Traumas não causam câncer
Antes de começar a discorrer sobre a relação emocional e o surgimento do câncer, se é que existe uma, é importante ressaltar que sou uma médica radioterapeuta que trabalha com a ciência, mas reconhece os poderes de cuidar do corpo e do bem-estar como aliados no tratamento.
Dito isso, trago para vocês uma postagem na rede social que me deixou muito preocupada, que inclusive tinha milhares de comentários e compartilhamentos. A publicação dizia: “para a medicina germânica, tanto a recidiva quanto a metástase, é uma resposta do corpo mediante um conflito biológico, de ordem emocional, algo vivido de forma traumática e inesperada”. Fiquei muito preocupada com o que vi.
Atenção, a chance de o paciente apresentar metástase não tem cunho emocional. Determinados tipos de cânceres têm maiores chances para dar a metástase em determinados órgãos, e isso é a história natural da doença. Não há nada nas pesquisas que mostram essa relação, não há nada na ciência que determine isso, nada mesmo!
Se fosse assim, uma pessoa com vida saudável e “feliz” não teria câncer, e as pessoas “amargas”, por exemplo, desenvolveriam a doença. Não há relação, nem nexo, o que diz essa postagem, porque a gente sabe que o câncer se desenvolve da mutação das células e não uma relação causal entre algum problema emocional ou trauma que a pessoa tenha vivido.
Independente da sua fé, esses dias eu ouvi uma passagem bíblica que se encaixa perfeitamente ao que disse acima.
¹ Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. ² Seus discípulos lhe perguntaram: "Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?". ³ Disse Jesus: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele. 6 Tendo dito isso, ele cuspiu no chão, misturou terra com saliva e aplicou-a aos olhos do homem. (João 9: 1-3, 6)
As palavras mostram que uma condição não depende de seus pecados, tal como uma doença não depende dos seus traumas. Deus tem um motivo para tudo e Ele encontra diversas maneiras para manifestar Suas obras em nossas vidas. Saber que uma pessoa está em tratamento oncológico, e dar a ela uma causa que surge de si mesma, é mostrar uma falta total de conhecimento e, acima de tudo, falta de empatia. Essas situações, inclusive, remetem-me à depressão, que as pessoas tentam “justificar” a doença como falta de Deus.
Como médica, peço a todos que não compartilhem informações equivocadas e que respeitem o momento do paciente, ele está em um processo delicado e o emocional pode ficar abalado. Lembrando que o cuidado emocional deve ser um aliado do paciente, ou de qualquer pessoa na verdade. O bem-estar, o crer em algo e entender que tudo tem um propósito, independente de religião, são pilares e razões para lutar todo dia.
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