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Opinião
Segunda - 04 de Outubro de 2010 às 08:00
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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Toda eleição tem sua própria história. O primeiro turno de 2010 tem, como ingrediente exótico, a eleição do palhaço Tiririca, para a Câmara dos Deputados, com quase 1,4 milhão de votos, mais do dobro da votação obtida pelo segundo colocado. É preciso tentar entender qual a mensagem que o eleitor pretendeu transmitir. Tiririca fez uma espécie de anti-campanha, recorrendo a elementos da cultura circense, classificando-se como “abestado” e chegando a dizer que não sabe o que faz um deputado. Usou, inclusive, o bordão onde dizia que, votando nele “pior não fica”. Com isso, suplantou a todos e deixou do lado de fora muitos pesos-pesados da política paulista. Seria a reedição do “cacareco”, o simpático rinoceronte em quem, nos anos 50, o povo carioca descarregou seus votos de protesto?

 Independente da campanha fora do convencional, a sociedade e principalmente a elite política tem de entender que Tiririca, a partir de agora, é deputado federal e carrega consigo a representatividade da sua expressiva votação. Como sobrevivente que é – conseguiu fazer sucesso no circo e na tv – espera-se que tenha condições de fazer um bom mandato.

A classe política vem, há tempos, amargando a silenciosa censura do povo-patrão. A eleição do próprio Lula, primeiro a deputado e depois a presidente da República, representou uma ruptura aos conceitos tradicionais de se fazer política neste país. E hoje, Lula é um dos governantes mais bem avaliados da história brasileira. Depois tivemos a eleição de Clodovil e, hoje, a de Tiririca. Todos fora do convencional, mas bafejados pelo povo.

Com a avalanche de votos que o levam até Brasília, Tiririca tem tudo para se tornar uma importante referência política. Seu mandato, sem qualquer dúvida, será um grande desafio pois terá de cumprir as obrigações parlamentares, políticas, partidárias e protocolares, mas não poderá deixar de ser o palhaço em quem o povo votou porque, se abandonar a indumentária, correrá o risco de um fiasco nas próximas eleições.

Muitos artistas, futebolistas e celebridades que se elegeram revelaram-se políticos medíocres a ponto de não terem como pleitear uma nova candidatura e até de renunciar ao mandato antes do seu término. Mas nenhuma dessas figuras teve, até agora, uma votação do tamanho da de Tiririca. Espera-se que, para o seu bem e o da própria sociedade, tenha ele condições de desempenhar um bom trabalho e,até, interpretar para as elites políticas, o pensamento do povo que o elegeu. Se conseguir, mais uma vez, o sucesso lhe será garantido.

No gesto simbólico de eleger o palhaço, o povo pode estar emitindo muitas mensagens que precisam ser corretamente entendidas e, principalmente, colocadas em prática. É importante entender o recado enquanto, ainda, ele é transmitido de forma pacífica. Cientistas, caciques, elites, estejam atentos...

 
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br   



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