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Opinião
Quinta - 11 de Novembro de 2010 às 11:09
Por: Gabriel Novis Neves

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O cara acabou de morrer e segundos depois estava na recepção do céu sendo atendido por São Pedro. Enquanto esperava pelo procedimento burocrático - exigência para os novos moradores -, distraiu-se com lindas imagens jogadas em dois telões mostrando o dia a dia no céu e no inferno.

O Santo portador da Chave do Céu, após consultar e anotar toda a documentação do novato chegante, pergunta-lhe:

- O senhor prefere ficar hospedado no céu ou no inferno? O senhor tem créditos para a escolha.

Diante das belezas das imagens do inferno, jogadas no telão, e a “sem-graceira” do céu, o esperto cidadão, que na terra foi político, não vacilou:

- São Pedro, eu quero ficar no inferno!

O Santo Apóstolo então lhe indica a “porta do desejo” e lhe entrega o Regimento do Inferno - que ele lê avidamente.

- Pera aí, São Pedro! Este não é o inferno que eu vi na telinha não!

São Pedro lhe esclarece então que o que ele viu foi o Horário Eleitoral Gratuito, pois haveria eleições no inferno.

- Que decepção! - exclamou o novo hóspede.

Não se passaram nem trinta dias do segundo turno das nossas eleições presidenciais e verificamos que tudo que assistimos pela TV foram invenções tecnológicas com efeitos especiais.

Durante meses ouvimos juras de amor dos candidatos, com promessas de resolver todos os nossos problemas.

Milhões de novos postos de serviços seriam criados, com o desaparecimento do desemprego. O drama da saúde pública seria resolvido, sem que isso indicasse a cobrança de novos impostos. A educação e os exames do ENEM freqüentariam a galeria dos nossos mais caros troféus. As maiorias e as minorias sociais seriam respeitadas. O meio ambiente seria a nossa bandeira do desenvolvimento sustentável.
E para coroar este cenário, a Copa do Mundo de 2014!

Aeroportos estilo asiáticos, mobilidade urbana de século XXII, alegria popular com o novo salário mínimo quintuplicado. Valorização do mérito e renovação dos nossos dirigentes. E muito, e muito mais, nos vários PACs e Bolsas.

Terminou o programa eleitoral e a primeira grande notícia dos avanços que virão por aí: o retorno do imposto sobre a saúde, a tal da finada CPMF! Ninguém durante a conquista do voto tocou no assunto.

Na manhã do novo governo ganharemos de Papai Noel esse imposto, conhecido como o Imposto do Cheque.

Meu Deus! Logo esse negócio que não deu certo vai voltar como prioridade? Para nós não vale aquele ditado - “Pau que nasce torto, torto será”?

Conversei com o pai da CPMF, professor Adib Jatene.

- O problema principal para se resolver a grave situação da saúde pública no Brasil é falta de financiamento público. Falta de dinheiro - falava o professor. - A minha proposta é de se cobrar por tempo determinado esse imposto; com os obrigatórios repasses constitucionais, sairíamos da triste realidade.

Este era o discurso do Dr. Jatene.

A Medida Provisória foi enviada ao Congresso Nacional e reeditada por anos a fio. O cirurgião de coração iria fazer uma revolução na saúde pública do Brasil. Talento, competência e determinação não lhe faltavam.

O que fez o governo? Fechou a torneira dos recursos constitucionais repassados pelo Tesouro da União. Em termos de aumento de recursos para a saúde, o governo federal trocou seis por meia dúzia.

Doutor Adib Jatene volta para São Paulo frustrado. A saúde pública no Brasil continua na UTI.

Depois de sepultado, pelo Congresso agora me aparecem com essa história de reencarnação do Imposto do Cheque.

Está confirmado o estelionato eleitoral com a volta do Imposto do Cheque, cuja vítima maior foi o povo de boa fé!


Gabriel Novis Neves (7.5+127)



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