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Opinião
Sexta - 15 de Outubro de 2010 às 11:53
Por: Kleber Lima

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Há dos tipos básicos de estratégia de marketing: o da esperança, baseado no estímulo à crença que dias melhores virão; e o do terror, sustentado na imposição do medo e na ameaça ao público-alvo com punições caso não aja segundo determinados mandamentos. É quase o mesmo sobre a pedagogia da recompensa (faça isso que lhe dou aquilo) e a pedagogia do medo (faça isso senão lhe dou tal castigo).

A primeira é o tipo clássico nas campanhas eleitorais, ao qual já estamos mais familiarizados, por ser o tipo padrão empregado no Brasil. Em geral, os candidatos e/ou partidos baseiam seus discursos na oferta da esperança de que a vida das pessoas vai melhorar, seja na saúde, educação, segurança, cultura, moradia, em oportunidades de emprego ou mesmo de ganharem mais dinheiro, etc. Quando os vários candidatos adversários adotam essa mesma estratégia, em geral vencem aqueles que criam mais esperança ou que oferecem o sonho já sonhado pela maioria dos eleitores ou que tenham mais credibilidade para fazer o que prometem.

Ainda nos causa muita estranheza, todavia, a estratégia do terror. Menos usual, ela rende resultados em situações bastante específicas, em geral quando a estratégia da esperança falha, não convence.

Este ano, contudo, estamos diante do uso da estratégia do terror na sua forma mais primitiva. Ela produziu efeitos aterradores em Mato Grosso, sepultando de uma só tacada duas candidaturas ao Senado: a de Carlos Abicalil, o alvo da estratégia, e a de Antero de Barros, seu protagonista.

Não se esperava, porém, que essa estratégia tomasse conta do segundo turno das eleições presidenciais, como agora se verifica, com a elevação do tema do aborto como pauta principal do debate entre os presidenciáveis.

É verdade que não chega a ser uma novidade tal estratégia. Todos se lembram da cara de pavor da Regina Duarte no horário nobre da TV durante a campanha de 2002 dizendo que tinha medo do futuro do Brasil caso Lula vencesse. Todos também se lembram da tentativa de reeditar essa estratégia este ano, quando os tucanos se diziam temerosos com o futuro do Brasil presidido pela “ex-terrorista” Dilma.

Contudo, não foi o currículo da Dilma que causou prejuízo à sua campanha. Foi a inoculação de um corpo estranho à pauta nacional, sabidamente o falso debate sobre o aborto e a liberdade religiosa.

Primeiro que aborto não é um tema mais relevante que economia, emprego, mobilidade social, saúde, segurança, educação, política externa, soberania nacional. Pelo menos não deveria ser.

Mas, está assumindo esse papel devido à leviandade tucana, articulada com o que há de pior, de mais reacionário e retrógrado das castas religiosas nacionais, e com o tempero fundamental (ou seria fundamentalista?!) da hipocrisia da nossa antiga classe média, que, movida pelo preconceito e pelo ódio, nunca aceitou ser governada por um operário “apedeuta” - e ainda por cima aleijado, que gosta de uma cachaça da pura -, muito menos da obra desse “desclassificado” que trouxe para a sua companhia nos shoppings e nas lojas de carro zero, nas salas Vips dos aeroportos e nas agências bancárias, essa gente parda, que mal se equilibra sobre os saltos e sapatos novos, que ainda usa desodorante spray, e que agora também é chamada de classe média!

Essa união perfeita do preconceito com o fanatismo e o vale tudo eleitoral está forçando o Brasil a dar marcha à ré na história, restaurando o teocentrismo, reconduzindo a igreja ao comando do Estado, emburrecendo gente high-tech com diploma universitário. Mas, como a diferença entre veneno e antídoto é a dose, talvez resida nessa investida criminosa da igreja contra a candidata Dilma Roussef uma oportunidade de, finalmente, o Brasil poder instituir de fato, após as eleições de outubro, um Estado efetivamente Laico, deixando à igreja apenas sua missão divina de cuidar da alma das pessoas que assim o desejarem.


* KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.



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