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Mirella Duarte
Terça - 11 de Março de 2014 às 10:33
Por: Ana Maria Ferraz de Campos

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Em 1975, por meio de um decreto, foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que dia 08 de março seria comemorado o Dia Internacional da Mulher. Data que inicialmente seria como um reconhecimento da luta feminina para melhores condições de trabalho, incluindo cargas horárias menos extensas e salários mais dignos em suas respectivas funções, que naquele período ainda eram direcionadas em sua maioria nas indústrias.

Todavia há quem questione o porquê de não se comemorar o ’Dia Internacional do Homem’, com a mesma intensidade, já que os mesmos sempre trabalharam. Pois bem, antes que achem que estou afirmando que mulheres são mais importantes que os homens, deixem-me afirmar que admiro os homens, assim como admiro mulheres que trabalham de forma honesta incansavelmente todos os dias. Agora, vamos discorrer sobre esta data e para que isso não seja entendido como injustiça, todos saibam que este ‘privilégio’ é por sinal uma data extremamente irônica, pois expressa exatamente o contrário do que se é proposto.

Para uma análise mais objetiva, vamos analisar o tema em nível de Brasil, cenário adequado, já que de 195,2 milhões de habitantes, 51,5% são mulheres enquanto 48,5% do total são homens. No entanto, será que esses números ajudam as mulheres a terem algum tipo de prioridade?

No mercado de trabalho, em um país onde não se comemora o dia dos homens, eles ganham até 66% a mais do que as mulheres, segundo pesquisa feita pelo Estadão Dados, com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, referente aos últimos anos. 

Número por sinal, mais “recompensador” do que ganhar flores ou felicitações em um dia especial não é mesmo? Afinal, este é inclusive o mesmo salário que poderia financiar e garantir mais qualificação, estudos e inevitavelmente mais espaço para concorrer a uma vaga mais valorizada dentro de qualquer empresa. O que de fato, se torna mais difícil quando além de ganhar menos, uma mulher ajuda nas despesas do lar, além de cuidar dos serviços domésticos e demais serviços, considerados como ‘tarefas femininas’ pelos mesmos conceitos que fortalecem a desigualdade salarial.

Em um país com grande potencial econômico, mesmo que bem ou mal aplicado às necessidades da população, foi constatado por um relatório de Desigualdade de Gênero, divulgado em outubro de 2013, pelo Fórum Econômico Mundial, que o país está entre os mais desiguais do mundo. Isso porque nesta pesquisa, o Brasil ficou em 117° lugar em desigualdade salarial, com avaliação feita entre 136° países, considerando o mesmo nível de escolaridade entre os sexos ou ainda entre mulheres com o nível mais alto do que grande parcela do público masculino avaliado.

Em outras palavras se é que dá para parecer mais assustador o país que homenageia suas mulheres e estampa em campanhas no mês de março que a mulher é essencial para o mundo, é o mesmo país que está por menos de 20 posições para ser primeiro em desigualdade no mercado de trabalho.

Essa comemoração teoricamente direcionada para as mulheres, tem como o único ganhador o comércio. Não que este enfim, seja o culpado pela desigualdade social, mas é inegável que não seja uma das ferramentas que fomenta ainda mais a escravidão feminina, não apenas pelo que se trata da dependência em busca da aprovação, para que ela esteja sempre bem vestida, em forma e maquiada, mas mascarando a necessidade de coisas realmente relevantes para que a felicidade seja dada, além do consumo, como a valorização profissional, por exemplo. Mas como se não bastasse o mercado ser desonesto e a mídia massacrar, a sociedade condena.

Condena quando a violência de um marido para com sua esposa é justificada, afinal “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Condena quando aponta o tamanho da roupa de uma vítima de estupro, “O que ela fazia com aquela roupa provocante?”. Condena quando prefere reconhecer uma mulher pelas medidas do corpo do que pelas suas qualidades, “Ela é inteligente, mas para ter este cargo deve estar saindo com alguém”. Condena e justifica o sofrimento, a morte e a intolerância, disfarçada de moralismo todos os dias.

Morte, palavra forte que há quem ache que é exagero, mas os números não mentem. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que divulgou em outubro de 2013, dados sobre a violência contra a mulher, o Brasil registrou, entre 2009 e 2011, 16,9 mil feminicídios, mortes de mulheres decorrentes de conflito de gênero, que são os crimes cometidos por parceiros íntimos ou ex-parceiros das vítimas.

