O mundo sob ameaça nuclear
Os dias 6 e 9 de agosto últimos completaram 65 anos dos lançamentos das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, respectivamente. Os artefatos foram despejados sobre as cabeças de centenas de milhares de seres inocentes para que a emergente potência mundial – os Estados Unidos da América – provasse ao mundo ao que estava vindo como país imperialista e competidor palmo a palmo com a outra potência, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Foi com ela, a URSS, que por 50 anos os EUA travariam uma guerra surda e ensurdecedora ao mesmo tempo; “limpa” e suja concomitante; e quente e fria ao sabor de outra guerra, a ideológica. Destruir duas cidades inteiras quando a máquina de guerra do império japonês já apresentava seus estertores, significava mais ditar uma supremacia do que exigir uma rendição incondicional. Pois bem, passadas essas seis décadas e meia o mundo viveu sobressaltos e soluços e conviveu com outras guerras na esfera da grande Fria que meteu-se, vide Coréias, Vietnam - o resto da Indochina (Laos, Canboja e outros horrores do Apocalipse Now) -, Argélia, Congo, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Zimbabwe, África do Sul, Cuba, Nicarágua, El Salvador, Palestina e muitas outras batalhas de libertação e assaltos da reação que não caberiam neste breve espaço.
Vinte anos depois da queda do famoso Muro, emblemático para o dito “enterro” do socialismo e do comunismo, nem se fala, e com eles o “fim” da tal Guerra Fria, o mundo vive agora ameaça maior. Um breve apanhado do que se processou nessas duas últimas décadas nos defrontam com mais e mais rapinagens. O mais grave, no entanto, é que esses conflitos estão deixando de ser expressões maiores da luta política e se incorporam como negócios em si. E como tal, vão além de conquistas e dominações e passam a ser produtores de lucros em essência, descaradamente, mesmo que ao custo de até milhões de seres humanos.
Este, porém, é apenas um dado a mais na insanidade que se transformou a indústria bélica nesses tempos de neoliberalismo. Atualmente, guerras de grandes proporções ou conflitos tidos como “menores” em outras partes – sem falar nos golpes de estado financiados pelos Estados Unidos aos moldes das décadas de 60 e 70 – indicam que a queda do Muro e a suposta sepultura da Guerra Fria são falsos no cotidiano dos conflitos de interesses capitalistas.
Mais grave ainda é a identificação de que, com capacidade de destruição do planeta Terra uma dezena de vezes, o arsenal atômico dos Estados Unidos e seus aliados (aqui incluso o banditismo israelense) está sempre pronto a ameaçar os que ousam desobedecer o império. Se há 65 anos a rebeldia louca dos kamikazes justificariam a insanidade dos que ordenaram o ataque do Elona Gay, o que se dirá agora que observamos outros povos soberanos não dispostos a se renderem aos ditames de quem se considera a polícia do mundo.
Estados Unidos, Israel e seus serviçais europeus não teriam nenhum pudor a enquadrar “rebeldes” como Irã, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela – entre outros que consideram do “eixo do mal” – mesmo que para isso tenham que lançar mão da bomba atômica. Ou no mínimo de suas poderosas “armas convencionais” com poder de destruição tão ou maior que os artefatos despejados sobre centenas de milhares de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças em Hiroshima e Nagasaki.
* João Negrão é jornalista em Cuiabá
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