Arenápolis News - arenapolisnews.com.br
Gabriel Novis Neves
Sábado - 15 de Fevereiro de 2014 às 17:14
Por: Gabriel Novis Neves

    Imprimir


Nossa gente sempre gostou de cultuar figuras folclóricas da cidade. Com o tempo muitas delas se transformaram em mitos.

De todas as figuras folclóricas da minha infância citarei apenas três. Elas caíram no agrado popular e são reverenciadas até hoje. Pelas suas peculiaridades são consideradas precursoras da modernidade.

São eles: “General Saco”, “Peteté” e “Maria Taquara”.

O “General Saco” era um morador de rua esquizofrênico crônico. Passava o dia todo discursando nos lugares onde havia público. Vestia-se com um paletó cheio de velhas medalhas sem nenhum valor grampeadas no casaco. Algumas delas eram simples tampas de cerveja.

Ganhava parcos cruzeiros (moeda da época) dos pacienciosos cuiabanos para a sua manutenção. A população se divertia com o seu chato palavrório, origem do seu apelido “General Saco”.

“Saco” era uma expressão muito usada naquele tempo e significava paciência.

Morreu onde viveu - na rua. Nunca despertou a compaixão nem a solidariedade de ninguém. Serviu de diversão e deboche para a sociedade.

O “Peteté” era um oligoide, negro e andarilho, apesar de manco. Perambulava por aí elegantemente trajado e sempre com um leque – ou abanico – nas mãos. Falava “tatibitate”, tinha a língua presa, origem do seu apelido. Fazia a alegria da criançada com o seu linguajar, vestuário e trejeitos comportamentais extravagantes.

Finalmente, a mais famosa das personagens das ruas da minha meninice – “Maria Taquara”. Transformada em mito após o seu falecimento com direito póstumo a ser nome de praça com a sua escultura.

Quando viva, essa mulher magérrima, de corpo fino tal uma taquara, desfilava sem roupa no meio das ruas de Cuiabá, falando alto frases desconexas, incompreensíveis e causando pavor às crianças, que se agarravam com força ao corpo dos adultos que as acompanhavam.

Hoje essa cena seria impossível de ser vista, pois a polícia prenderia a pobre e necessitada mulher por atentado violento ao pudor.

Transformada em mito, é considerada uma mulher exemplo de comportamento libertário, a ser seguido como modelo pelos jovens.

“Maria Taquara” foi uma mulher que nunca contou com a compreensão ou com solidariedade humana da nossa população. Uma doente emocional abandonada à própria sorte.

Carinho. Sentimento que nunca esteve presente aos mitos que criamos.

Gabriel Novis Neves




Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/816/visualizar/