A corrupção censurada
Não causou o menor espanto a decisão de veto, anunciada minutos antes do início do debate realizado sábado (25/09), em Cuiabá, entre os candidatos ao governo de Mato Grosso. No alto de seu "poder", os organizadores da mencionada discussão de idéias, sem justificativas, simplesmente proibiram que o assunto ‘corrupção’ fosse abordado pelos candidatos.
Uma pena. Mas nada novo.
Em Mato Grosso temos uma das mais longevas censuras à imprensa de que se tem notícia. E o cerceamento de liberdade (de comunicar e de receber a informação) tem a ver exatamente com a corrupção.
A coisa funciona assim: determinados políticos, mesmo enrolados na justiça por suas cleptomaníacas relações com o erário, são tratados como deuses, por setores da imprensa. Em retribuição, os "vendedores de opinião’ recebem mensalmente polpudas quantias de verbas publicitárias. "Por dentro" e ‘por fora".
Mas a censura do tema "corrupção" nos debates entre os postulantes ao Paiaguás traz um prejuízo irreparável ao poder de decisão do eleitor para formar sua convicção. O "dies ad quem" do processo eleitoral (3 de outubro) se aproxima. E tem muita coisa que poderia ser esclarecida, se o debate não sofresse a famigerada censura.
Exemplifiquemos.
O "Secomgate" foi um assalto às verbas publicitárias, cujos autores são eméritas figuras de governos recentes, e que rendeu (com o lucro) uma grande rede de comunicação, com rádio, tevê e jornal. Da noite pro dia o império nasceu, e hoje (des) manda em nossos políticos.
Investigando o sumiço das verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em busca do paradeiro de 700 milhões de reais destinados à construção de casas, redes de água e esgoto, a polícia chegou a figuras da política. Identificados os meliantes (autoria), faltou a recuperação do butim (materialidade), e a vítima (povo) continua sem água encanada. Mas o PAC em Cuiabá e Várzea Grande, graças à corrupção, empacou de vez!
E não é apenas e tão somente isto (como diria o humorista!).
Tem o vergonhoso escândalo do "Mato Grosso 70% equipado" (30% é propina), que sangrou os cofres do Estado em mais de 44 milhões de reais. Em estado de flagrância, alguns meliantes desandaram a chorar. Outros riem da nossa cara até hoje.
E o que dizer da compra de um Partido Político (nas eleições de 2008) por 400 milhões, até hoje não esclarecida a origem da grana e quem prometeu o pagamento? E o desvio de 9 milhões de reais do Senar (verba federal), de dinheiro destinado a comprar livros a crianças da área rural?
O interessante é que esses escândalos indignam o Alexandre Garcia (Tv Globo), mas são proibidos de citação entre os candidatos a governador. Os deputados que enriqueceram ao lado do Arcanjo, a ele entregando cheques (da Assembléia Legislativa) em branco, alguns inclusive recebendo pensão (uma espécie de aposentadoria) milionária paga com recursos públicos, mereciam explicar-se ao povo.
E os candidatos que recebem aposentadorias da Assembléia Legislativa, do Governo, do Tribunal de Contas, da Câmara do Senado, deveriam explicar a "mágica" aos velhinhos que morrem nas filas do INSS.
Interessante é que os protagonistas dos escândalos do passado são candidatos novamente, agora beneficiados com a censura ao tema (corrupção), nos debates.
Alguém merece isso?
Vilson Nery e Antonio Cavalcante Filho são militantes do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) Comitê de Mato Grosso.
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