A emenda carro-chefe de campanha
É importante observar às falas dos parlamentares-candidatos a reeleição. Ainda que tenha passado o período eleitoral. Tarefa necessária. Independentemente do momento em que a realiza. Embora se saiba que o ideal é realizá-la durante o processo eleitoral. Este, uma vez passado, não afasta a necessidade de fazê-lo. E, quando se tem tais falas, com o propósito de analisá-las, percebe-se nitidamente a ausência de propostas.
Constatação que preocupa. Não apenas ao estudioso ou analista. Mas, evidentemente, a todos. Preocupa porque a dita falta favorece, sobremaneira, os propósitos pessoais ou grupais. Tanto que reforça o personalismo da disputa, assim como igualmente se vê na briga pelas cadeiras do Executivo - municipal, estadual e federal. O que empaca a vida democrática.
Democracia, como se sabe, pressupõe a predominância dos anseios da coletividade. Indiferente a isso, entretanto, se posicionam os postulantes aos cargos eletivos. Posicionamento que é disfarçado. Escamoteiam-no com tamanha maestria que somente alguns poucos podem visualizar o disfarce adotado. A ponto da imensa maioria dos eleitores "engolirem" promessas em lugar de propostas partidárias de trabalho ou de ação.
O pior de tudo, no entanto, é perceber que muitas das promessas, que deveriam ser feitas tão somente por candidatos à chefia do Executivo, são também defendidas pelos postulantes ao Legislativo.
Isso provoca uma enorme confusão "na cabeça" do eleitorado não-escolarizado, bem como na de muitos tidos como alfabetizados, inclusive com diplomas de cursos superiores.
Quadro complicado. Agravado com as falas de campanha dos candidatos à reeleição. Estes as recheiam com as emendas no orçamento. Vendem, pois, a ideia de que a indicação de emendas é a única função do parlamentar. Aliás, no Estado, tem deputado reeleito com o "discurso" de ter "conseguido" verbas para um e/ou outro município.
As emendas, tanto as de bancada como as individuais, são relevantes. Permitem que as prefeituras construam determinadas obras, as quais seriam impossíveis tendo em vista a condição financeira da maioria das prefeituras. Porém, transformar a "obtenção" de tais verbas como "carro-chefe" de campanha é, no mínimo, subestimar a capacidade do eleitor.
Infelizmente, o dito parlamentar-reeleito não vê as coisas dessa forma. Importa-lhe apenas manter-se na cadeira. Ainda que inexista projeto algum de sua autoria tramitando na Casa de Leis, nem participação substanciosa nas comissões - quaisquer que sejam elas - e, tampouco, se vê ou tem registro de sua presença no plenário. Pouquíssimas foram as vezes, nos últimos quase quatro anos, que o dito representante da população mato-grossense usou a tribuna, igualmente se valeu dos apartes. Instrumentos importantes no cotidiano parlamentar. Nem ao menos para defender o governo, uma vez que faz parte da ala situacionista por "achar mais fácil de trabalhar". Frase entre aspas, certa vez, pronunciada por Sua Excelência. O "mais fácil trabalhar" tem uma conotação bem clara. Afinal, os situacionistas sempre tiveram maior trânsito nos ministérios, sobretudo no que tange a liberação de dinheiro para os municípios e o Estado.
Explica-se, portanto, parte da sua expressiva votação em 2010. Quase o dobro da quantidade de votos conquistada em 2006. Surpresa geral. Principalmente para quem está de olho nos trabalhos desenvolvidos por cada parlamentar. Olhar bastante diferenciado do eleitor-distante, que vê Sua Excelência como "verdadeiro" representante. Ainda que, na realidade, não o seja.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br
Comentários