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Opinião
Quarta - 22 de Março de 2023 às 03:42
Por: Renato de Paiva Pereira

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Um amigo meu tem uma mulher mandona e autoritária. Ela o obriga a lavar roupa, cuidar das crianças, limpar a casa e cozinhar nas folgas da empregada.

Outro dia - ele me contou - a funcionária doméstica faltou e a mulher ligou para o serviço dele pedindo que saísse mais cedo para fazer o almoço, antes de pegar as crianças na escola. Ele retrucou que não podia, pois o chefe atual era chato e linha dura.

-- Você não é homem pra enfrentar seu chefe? Disse ela, eu vou ligar pra ele?


-- Pelo amor de Deus, replicou meu amigo, o chefe não é mais aquele cara do PT que aliviava a barra pra todo mundo aqui na repartição.

Mas ela não se convenceu. O jeito foi enfrentar o chefe: era mais fácil que contrariar a mulher. Sugerir que a esposa pedisse uma folga ao seu (dela) patrão não era uma opção.

Eu não aguentaria uma coisa dessas. Se fosse comigo faria uma comida ruim, limparia a casa de qualquer jeito nem arrumava a cama. Porque eu não tolero desaforo.

Não sou que nem esses homens panacas que obedecem cegamente à mulher. Eu contesto, argumento, retruco, não recebo ordens assim sem mais nem menos.

Minha mulher sempre me ajudou a cuidar das crianças, nunca me obrigou a cozinhar, limpar a casa, lavar roupa sozinho. Faço isto porque gosto e ela sempre valoriza esse meu lado cooperador quando discutimos a relação. Nós adoramos uma DR.

Pensa que ela vai me mandando assim varrer a casa e lavar a louça? Para cada coisa tem que haver uma explicação, isso eu exijo. Mesmo porque isso é uma característica de minha turma, que os sociólogos chamam de Geração Y ou millennial.

Domingo passado eu só fiz os serviços da casa porque ela tinha combinado com as amigas ir à inauguração de uma nova casa de Cerveja Artesanal. Mas não me esqueceu. De lá mandou um Whatsapp muito carinhoso e chegou em casa muito alegre.

Nós dividimos racionalmente o serviço lá em casa. Durante a semana a empregada cozinha e limpa a casa e eu levo e busco as crianças na escola e a cachorrinha uma vez por semana no pet shop.

Sábado é meu dia de cuidar da casa e domingo o dela. Só que domingo ela está tão cansada que a gente come fora e eu limpo a casa. Numa boa, porque sei que ela adora a casa bem limpinha.

Sábado passado eu queria tomar uma cervejinha com os amigos, mas ela não deixou.

Não deixou é forma de dizer, claro: argumentou que já tinha marcado uma saída com as amigas, mas não era por isso, podia muito bem desmarcar.

Sua preocupação era com minha saúde. Três anos atrás eu fui ao boteco e a cerveja não me caiu muito bem. Desde então ela sempre se lembra disso quando eu quero sair porque se preocupa muito comigo.

Agradeço aos céus por ainda existirem mulheres assim.

Deus me livre de conviver com esposas mandonas, autoritárias e opressoras.

É reconfortante saber que algumas ainda admitem dividir pelo menos parte do trabalho doméstico conosco, aliviando nossa dupla jornada.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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