A vida dos outros É bom ficar vigilante para não ter saudades depois da vida livre que temos hoje
Em virtude de uma relevante contenda judicial que estou envolvido, há anos, e por injunções maquiavélicas, tive o meu sigilo telefônico rompido e não sabia e nem tinha como sabê-lo.
Eu somente fui tomar conhecimento da situação quando a pessoa contratada para fazer o serviço sujo, deu com a língua nos dentes e afirmou, para provar o que fez, que eu tinha “uma tosse seca noturna”.
Este relato é para dizer que, nesta era digital, ninguém está a salvo ou tem sua privacidade preservada, pois tudo pode ser vigiado e devassado. Eu disse tudo! Não acredite se alguém disser em contrário!
Evite, quando o assunto for delicado, de usar os meios de comunicações. E mesmo que estiver falando pessoalmente, cuide para que a conversa não esteja sendo gravada ou transmitida. O que estou dizendo parece uma paranoia, mas, por favor, acautele-se, pois cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
O Grande Irmão que era o Estado Vigilante de todos os passos dos cidadãos, imortalizado no livro 1984 de George Orwell, com o avanço da tecnologia, pode ser qualquer pessoa que tenha algum interesse em você que está me lendo. Enfim, ninguém escapa!
O magnifico filme alemão - A vida dos Outros, ganhador de Oscar de filme estrangeiro - disponível na Plataforma Brasil Paralelo é a retratação de como agia o Estado na Alemanha Oriental, um pouco antes dela desabar, como todo o Leste Europeu participante do Pacto de Varsóvia liderado pela Rússia, no início dos anos 90 do século passado.
A polícia política daquele Estado – a temida Stasi – não brincava em serviço e punha todo aparato Oficial para cuidar da vida das pessoas e, no caso, é um casal suspeito de práticas anticomunistas. Naquele sistema tudo era submetido aos interesses oficiais do partido ou do estado que este dominava. Os contrários deviam ser vigiados e, de preferência, presos e ou liquidados.
A trama do filme se desenvolve neste ambiente sombrio de medo, repressão, submissão e severa vigilância, mostrando o modus operandi dos seus agentes que vai da tortura, a ameaça e a inflexível vigilância, em prol do Estado que prega o bem-estar de todos e, para isto, não tem qualquer limite ou escrúpulo.
O desdobramento do filme é curioso e interessante, e o seu desfecho é surpreendente. Vale a pena ser visto!
Quando existem correntes, no Brasil, que defendem o Estado Totalitário, com o controle de tudo, a defesa de práticas violentas como a tortura etc., é bom saber que esta turma é formada por gente autoritária que não tem empatia e o mínimo de respeito pela vida dos outros. O filme dar uma cruel assertiva de como e onde tudo desemboca.
É bom ficar vigilante para não ter saudades depois da vida livre que temos hoje, evitando que entremos pelos ínvios caminhos da escuridão, pois nela ou dentro dela não há salvação. A história não pode e não deve continuar se repetindo, como um universo de realismo fantástico de Garcia Marques. Filme como este, nós já vimos e não deixou saudades.
Renato Gomes Nery é advogado.
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