Número crescente e que indica uma taxa de 5,82 casos para cada 100 mil mulheres. Índices que não precisam de nenhum especialista para distinguir a naturalização da violência contra a mulher, caso contrário não seriam tão altos. Violência cometida dentro do próprio núcleo familiar ou por assassinos já conhecidos pela vítima da família, tratadas como rotineiras e que não causam mais estranhamento entre a sociedade. Basta ler os comentários dos sites de notícias ou prestar atenção na reação de quem acompanha o noticiário enquanto se exibe uma notícia sobre esse tipo de violência. Violência é violência, não importa de onde ou de quem tenha partido.

Mas o que isso importa, enquanto se tem uma data especial, não é mesmo? O importante é o império da beleza, veneração das curvas, mesmo que isso estimule inconscientemente que a mulher nunca esteja satisfeita com a própria aparência. Compre e rejuvenesça, use e fique mais magra, pague e mantenha-se bem. Vendido o direito da felicidade, quase convence que o gosto de viver não pode ser concedido além do corpo, acordar e esperar ser empilhada, como um produto que acorda todos os dias prestes a ir para a ‘ponta de estoque’.

Por mais audacioso que pareça, além das campanhas, cartões e rosas, me atrevo a dizer que toda mulher sonha com menos datas comemorativas e mais igualdade social, liberdade de ir e vir, segurança, respeito e principalmente por justiça que não se justifique por nenhum tipo de discurso. Justiça que a defenda independente de qualquer coisa. 

Mulher que enfrenta uma batalha a cada manhã, que sua força não seja desperdiçada. Mulher de luta, hora de acordar. Mas antes que eu me esqueça: Você é incrivelmente forte e mesmo que essa data não lhe traga benefícios: Lute e liberte-se. Feliz dia da mulher!

Mirella Duarte

Consultora de Mídias Sociais e Estudante

Universitária do 8° semestre de Comunicação Social - Jornalismo.




Comentários (2) Faça um comentário

  • Aires José Pereira
    Jardim Das Flores, Araguaína - TO
    FALTA DE CONSCIÊNCIA Uma peste chamada vizinho Um vizinho totalmente desgraçado Que me irrita aos pouquinhos Com a desgraça de seu som ligado. O cara é um verdadeiro babaca Coloca seu som lá nas alturas Com uma merda chamada risca faca Ou mesmo carnabosta Com forró de terceira categoria Acabando com minha alegria De viver em paz na minha própria casa. O rolo compressor cheio de merda Penetra em minha casa Sem pedir licença E deixa-me muito irritado A ponto de eu se lembrar da lei do silêncio Existente em outras cidades Onde imbecis têm que obedecê-la Caso contrário, terão suas prisões decretadas, Além da apreensão de seus sons malucos! A lei por aqui ainda vai demorar Talvez, nem apareça, mas vou lutar Para que as autoridades competentes Tenham mais consciência E façam com isto se civilize, Caso contrário, a desordem tende a imperar. Aires José Pereira é mineiro de Salinas, poeta por gosto e por pirraça que acredita nas palavras transformadoras de homens e de espaços. Possui 12 livros editados e vários artigos publicados em eventos científicos e Revistas de Geografia. É licenciado e Especializado em Geografia pela UFMT, Mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Doutor em Geografia Urbana pela UFU. É Prof. Adjunto A do colegiado de Geografia do Campus Universitário de Araguaína - UFT; Membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense; Pesquisador do NURBA e coautor do Hino Oficial de Rondonópolis - MT.

    Domingo - 17 de Agosto de 2014 às 08:39h Responder
  • Aires José Pereira
    Jardim Das Flores, Araguaína - TO
    SEM PERSPECTIVAS Sem tempo, Sem teto, Sem nada, Sem lenço, Sem documento, Andando pela calçada Somos partículas de pó Sobrevoando a invernada De outros tempos passantes, Após uma tempestade de sonhos Em que tudo parecia nada Fazendo piruetas no ar. Em cada olhar passante Descobrem-se outros horizontes Meio a tudo isso Ficamos no prejuízo mais uma vez, Sem lenço, Sem documento. Sem perspectiva de um mundo melhor, Apenas vendo o trem passar, Depois de um dia de sol quente. Aires José Pereira é mineiro de Salinas, poeta por gosto e por pirraça que acredita nas palavras transformadoras de homens e de espaços. Possui 12 livros editados e vários artigos publicados em eventos científicos e Revistas de Geografia. É licenciado e Especializado em Geografia pela UFMT, Mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Doutor em Geografia Urbana pela UFU. É Prof. Adjunto A do colegiado de Geografia do Campus Universitário de Araguaína - UFT; Membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense; Pesquisador do NURBA e coautor do Hino Oficial de Rondonópolis - MT

    Terça - 25 de Março de 2014 às 13:18h Responder

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