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Nacional
Sábado - 20 de Julho de 2013 às 08:47

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Com o marido em casa, Lindalva lembra as dificuldades que passou para enterrar o joelho em Poá. (Foto: Carolina Paes/G1)


Com o marido em casa, Lindalva lembra as dificuldades que passou para enterrar o joelho. (Foto: Carolina Paes/G1)

Com o marido em casa no dia em que ele recebeu alta do hospital, Lindalva Batista dos Santos fala com mais tranquilidade de um assunto que tirou o sossego da família de Poá (SP) durante esta semana: o sepultamento de um joelho. A amputação foi a segunda sofrida por José Evangelista dos Santos na mesma perna em pouco mais de um mês. Primeiro foi tirada a parte inferior do membro e nesta semana o joelho. As duas cirurgias foram feitas na Santa Casa de Suzano por causa de uma inflamação nos ossos. A diferença é que desta vez, para desespero da família, o membro foi entregue pelo hospital em uma caixa de papelão. "Ficamos morrendo de medo e com receio de pegar uma doença. O joelho estava infeccionado. Imagina as bactérias que deviam estar naquela caixa? Em um primeiro momento minha filha pensou em abrir a caixa de papelão, mas depois acabou desistindo", explica Lindalva.

Para não guardar na geladeira, Lindalva diz que deixou joelho em mesa do lado de fora em Poá. (Foto: TV Diário; notícias; jornalismo; Poá; joelho; enterro)


Para não guardar na geladeira, Lindalva diz que
deixou joelho em mesa do lado de fora.
(Foto: Carolina Paes/G1)

Para tentar evitar a contaminação, a caixa foi enrolada em um plástico e o membro passou a noite em cima de uma mesa, do lado de fora, segundo Lindalva. "Muitas pessoas falaram para eu guardar na geladeira. Que horror! Nem pensei em fazer isso. Fiquei com medo!"

Santos teve alta na tarde de sexta-feira (19), três dias depois da última operação. A família só conseguiu sepultar o membro na quinta-feira (18) no Cemitério Municipal da Paz, em Poá, um dia após receber o joelho.

O paciente diz que nunca teve problemas com a Santa Casa, mas a notícia da nova amputação e, principalmente, o descaso com o membro retirado, foram um baque. "A gente passa por tanta coisa difícil. Como se não bastasse passar pela cirurgia e pelo pós-operatório, minha família ainda teve que se virar para sepultar meu joelho. Fiquei sem saber o que pensar quando me contaram", diz.

Contaminação
A coordenadora do curso de biomedicina de uma universidade de Mogi das Cruzes, Cássia Regina da Silva Neves Custódio, alerta para o risco de contaminação desse material para o ser humano. “Quando um membro é amputado é porque ele já está em um estado de necrose. As bactérias que estão nos tecidos já vão ajudá-lo a se decompor mais rápido que o normal. Quem manipular esse tecido corre risco, porque ele solta liquido que contém microorganismos.”

Caixa onde joelho foi enviado para a família (Foto: Fernando Mancio/TV Diário)


Caixa tinha etiqueta com identificação do paciente.
(Foto: Fernando Mancio/TV Diário)

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "um órgão amputado somente deve ser repassado ao paciente ou aos familiares caso esses tenham requisitado o membro. Caso contrário, compete ao Serviço de Saúde o descarte desse membro."

Lindalva diz que não recebeu orientações no hospital. "Em todo lugar que ia buscar informação as pessoas ficavam inconformadas com a história. Todos os policiais, o delegado de Poá e os funcionários da funerária ficaram abismados", explica.

Inconformada, Lindalva decidiu procurar a polícia. Um boletim de ocorrência foi resgitrado por ela na tarde desta sexta-feira (19). "Fiz o boletim para poder entrar com uma ação contra a Santa Casa. Vamos processar pelo transtorno que tivemos ao ficar com o joelho do meu marido por um dia. Quem sabe assim isso não acontece mais com ninguém", afirma Lindalva.

