 quilômetros de Cuiabá, para receber atendimento especializado na capital, o estado delicado de saúde do menino evoluiu para perda da atividade cerebral, um quadro irreversível.Para atestar a morte cerebral, a equipe médica seguiu um protocolo que inclui exames laboratoriais, neurológicos e um terceiro que mede o fluxo de sangue nas artérias do cérebro.
Após a confirmação da morte cerebral, o corpo do menino continua sendo mantido na unidade por aparelhos até a família decidir se vai autorizar a doação dos órgãos da criança.
Sessões de tortura
Laudo médico incluso no inquérito policial que investiga o caso aponta que o garoto sofreu fraturas dentárias, lesões nos órgãos sexuais, traumatismo craniano, fratura na coxa direita e um quadro grave de desnutrição. Para a delegada Liliane Diogo, da Polícia Civil, os agressores utilizaram um objeto semelhante a uma barra de ferro ou de madeira para torturar a criança.
Os pais foram presos em flagrante no dia 31 de dezembro e são apontados como principais suspeitos, informou a delegada, “com base nas provas, depoimentos de testemunhas e outras diligências”. Antes da criança ser diagnosticada com morte cerebral, os pais foram autuados pelos crimes de tortura qualificada e estupro de vulnerável. Agora, também terão que responder na Justiça pelo crime de homicídio.
Ainda segundo a delegada que investiga o caso, para esconder as agressões, a mãe do menino, de 26 anos, disse que ele se feriu ao cair no chão após uma crise convulsiva. Porém, vizinhos do casal disseram à polícia que era comum ouvir o choro do garoto. A babá da criança também informou que o menino sempre apresentava hematomas pelo corpo e quando era questionado sobre a origem dos ferimentos ele dizia, segundo ela, que tinha apanhado da mãe.
A família do pai disse à polícia que não presenciou nenhuma agressão cometida por ele contra o filho. Porém, segundo o delegado Daniel Vembramel, que conduziu parte das investigações, o pai, de 21 anos, aproveitava os momentos em que ficava sozinho com o filho para abusá-lo com o consentimento da mãe, que era omissa. "Nesse momento, deveriam ocorrer os abusos", salientou o delegado.
Sensação de impotência
Emocionado com a morte da criança, um dos responsáveis pela transferência da vítima de Tangará da Serra para Cuiabá, o conselheiro Devair Rodrigues disse ao G1 que a perda do garoto gerou uma sensação de impotência. “É a primeira vez que morre uma criança atendida por mim. Ele foi o primeiro caso de violência contra criança que eu cuidei em 2013. Brigamos na Justiça e conseguimos a transferência dele para cá [Cuiabá] e hoje o cérebro dele não funciona mais”, disse entre lágrimas.
Devair adiantou ao G1 que a família é favorável à doação de órgãos do menino. “Um tio do garoto disse que se o pior acontecesse ele não seria egoísta em não ajudar outras crianças doando os órgãos do sobrinho”, destacou.
A Polícia Civil identificou um aumento de 37% no número de crianças e adolescentes vítimas de violência no estado em 2012. No referido ano, 619 procedimentos de investigação foram instaurados contra 470 em 2011.
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