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Opinião
Domingo - 19 de Setembro de 2010 às 00:26
Por: Juan Quirós

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Foi grande e justificado o alarde que se fez ante a recente divulgação de que a remessa de lucros das multinacionais constituiu-se na principal causa de o País ter registrado este ano o pior resultado, desde 1947, nas suas contas externas no acumulado do primeiro semestre. Mais grave ainda é a estimativa do Banco Central de que os ganhos expatriados podem superar o Investimento Estrangeiro Direto (IED), alcançando US$ 32 bilhões no final do exercício, o que significaria crescimento de 27% em 12 meses.

Alegaram-se distintos e pertinentes motivos para o preocupante fenômeno, dentre os quais a lentidão das nações desenvolvidas na recuperação de seus mercados nesse período pós-crise, levando as matrizes das companhias a aumentar a “retirada” em suas filiais. No entanto, em meio a todo o burburinho em torno do tema, esqueceu-se de uma questão crucial nessa discussão: qual volume de recursos tem sido repatriado pelas unidades de empresas multinacionais brasileiras que operam no Exterior?

A pergunta provavelmente não foi feita porque não há resposta. Ninguém parece ter-se preocupado em compilar esses dados, pois certamente eles devem ser irrisórios se comparados ao fluxo financeiro internacional. Acontece que apenas 14 brasileiras compõem a lista das cem empresas das nações emergentes classificadas como potenciais concorrentes das multinacionais de países desenvolvidos, conforme divulgou o Boston Consulting Group, no Fórum Econômico Mundial/2009, em Davos, na Suíça.
      
É muito pouco para a nona maior economia, a primeira a vencer a crise de 2008 e 2009, uma das que mais têm crescido este ano e que conseguiu incluir mais de 30 milhões de pessoas na sociedade de consumo na presente década. Não se trata aqui de fazer a ingênua ilação de que, de imediato, a repatriação de lucros das multinacionais brasileiras poderia compensar o fluxo inverso. Porém, em pouco tempo seria possível, sim, multiplicar o volume de ingresso de recursos provenientes dessa fonte, de modo que se tornassem mais expressivos no conjunto de nosso balanço de pagamentos.
      
Para isso, entretanto, seria fundamental democratizar as oportunidades para que número expressivo de empresas emergentes brasileiras pudesse inserir-se de modo mais assertivo na economia nacional e global. São muitas as que já alcançaram padrão mundial de eficiência e qualidade, tendo totais condições de investir, conquistar mercados e manter filiais ou subsidiárias em outros países.É muito importante para o Brasil, com o auxilio do BNDES, consolidar empresas globais. Mais significativo, ainda, é criar uma base mais ampla de grandes e médias empresas nacionais que também possam participar de maneira ativa desse processo. Um país como o Brasil não pode ter só 14 companhias representativas e estas não podem inibir o crescimento de numerosas empresas emergentes, que pedem e querem igualdade de tratamento.
        
A concentração de contratos e financiamentos para poucos pode inibir o crescimento do Brasil no futuro. É bom lembrar que uma classe média forte equilibra socialmente um país. A mesma situação apresenta-se para as empresas. As que têm talento querem seu espaço. Já é hora, portanto, de o mercado nacional, incluindo o setor público, lançar-lhes um olhar mais congruente com suas virtudes e potenciais. A maior alavancagem interna seria sólida base para a sua inserção internacional.

Com o crescimento previsto para o País, de 4% a 5% ao ano nos próximos exercícios, haverá auspiciosa demanda, principalmente nas seguintes áreas:  varejo e na venda de bens de consumo, na esteira da ascensão da classe C; infraestrutura, em decorrência do cronograma de obras para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016; e no setor de petróleo e gás, com o início da exploração das jazidas do pré-sal. Cerca de R$ 500 bilhões deverão ser investidos na infraestrutura brasileira nos próximos quatro anos.

É óbvio que as grandes multinacionais brasileiras têm espaço garantido na divisão do suculento bolo de obras. Contudo, da mesma forma que políticas públicas e o ambiente de negócios permitiram que milhões de pessoas fossem incluídas na sociedade de consumo, é decisivo que às empresas emergentes sejam dadas oportunidades mais amplas e concretas no plano interno, para que ganhem o mundo e contribuam para a definitiva e soberana inserção do País na economia globalizada.


*Juan Quirós
é presidente do Grupo Advento e vice da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).



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