Esposa carrega o joelho do marido em Poá de um lado para o outro em busca de solução. (Foto: Fernando Mancio/TV Diário)


Lindalva fez ficou um dia com o joelho.
(Foto: Fernando Mancio/TV Diário)

Caso de polícia

O boletim de ocorrência foi feito pelo delegado de plantão de Poá, Denis Miragai. Segundo ele, como o caso foi no município de Suzano o boletim será encaminhado para a delegacia do município, onde devem seguir as investigações. A princípio, o caso foi enquadrado na lei de transplantes de órgãos. "Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de forma irregular é crime. Em um primeiro momento, a entrega do membro amputado à família indica uma infração administrativa. O crime de órgãos só será comprovado após uma investigação e a reunião de mais elementos", afirma o delegado.

A pena para este tipo de crime, segundo Miragai, é de 6 meses a 2 anos de reclusão ou multa. O valor é estipulado pela Justiça.

Procedimento correto
A Anvisa orienta que "os resíduos dos serviços de saúde devem ser gerenciados conforme os procedimentos estabelecidos pela Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Anvisa n. 306/2004, assim como pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente, n. 358/2005".

A agência ainda informou que em caso de membro amputado, após o registro no local de geração, deve ser encaminhado para sepultamento em cemitério ou para tratamento térmico por incineração ou cremação, em equipamento devidamente licenciado.

A Santa Casa de Suzano informou nesta sexta-feira (19) que quando o paciente sofreu a primeira amputação a família foi orientada e recebeu a documentação necessária para dar andamento aos procedimentos e a funerária retirou o membro na unidade. Já na segunda cirurgia, segundo o hospital, "os familiares receberam a mesma orientação, no entanto compareceu à unidade o filho do paciente que recebendo as devidas orientações, manifestou que ele mesmo iria levar o membro amputado até a funerária para dar prosseguimento ao sepultamento. Em momento nenhum o filho do paciente ou qualquer membro da família recebeu orientação para levar o membro para casa, uma vez que todos já haviam passado pela mesma situação um mês antes."

Entenda o caso
O joelho de José Evangelista dos Santos foi retirado durante uma cirurgia na Santa Casa de Suzano na terça-feira (16) por causa de uma inflamação no osso. Segundo a família, o membro foi entregue sem nenhuma explicação por uma enfermeira na quarta-feira.

“Eles ligaram na quarta-feira (17), pedindo para irmos à Santa Casa. O meu filho foi até lá e chegou em casa com o joelho na caixa. Ele disse que uma funcionária pediu para ele assinar um papel, mas não disse o motivo. Depois entregou a caixa para ele”, contou Lindalva.

O filho, Wellington dos Santos explicou que o papel que ele assinou era uma autorização de amputação. "Assinei este documento e ela me entregou a caixa", detalhou.

Lindalva também disse que ainda que ligou no 190 e o policial ficou espantando com a pergunta. “Eu expliquei a situação e perguntei o que faria com o joelho. O policial disse que eu não devia ficar com ele e disse para eu ligar para o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) e denunciar o caso para a imprensa.”

De acordo com a família, José Evangelista dos Santos foi atropelado em 2000. Desde então, ele sofre de osteomelite aguda, que é a inflamação aguda dos ossos, em uma das pernas. Lindalva Batista dos Santos contou que em 12 de junho de 2013 ele amputou a perna na Santa Casa de Suzano. “Os médicos preservaram o joelho para ele usar uma prótese, mas no dia 24 de junho ele foi internado com a doença no joelho também”. Então, no dia 16 de julho, foi feita no hospital a amputação do joelho.

As duas cirurgias foram feitas na unidade 2 da Santa Casa, segundo a família, mas o paciente está internado na unidade 1, para onde voltou depois de cada operação. Ela destacou que na primeira amputação o procedimento foi outro. “Eles nos deram um papel para levarmos até a funerária que depois foi buscar a perna na Santa Casa e, então, fizemos o sepultamento.”





Fonte: Do G1

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